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O Dinheiro e a coerência. Por Luis Fernando Amstalden

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angêlica

Há algum tempo atrás, Roberto Carlos, um dos “reis do Brasil”, protagonizou uma propaganda na qual, ele, supostamente vegetariano a muito tempo, pedia um filé em um restaurante. O cineasta Fernando Meirelles comentou em seu Twitter que Roberto nem chegou a cortar o bife e não o teria comido, mantendo seu vegetarianismo. Ainda segundo Meirelles em posts de 27/02.2014 na sua conta do Twitter, comentava-se que o contrato para a propaganda teria sido de R$ 25 milhões. O “rei”, claro, negou. Disse que nunca foi vegetariano e apenas que evitava carne vermelha. Mas nos últimos tempos, por “sugestão do médico”, voltara a comer uma ou duas vezes por semana. Por “coincidência” o frigorífico ficou sabendo da recomendação e o procurou para fazer o comercial. O fato é que pegou mal o frigorífico acabou por rescindir o contrato o que valeu um processo de Roberto em 2014.

Mais recentemente voltou a acontecer. A ex apresentadora de programa infantil e atual segundo escalão da programação televisiva, Angélica, que dizia não comer carne vermelha a 27 anos e muito menos carne de porco, gravou um comercial com seu marido Luciano Huck (também do segundo escalão televisivo) no qual morde um cachorro quente com salsicha, segundo o fabricante, feita com carne suína… Luciano Huck, que eu saiba, não era vegetariano, mas é Judeu. Chegou a fazer uma propaganda nas páginas de uma revista semanal segurando um “shofar” (uma espécie de trombeta feita de chifre de carneiro usada nas celebrações judaicas). Oras, ocorre que a religião judaica proíbe o consumo de carne de porco e lá estava Huck participando do churrasco “em família”, como diz a propaganda, com carne suína…

Temos que considerar o fato de que talvez Angélica nunca tenha sido mesmo vegetariana ou ainda que tenha mudado de ideia. Todos temos o direito de mudar. Temos que considerar, ainda, que Huck talvez não seja um Judeu praticante. Pode simplesmente ter nascido nesta religião mas não a praticar, como tanta gente de outros credos. Mas tanto no caso deles quanto no do “rei” o que fica claro é a comercialização da imagem. Mesmo que eles tenham mudado ou não sido totalmente uma coisa, venderam caro a imagem da “mudança”, mesmo que isso tenha significado uma quebra de valores por eles pretensamente professados.

Na verdade não devemos nos surpreender. Mesmo séculos atrás, “vender” seus princípios, liderança ou imagem era comum. Se há algo de diferente hoje é a facilidade com que se vende e se “muda para vender”, pouco significando seus princípios e valores reais. Parece que, nesta sociedade “líquida”, os princípios se tornaram mercadoria mais corrente, mais fácil de se trocar e vender. O que realmente me surpreende, porém, é que mesmo nestes tempos onde “tudo o que é sólido se desmancha no ar”, algumas pessoas e grupos mantém a coerência, os princípios e os seus valores, mesmo deixando de ganhar. Foi o que fez, como noticiado pelo jornal “ A Tribuna Piracicabana” no dia 25/02/15, a ONG “Casa do Amor Fraterno” que resolveu deixar o mega evento “Festa das Nações”. Deixou porque o grupo atende jovens e crianças carentes e, na Festa, circulam muitas crianças e adolescentes assim sob o efeito de álcool. A ONG avaliou que não era coerente com seus princípios manter uma barraca (a da França) em um evento em que o que eles reprovam se repete. Não deve ter sido uma decisão fácil, já que, segundo a reportagem, a maior fonte de renda vinha da festa.

Mas é exatamente aí que está a preciosidade do ato. Eles, por coerência com seus valores e objetivos, abriram mão do dinheiro e se colocaram em situação de fragilidade econômica. Eu não conheço o trabalho da ONG e nem os seus líderes e voluntários. Mas penso que, tomando uma atitude tão bela e corajosa como esta, eles são provavelmente a ONG mais correta e confiável da qual já ouvi falar. Segundo a reportagem da “Tribuna”, eles tentarão fazer uma festa própria. Se fizerem, eu, que não costumo aparecer em eventos assim, vou. Também farei uma pequena doação, dentro de minhas posses, para eles. Afinal, em tempos em que gente com muito mais dinheiro, como o “rei” e o casal da “segunda divisão” vende abertamente sua coerência, a ONG “Casa do Amor Fraterno” é uma joia rara que merece meu apoio, respeito e admiração.

 

PS: se você também acha que a atitude da Casa do Amor Fraterno agiu com coragem e coerência, compartilhe este post e mande seu apoio a eles pelo site: http://www.casadoamorfraterno.com.br/index.asp


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O Universitário e a arrogância. Por Luis Fernando Amstalden

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Foto divulgação da internet

Foto divulgação da internet

No dia 27 de fevereiro passado, em Santo André –SP, o estudante Eduardo Baionne participava de uma festa de república de alunos da UFABC (Universidade Federal do ABC) quando decidiu sair para urinar no portão da casa de Ítalo Paschoalini, de 82 anos. O idoso teria se irritado e discutido com o estudante que continuou a urinar apesar das reclamações. Ítalo alega ter pego uma mangueira de água e molhado Baionne e que este o teria imobilizado com uma “gravata” e depois desferido socos contra o dono da casa. O estudante alega ter sido também agredido e não ter socado, mas empurrado o idoso. Alega ainda ter se arrependido e tentado ajudar Ítalo, o que este nega.

Os detalhes, é claro, precisam ser apurados, mas de antemão digo que é estranho um homem de 82 anos, desarmado, conseguir agredir um jovem de 19 a ponto de provocar uma reação tão forte do “agredido”. Também não me convence o fato de que teria sido “somente” um empurrão dado pelo estudante, até porque, os olhos roxos do aposentado parecem ter sido provocados por socos na face, sem contar, é claro, os pontos na cabeça que foram necessários. Por último, Baionne estava errado. Ao ser repreendido pelo dono da casa, não deveria ter discutido e sim subido a braguilha e pedido desculpas. Porém, malgrado meus “estranhamentos”, que eu adoraria ver esclarecidos pela Justiça (a esperança é uma característica minha…), e todos as demais análises e comentários que o fato provoca, uma parte das declarações do pai de Baionne me chamou mais a atenção.

O Sr. Rogério Baionne, saiu em defesa do filho. Disse que “ambos erraram” porque o idoso também “agrediu” e que a família e o filho vêm sofrendo ameaças e que “estão acabando com a vida do filho”. Pais defenderem a prole é normal, embora eu pense que em muitos casos eles deveriam ser os primeiros a punir os filhos, até para protege-los. Se Rogério Baionne tivesse levado o filho à casa do idoso e pedido desculpas assim como tentado reparar o dano, talvez não houvessem ameaças agora. O fato marcante, pelo menos para mim, no entanto, é a declaração final de Rogério Baionne sobre seu filho, publicada no Diário do Grande ABC no dia 03/03/15: Rogério afirmou, dentre outras coisas, que: “As pessoas, nessas horas, nem se lembram de que ele é estudante de uma universidade federal e que se dedicou bastante para estar lá.”.

A questão é: o que raios ser estudante de uma universidade federal tem a ver com o fato? No que isso justifica, ameniza ou até esclarece algo? Com ou sem esforço para entrar na universidade, no que isso se relaciona com o caso? Por um acaso o registro da matrícula é um atestado de idoneidade ou santidade?

A declaração de Rogério Baionne reproduz, na verdade, um estereótipo. O de que os alunos universitários, principalmente os das universidades públicas, são uma elite e, como tal, tem privilégios. Esta é uma visão antiga, do tempo do Império, no qual somente a elite econômica tinha condições de estudar. Reproduz nossa desigualdade, nossos “homens bons” versus o populacho. Eu fiz todos meus estudos superiores na UNICAMP e tenho orgulho disso. Mas mesmo enquanto aluno (e agora mais ainda) eu tinha consciência de que eu era um privilegiado, não uma elite. Eu estudava em uma instituição paga por milhões de paulistas que nunca poriam os pés lá. Para mim na época, assim como para meu círculo de amigos, nós tínhamos (e temos) uma dívida para com aqueles que nos custearam pelos impostos. Uma dívida que devemos pagar produzindo algo de bom, agindo de forma correta, ajudando a promover aqueles que se sacrificaram para nos custear sem nos conhecer. Ainda procuro “pagar” parte desta dívida, tanto profissionalmente quanto no meu comportamento pessoal.

Sr. Rogério Baionne, seu filho teve mérito sim ao passar em um vestibular. Ao ter estudado para isso. Mas este mérito não é só dele, é de todos que custeiam o estudo que ele vai ter. Dentre estes milhões, está o Sr. Ítalo Paschoalini, que paga impostos por cada grão de arroz que come. Seu filho, Sr. Baionne, deveria ter respeitado isso e não ido urinar na casa de quem ajuda a custeá-lo, deveria ter respeitado isso não agredindo um homem mais fraco. Deveria honrar a cidadania e não ofendê-la.

Se você é, foi ou quer ser estudante universitário, principalmente de uma universidade pública, lembre-se de que por mais que tenha estudado, sofrido e se esforçado, você não mantém toda a estrutura da universidade. Você deve a seus pais, claro, que o custearam, mas também aos pobres que pagam sua instituição e não tem acesso a ela. Você deve a todos eles e como você vai amortizar esta dívida, se com humildade ou arrogância, é que vai definir realmente quem você é: uma pessoa honrada ou um canalha…

PS: Tenho quase certeza de que o advogado do estudante vai alegar o fato dele estudar na UFABC para “provar” seu bom caráter, apoiando-se no estereótipo elitista. Querem apostar?

http://www.dgabc.com.br/Noticia/1246089/idoso-de-82-anos-e-agredido-por-estudante-universitario


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Manifestações. Por Luis Fernando Amstalden

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PROTESTO PAULISTA

Até o final da tarde de domingo, dia 15 de março de 2015, mais de um milhão e meio de pessoas saíram às ruas em protesto contra a corrupção e o governo do PT. Eu não fui a nenhuma e, como já expliquei pelo Blog, não por estar satisfeito com o governo de Dilma e do partido, mas porque me recuso a marchar ao lado de alguns que pedem intervenção militar e tampouco concordo com a capitalização política que alguns partidos vem fazendo dos protestos. Mas minha participação ou não participação são o de menos. Conforme já escrevi também no Blog, apoio as manifestações desde que sejam efetivamente contra a corrupção e em favor da democracia (entenda-se sem militarismo).

De fato, creio que muitos dos que estão nas ruas, aliás, a maioria, está mesmo é indignado com os escândalos da Petrobrás e outros muitos e fartos desmandos e irregularidades da política nacional. Sinto esta mesma indignação. O problema é não existem “salvadores da pátria”. Não existem hoje, no Brasil, partidos ou governos que, de alguma forma, não tenham praticado ou sido tolerantes com atos de corrupção, clientelismo político, troca de votos por favores e direcionamento de investimentos para benefício de grandes empresas e grupos econômicos. Quero ver, por exemplo, a continuidade do caso HSBC e quem será apontado nele. Também conforme já escrevi, Antônio Anastasia, do PSDB, está na lista de Janot, citado por ter recebido verbas desviadas da Petrobrás. Creio que os secretários e políticos do PSDB que participaram das manifestações deveriam se ocupar do caso antes de saírem às ruas pedindo o fim da corrupção. A lição começa em casa. Aliás, também para o PT deveria ter começado em casa. Até agora o partido e seus expoentes foram tíbios com as declarações sobre os escândalos e acusações. Pior, fez aliança com notórios corruptos do passado que continuam aí no presente e abriu mão de muitos dos seus melhores quadros por estas alianças.

E é exatamente por isso que penso que tanto o PT quanto o PSDB (e todos os demais) tem grandes débitos para com a sociedade. Que ambos foram e são, no mínimo, tolerantes com atos de corrupção, favorecimento de grupos e atitudes no mínimo imorais. Porque os dois partidos e antes dele o PMDB, para chegarem ao poder, se renderam ao “pragmatismo nefasto”. Quer um exemplo? Renan Calheiros foi do governo Collor, do FHC e agora do PT. Ninguém “abriu mão” de seu apoio. Por que? Porque ele tem uma estrutura eleitoral forte, baseada em relativamente poucos eleitores, dado o tipo de coeficiente eleitoral assimétrico que usamos. Se elegendo sucessivamente, troca, como trocou tantas vezes, de governo, sempre alugando seu apoio. Quer outros exemplos? Tem tantos. Maluf, Collor, família Sarney… se fosse arrolar todos, teríamos uma lista imensa. E desta lista, destes apoios, precisam os governos executivos. Com eles se faz acordos, a eles se tolera, as suas atitudes se aceita. Claro, os partidos do executivo em si têm sim seus podres também e devem responder por eles. Mas o fundamental é que todos se rendem ao “pragmatismo do poder”, pelo qual se aceita o podre em nome de estar no governo. Algo muito parecido com que Maquiavel dizia: “os fins justificam os meios”. O problema é que os meios contaminam os fins e é isso que vejo no Brasil.

Se você é petista, comece a cobrar mudanças dentro do partido. Se é do PSDB, também. Cada um dos partidos tem mais de um milhão de filiados. Se estes filiados realmente querem o fim da corrupção, precisam abandonar a postura defensiva e limpar a própria casa. Se você não é militante de partido algum, continue sim a se mobilizar. Sem isso não haverá mudanças e o jogo político sujo continuará, beneficiado pela apatia da sociedade.

Agora, se você quer mudanças, por favor, seja lúcido no que quer. Não se renda à estupidez de acreditar que um grupo vai ser o salvador da pátria. Se estudar um pouco da história, verá que não existem pessoas ou grupos assim. Existem povos com projetos e organização. Se você quer mudanças, tome cuidado também com o medo histérico, com a boataria. Vá as ruas, mas não se iluda com teorias de conspiração. Esse é um jogo antigo. Hitler, Stálin, Mussolini e outros tantos ditadores e oportunistas já usaram do pânico e da histeria social para chegarem ao poder. Preciso dizer no que deu?

renanfhc

renanlula


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Don Quixote e os moinhos. Por Luis Fernando Amstalden

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Tenho um amigo, destes que também se incomoda com as injustiças, com a política suja e corrupta, a troca de votos por favores. Que se entristece e irrita com o poder dos grandes grupos econômicos que impõem seus interesses sobre todos, a despeito das injustiças sociais ou do prejuízo ambiental. Enfim, um amigo idealista. Mas ele diz que está cansado e desanimado. Ele é daqueles que não fica só no discurso, mas que se expõe, critica, escreve, participa de manifestações, abaixo assinados. Que já deu cursos e palestras de cidadania, vai às escolas públicas para discutir os direitos do cidadão e, principalmente, é coerente em sua vida pessoal. É uma destas pessoas que realmente fazem diferença na luta por um mundo melhor, mais justo. No entanto, está cansado…

Segundo ele é tão difícil lutar e ver, ao final, os mesmos poderosos manobrarem tudo até que toda situação fique na mesma. É pior é ver a indiferença daqueles que teriam até mais motivos para lutar, afinal são ainda mais prejudicados por uma sociedade desigual e injusta. Ele diz que se sente só, tolo, feito um Quixote contra toda a realidade. Que no fim das contas teme acabar como o Fidalgo de la Mancha, velho, pobre, doente e considerado um louco.

Penso que eu entendo bem a situação. Tantas vezes sinto a mesma coisa. A mesma tristeza e vontade de largar tudo e cuidar somente de minha conta bancária, sempre tão vazia. Tantas vezes sinto que tudo o que faço e digo é inútil, que não interessa a ninguém, sejam os fortes ou os fracos. Acho que é normal que ele se sinta assim, bem como tantas outras pessoas que não são egoístas a ponto de cuidar só de seus interesses. No entanto, eu tenho algumas considerações para meu amigo, que faço agora em público.

A primeira é a de que, no fim das contas, não podemos medir o resultado de nossos esforços pelo tempo comum. A vida humana é muito curta, mas a História é longa e as transformações são lentas. Mesmo assim, a mudança acontece. Pense bem, se a dois mil anos atrás alguém dissesse, no Império Romano, que era cruel e injusto atacar outros povos, escraviza-los e usar estes escravos no Coliseu, provavelmente seria considerado louco. Não encontraria muitos ouvidos atentos e não veria mudanças durante sua vida. Sua indignação pareceria vã e causa de mais sofrimento do que de alegria para ele mesmo. Da mesma forma, 150 anos atrás, se alguém no Brasil dissesse que era injusto e cruel trazer africanos como escravos, separando suas famílias, impingindo a eles toda sorte de abusos, seria também ignorado. Penso que em ambos os exemplos quem assim pensasse ouviria dos outros que “tudo sempre foi assim e sempre será, que sempre existiriam escravos e senhores e isso não mudaria”. E, no entanto, meu amigo, mudou. Claro, ainda temos escravos por aí, mas isso não é mais considerado legal e moral, como foi no passado. Isso é considerado crime.

E se mudou, meu caro, mudou porque lá no passado alguns poucos ousaram pensar diferente. Ousaram criticar, lutar por algo distinto. Eles não viram o resultado de suas ideias na prática, mas elas aconteceram. E daí fica a questão, será que se eles não tivessem, lá atrás, plantado estas ideias e a semente de uma outra cultura, hoje teríamos mudado? Será que sem estas ideias tendo sido cultivadas por séculos, não teríamos ainda gladiadores forçados a se matar na arena ou escravos africanos no pelourinho? Creio que, sem um início, sem o germe de um mundo diferente cultivado por alguns, nunca mudaremos de fato. Os “moinhos de vento” que alguns “Quixotes” do passado combateram, foram realmente derrotados ou enfraquecidos.

Em segundo, digo-lhe que se lhe ocorrer que você parece um Don Quixote, fique alegre. Apesar de tudo, poucos personagens da literatura universal foram tão puros quanto ele. Quixote sonhava sim, e sonhava com um mundo que havia acabado. Porém ele sonhava com o que havia de melhor neste mundo findo, ou pelo menos deveria haver. Ele sonhava com a nobreza de espírito, com a pureza, com a verdade que, como cavaleiro, delirava defender. Esta pureza, a meu ver, é que muda o mundo, lentamente. Não muda como um furação ou um terremoto, mas como a água que pingando devagar fura a rocha ao longo dos séculos.

Sua luta poderá construir o futuro, a liberdade e a justiça. O que hoje parece, para a maioria, moinhos de vento inúteis de se atacar, podem, um dia, se mostrarem gigantes reais a serem derrotados. E isso, meu amigo, depende da sua luta, agora, mesmo que você não veja tal futuro.

 

 


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As manifestações e paixões tardias Por Beatriz Vicentini

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Tomando as ruas todas, eles se sentem poderosos. Melhor do que isso, se sentem vivos, como há muito tempo não se sentiam. A multidão que os envolve faz com que eles se sintam parte e cada vez que ela se move em conjunto, berra num imenso coro, reage a algum estímulo, a adrenalina parece dar um novo ânimo a cada um.

            Pesquisas do Data Folha indicaram que nas manifestações do último dia 15, em São Paulo,  a grande maioria, ou 74% dos que ali estavam, participavam de um protesto pela primeira vez na vida. E ao se olhar os registros fotográficos ou televisivos da manifestação, facilmente se identificava grande número de adultos nas ruas, muitos deles provavelmente acima dos 50 anos. Ao contrário das manifestações contra o ex-presidente Collor de Mello, nos início da década de 1990, as mais recentes não se caracterizaram por vozes majoritariamente jovens.

            Quem lida com pessoas que estão envelhecendo sabe o quanto é familiar a elas mecanismos que envolvem sentimentos de exclusão, de menor auto-estima, de se considerarem sem espaço e devidamente valorizados. E, de repente, eis que este grupo descobre o universo das manifestações: nelas eles se igualam, se fazem ouvir em suas reclamações, se sentem revalorizados porque, afinal, se forem milhões, talvez consigam mudar o governo, talvez consigam afastar aqueles que julgam corruptos, talvez retomem benefícios que acreditam lhes tenham sido tirados indevidamente, no processo de envelhecimento e de aposentadorias precoces, mesmo que feitas por vontade própria.

            Certamente não são apenas questões ideológicas ou posturas políticas firmes, consistentes – que poderiam ter eleito outro governo se fossem assim tão amplas como parecem ser quando se vê multidões pelas ruas – que motivaram as manifestações da última semana.

            É preciso se ter olhares mais amplos, que envolvem novos mecanismos de comunicação, de interesses de mídia, de manipulação de grupos políticos – itens cuja reflexão já vem sendo amplamente divulgada. Mas, em minha opinião, há que se considerar também, em parcela significativa do grupo dos que protestam, a descoberta tardia da paixão. Quem, numa etapa de vida caracterizada pelo envelhecimento, nunca esteve anteriormente envolvido em movimentos populares, quem nunca se empenhou em alguma luta onde é necessário se jogar por inteiro, de repente descobriu a adrenalina que dá poder berrar nas ruas, ser ouvido como se importante fosse, ganhar atenção. Ou seja, descobriu como funciona o mecanismo da paixão. Num perfil conservador, como se declara boa parcela dos manifestantes, o normal é manter o status quo, não querer mudanças, se preservar a qualquer custo sem se arriscar a muita coisa ao longo da vida. E, então, de repente, eles descobrem que ser oposição também pode ser bom.

            Paixões nos levam a atitudes impensadas, deliciosas, que dão prazer. Em geral, depois que passam, a gente considera o quanto, objetivamente, fora daquele momento, agiria de outra maneira. Talvez, daqui a alguns anos, muitos destes manifestantes possam reconsiderar suas posturas, que misturam tantos sentimentos estranhos. Quem sabe, até descubram outras paixões, mais pessoais e menos influenciadas pelas multidões que não têm rosto e nem identidade. E, então, não misturem tanto alhos com bugalhos.

Beatriz Vicentini é jornalista e  organizadora do livro Piracicaba 1964 – O Golpe Militar no Interior. Ed. Unimep. 2014


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Os diamantes e a vida. Por Luis Fernando Amstalden

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Costumamos valorizar o que é raro, daí os altos preços do ouro, da prata, da platina e dos diamantes. Claro, eles são bonitos também e no caso dos diamantes, resistentes, com usos industriais. Mas o fato é que, no Universo, diamantes não são tão escassos. Segundo o Dr. Kevin Beines, do laboratório de propulsão a jato da NASA, por volta de mil toneladas de diamantes são criados por ano em Saturno, no nosso sistema solar. Por condições de temperatura, pressão e pela presença de elementos químicos necessários, o cristal literalmente “chove” na superfície de Saturno. Mas não é só lá. No planeta Wasp 12 – b, a mil e duzentos anos luz da Terra, existem massas continentais inteiras feitas de diamante e um outro planeta, 55 Cancri – e, que é duas vezes maior do que a Terra e está a quarenta anos luz daqui, é todo ele feito do cristal, todo ele um grande diamante.

Claro, estão longe demais e hoje são inacessíveis. Na verdade não sabemos se serão acessíveis um dia e mesmo que venham a ser, o que aconteceria se conseguíssemos chegar lá e retirar o minério? Na verdade ele perderia o valor, deixaria de ser raro e então, ficaria barato, muito barato. Confesso que não pesquisei, mas acho que se o fizesse, descobriria que outros minérios preciosos aqui são também abundantes no Universo. Penso que ouro, platina etc, devem existir em grandes quantidades, afinal são apenas elementos químicos que, dependendo das condições, se formam naturalmente como se formaram aqui.

Há, no entanto uma coisa que é de fato muito rara ou parece ser no Universo. Algo que até agora ninguém descobriu em outros planetas e que, embora alguns acreditem que possa existir, até então não existem traços. Esta coisa tão rara é a vida. E não só a vida humana, mas toda ela.

E de fato, ela não é incrível somente por ser aparentemente rara, mas porque é complexa e delicada. Ouro é apenas o elemento químico Au e o diamante uma forma do carbono. Outras pedras podem ter elementos diversos, que alteram a sua cor, mas a vida, a vida não. Ela é muito mais complexa porque consiste de um “mecanismo” auto reprodutivo. Pense bem: um pequeno ser de uma célula só, realiza complexas reações químicas no seu interior. Gera um DNA e o transmite. A composição química e as funções de um único DNA são mais sofisticadas do que a de uma rocha de ouro puro, que é inerte, não se reproduz e não tem consciência. A vida não. Quanto mais complexa, maiores e mais sofisticadas são as reações, funções e inter-relações que o ser vivo mantém dentro de si e com o seu exterior, somado a este exterior os demais seres vivos.

Complexa, sofisticada e frágil. Cada forma de vida depende de condições atmosféricas, climáticas, químicas e de radiação solar específicas. Uma alteração mais intensa e temos a extinção em massa, como já aconteceu antes. Um desequilíbrio entre espécies pode causar o mesmo efeito, alterando relações intrincadas de mútua dependência. A vida não existe por si só e tampouco isoladamente. Ela existe em dependência de condições muito especiais e de outras formas de vida. E estas condições raras, bem como os outro seres vivos, nós temos aqui, na Terra, ao nosso redor, em nós mesmos. Não sabemos, repito, se existe em outros lugares e de que maneira. Sabemos que pode existir, mas não se existe, ao contrário dos diamantes, por exemplo. Aliás, estes últimos nós podemos até fabricar, mas a vida não. Mesmo a manipulação genética só é possível a partir de um DNA já existente. Nós não somos capazes de criar a vida, mas somos capazes de destruí-la, como de fato, fazemos todos os dias.

Já extinguimos espécies inteiras, alteramos outras e, muito mais grave, temos provocado tantas mudanças na Terra que ameaçamos a nossa própria existência, bem como a de bilhões de outros seres. Nós, que somos a vida, não percebemos nossa raridade, nossa fragilidade. Não percebemos que somos dependentes uns dos outros, e isso tanto entre seres humanos quanto entre estes e o restante da vida. Talvez não percebamos até que seja tarde demais para criarmos uma outra ética para com os seres vivos todos. Uma ética que valorize o que é realmente precioso.

A Páscoa é a celebração da vitória da vida sobre a morte. É um bom momento para refletirmos se realmente queremos esta vitória ou, na nossa inconsciência, preferimos o triunfo da morte.

Boa Páscoa.


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A sociologia da novela. Por Luis Fernando Amstalden

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Confesso que vejo muito pouca televisão. Eventualmente, no entanto, acabo por ver trechos de novelas para entender um pouco do que as pessoas falam. Assim já vi vários capítulos de novelas famosas, embora nunca tenha seguido uma até o fim. Mas se há algo que sempre me surpreende é um curioso fenômeno “sociológico novelesco”, principalmente naquelas exibidas pela maior rede de televisão do Brasil. Ocorre que nesta emissora, há uma marcada distinção social no quesito felicidade. Os pobres, geralmente, são mais felizes do que os ricos ou a alta classe média. Um exemplo, havia uma em que se fazia um contraponto. De um lado uma família muito rica cujos destinos se entrelaçavam com uma família de classe baixa. Na dos ricos tudo era problema, traição, drogas, conflitos por dinheiro, mas na dos pobres tudo era alegria, solidariedade. A matriarca da família pobre tinha um bar e nele gravitavam vários outros personagens da “comunidade” (eufemismo para favela ou bairro pobre). Via de regra o bar era agitado, feliz, frequentado por pessoas que tinham lá seus problemas sim, mas muito mais brandos, mais leves e geralmente eram pessoas engraçadas, de bom humor, que contrastavam nitidamente com as do núcleo rico.

Fico pensando no por que desta distinção. Serão mesmo os ricos mais problemáticos e os pobres mais felizes? Óbvio que não. Por um lado, essa polarização se deve ao fato de que os pobres, a maioria da audiência, não querem ver seus problemas na hora do lazer. Eles já vivem muitas dificuldades e após o jantar, quando se sentam em torno da televisão, querem mais é se esquecer de suas agruras e ver as dos outros, principalmente dos ricos que no dia a dia enfrentam menos dificuldades. Querem também sonhar (não é para isso que servem as novelas?) com outra realidade que não a deles, mais bonita, limpa e próspera do que a deles. Daí, claro, não se interessariam por uma exposição da vida dura de quem não tem dinheiro neste país. Eles já conhecem isso. Eles vivem isso.

Por outro lado, desconfio de um outro fator. As emissoras de TV e a imprensa em geral não são neutras. Elas pertencem a grandes grupos empresariais que se beneficiam de baixos salários e, portanto, da desigualdade social e da vida dura de muitos. Logo, para estes grupos e aqueles que anunciam nas televisões, demostrar algo mais real, mais verdadeiro socialmente, não é interessante. Exporia o contraste sobre o qual está assentada a riqueza de muitos. Melhor criar outra imagem, a imagem de um Brasil pobre sim, mas feliz e cujos problemas não vêm da pobreza, mas de “comportamentos inadequados”. Talvez eu esteja errado, mas penso que não. Quer um exemplo? Anos atrás a TV Globo colocou no ar um Globo Repórter cujo tema era a violência no Brasil. No último bloco do programa, mostraram cenas da Índia, com sua extrema pobreza em muitos pontos. A ideia era demonstrar que lá os índices de violência eram baixos, apesar da pobreza, daí não ser a má distribuição de renda a responsável pela criminalidade, mas uma “cultura de guerra” contra uma cultura de paz.

Foi uma manipulação nítida, sem qualquer base na realidade. A Índia é sim um pais violento, bem violento, com crime organizado, extorsão, drogas, assassinatos, estupros, machismo e de quebra uma grande violência religiosa. No entanto a emissora “vendeu” outra imagem, desvinculando a questão social da questão da segurança. Com a novela acontece o mesmo. Criar a imagem da pobreza “feliz” ou menos problemática, é uma forma de criar uma imagem do Brasil que oculta nossa questão social, que é grave, muito grave ainda.

Às vezes, é fato, as emissoras exibem algumas séries mais reais, como “Cidade dos Homens” por exemplo. Mas geralmente isso é bem mais tarde, quando os pobres mesmo não assistem e não podem se identificar. Claro, eles não assistem por vários motivos, alguns dos quais já citei. Mas também porque têm que acordar muito cedo, pegar várias conduções ruins para chegar ao seu trabalho mal pago.


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O país do quê?. Por Luis Fernando Amstalden

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nobelVsMundiais

A julgar pela mídia, há pouco tempo fomos “guindados” para a categoria de “país do surfe”, desde que um brasileiro venceu um campeonato mundial neste esporte. Bem, já fomos o país do futebol (não sei se ainda somos depois do 7×1 da última copa…), já fomos o país do vôlei, da fórmula um e agora, do surfe… Mas do Prêmio Nobel não… isso não somos. A Argentina é, a Colômbia é, o Peru, a Guatemala, a África do Sul, o Egito, o México, a Nigéria e a Índia são, dentre muitos outros, mas o Brasil não. E olhe que alguns destes países são muito menores e mais pobres do que o nosso. Não sei se eles têm campeões de surfe, mas têm prêmios Nobel de ciências, literatura, paz. Ok, podemos argumentar que o Nobel nem sempre tem critérios muito compreensíveis aos leigos para suas escolhas. Mas se formos comparar outros índices relativos a educação e cultura, não encontraremos dados mais animadores.

Será que, como ainda pensam alguns, isso se deve à falta de capacidade e inteligência do brasileiro? Será que, como quer o senso comum, somos hábeis apenas com os pés e não com a cabeça? Eu duvido. Um país continental, com uma grande população como o nosso, tem sim muita gente capaz de grandes feitos científicos e sociais. Faltam outras coisas, o que não acontece com o futebol. Em qualquer lugar encontra-se uma quadra, um campo de futebol, bolas e, ainda que muitos sejam precários, os lugares são compensados pela valorização cultural de pelo menos este esporte. Já boas escolas não são tão comuns, como sabemos, mas penso que há uma outra questão.

Parece-me que além da falta de investimentos e interesse governamental em educação (que estamos cansados de conhecer e que é um projeto político – afinal gente pouco educada não pensa e não exige direitos) existe um outro fenômeno para ajudar a entender nosso atraso cultural. Ocorre que não valorizamos os estudos e a cultura. Explico-me: veneramos ídolos esportivos, matamos e morremos por times de futebol, mas não temos o mesmo apreço coletivo pela cultura e pela educação. Já ouvi tantas vezes que “professor não trabalha”, o que significa que trabalho é outra coisa que não ensinar. Já ouvi que era “fácil dar aulas, o difícil era pegar na enxada” e outras coisas afins, que tenho muito forte esta ideia de que nosso povo, salvo honrosas exceções, não valoriza o estudo. Não foi Paulo Maluf, por exemplo, que declarou certa vez que as professoras de São Paulo reclamavam dos salários porque eram mal casadas?

Talvez eu esteja errado e, de fato, não posso afirmar que minha impressão tenha valor científico. Não pesquiso a área. Mas como professor é essa a sensação que tenho. De que preferimos outras coisas ao invés do conhecimento. Recentemente eu fazia uma revisão para uma turma de faculdade às vésperas de uma prova. Nestes dias não faço chamada e digo que a presença é voluntária, que ficam aqueles que realmente querem rever a matéria. Uma garota, que faz minha disciplina pela segunda ou terceira vez, passou os primeiros quinze minutos deitada na carteira. Depois se aprumou e começou a acessar uma rede social no smartphone. Eu não disse nada, mesmo quando ela saiu da frente, onde se sentava, e foi colocar o aparelho para carregar em uma tomada. Mas então ela me interpela e diz que eu preciso “ajudar a turma, porque só aceito respostas do meu jeito…”. Não é isso que penso fazer, mas o que eu poderia responder a alguém que na revisão olhava para o facebook? Ela não quer aprender. Quer só o diploma. Esta é a visão que a grande maioria dos alunos têm da escola: uma dispensadora de certificados. É a mesma visão que muitas escolas têm de si, só que dispensam o diploma mediante pagamento. Como vou explicar para aquela aluna que só o diploma não significa nada e que o que ela precisa é conhecimento, educação? Caso isolado? Não, infelizmente. Vejo muitos outros, demais, aliás.

Tenho todo respeito pelos esportes e pelos benefícios que eles trazem, inclusive quando levam jovens a se educar, como é o caso de alguns que se fixam nos estudos iniciando pelo esporte. Mas competições internacionais são apenas espetáculos pagos e taças de jogos não geram tecnologia, conhecimento e nem cidadania. Educação gera tudo isso. Mas nós preferimos ser o pais do surfe…


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A dengue, o transgênico e o lucro. Por Luis Fernando Amstalden

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Na década de 1950, grandes empresas anunciaram com orgulho a “revolução verde”. Um “pacote” de sementes, adubos, agrotóxicos e máquinas agrícolas que iria, segundo eles, mudar a agricultura e eliminar a fome no mundo. Com o aval e com financiamentos de governos dos países ricos, milhões de agricultores, principalmente em regiões mais pobres, migraram para a “nova agricultura” para “alimentar o mundo”. De fato a produção aumentou, mas, como mostraram inúmeros estudos e relatórios posteriores, outros problemas surgiram, tais como o envenenamento do meio ambiente, aumento da resistência de pragas, surgimento de outras espécies predadoras das plantas, contaminação humana e animal e concentração de renda nas mãos de grandes agricultores, com a expulsão de pequenos produtores, extinção de sementes nativas e o controle do patrimônio genético de produtos por grandes corporações, dentre outros. A fome continuou porque ela não é uma questão tecnológica apenas, e sim uma questão de como se distribui a produção. O lucro das empresas também aumentou e muito, e este parece não ter dito “efeitos colaterais”.

Com a tecnologia transgênica parece ocorrer um processo similar. Desde que a alteração da estrutura genética dos seres vivos se tornou possível, não faltam os que profetizam uma era de ouro, sem fome, com abundância de produtos e com remédios e outros gêneros baratos. Esta tem sido a principal argumentação utilizada para a liberação de produtos transgênicos, dos quais já consumimos milho, soja e outros. O problema é que, da mesma forma que as técnicas da revolução verde, as variedades transgênicas também podem ter efeitos “colaterais” bem complicados. Um dos principais, para não tomar espaço demais aqui, é o fato de que não sabemos o que pode ocorrer no meio ambiente a partir do momento em que se introduz genes alterados em laboratórios ou inseridos de um ser ao outro por meios artificiais. A vida levou milhões de anos para compor sua formação genética e isso através de um processo de seleção natural no qual os “erros”, os genes que não eram eficientes ou não se relacionavam adequadamente com o meio, foram eliminados. A tecnologia transgênica tem pouco mais de trinta anos e muitas espécies vegetais ou animais transgênicas, são estudadas a vinte, dez anos. É muito pouco para se avaliar a reação futura destes genes na natureza e em relação ao homem.

Estudos como o de Jeffrey Smith (Roleta Genética) demonstram que vegetais geneticamente alterados podem causar doenças e até superbactérias, capazes de resistir aos tratamentos agora disponíveis. Também não sabemos ainda todas as modificações que sementes, pólen e esporos alterados podem causar em espécies na natureza e no equilíbrio ecológico. Ou seja, a tecnologia transgênica, embora apregoada por muitos como revolucionária, tem efeitos que desconhecemos. E se desconhecemos podem ser bons, neutros ou muito ruins. Aí reside o problema. Se não temos segurança (e de fato penso que não temos) dos efeitos a longo prazo desta tecnologia, o que deveria ser aplicado é o chamado “princípio do acautelamento”: continuar a pesquisa mas não disseminar os novos genes. Para as empresas, no entanto, não é assim que funciona. Elas investiram por dez anos ou mais e precisam gerar lucro com os investimentos. O tempo do balanço contábil é um, mas o da natureza é outro. Dez anos de investimentos é muito tempo para uma corporação, mas pouco para a segurança do meio ambiente. Assim os estudos são considerados satisfatórios e os produtos liberados em acordos com o Estado. E nós consumimos os genes alterados.

Em Piracicaba, no próximo dia 30, mosquitos aedes aegypti transgênicos serão liberados experimentalmente para diminuir a população dos normais e combater a dengue. A tecnologia custará, no futuro, milhões de reais a serem pagos à empresa dona do mosquito. Estes milhões gastos podem até diminuir a infestação de dengue, mas os efeitos disso a longo prazo são, como eu disse, imprevisíveis. A questão parece não ter solução, mas tem. Em Santa Bárbara do Oeste, cidade vizinha à nossa, um sistema de armadilhas para monitoramento dos mosquitos na cidade e a tomada de medidas, diminuiu em 78,4% os casos de dengue na cidade. A técnica transgênica a ser aplicada aqui pode até melhorar este índice. Mas a que custos econômicos e ambientais? Qual técnica escolher? Se você for um cidadão contribuinte, a das armadilhas de monitoramento parece mais adequada. Mas se você pertencer à uma empresa de biotecnologia interessada em vender, os transgênicos são melhores…

http://g1.globo.com/sp/piracicaba-regiao/noticia/2015/04/com-armadilha-para-aedes-santa-barbara-reduz-dengue-em-784.html


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Vida e morte. Por Luis Fernando Amstalden

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Fonte da Imagem, G1

Fonte da Imagem, G1

Pela televisão assisto o resgate de um jovem nepalês que ficou mais de cem horas soterrado em escombros depois do terremoto. Ele tinha ar e alcançou uma esponja molhada para beber um pouco e um tablete de manteiga. Isso lhe deu forças, mas os analistas dizem que mais poderosa foi a vontade dele em viver. Foi localizado por cães farejadores e uma equipe de enviados de vários países trabalhou horas para retirá-lo. Em certa altura do trabalho, um bombeiro conseguiu pegar a mão do jovem e falava com ele, segurando sua mão, até que os demais conseguissem escavar em volta. Quando finalmente ele foi retirado, segurou a mão do bombeiro ainda na maca, até ser levado pela ambulância. A cena seguinte transmitida, foi a dos voluntários festejando aos berros, jogando um deles para o ar. Não tenho vergonha de dizer que chorei vendo tudo isso.

A vida, como já escrevi aqui, é tão rara, frágil e preciosa, que me comoveu o resgate. Me comoveu o esforço das equipes e a alegria deles por um salvamento. Um só, faltaram muitos outros, mas alguns eles fizeram.

Eu queria ter estado lá. Queria ter ajudado. Eu queria ter salvo uma vida. Eu queria mais, queria que o Nepal, assim como outros lugares que precisam, estivessem cheios de gente ajudando. As grandes potências têm tropas de elite, treinadas duramente para lutar e matar em qualquer situação e sob quaisquer condições. Fiquei imaginando se tivéssemos equipes tão treinadas e hábeis assim não para lutar, mas para salvar. Você já imaginou o que significaria termos suprimentos, aviões, carros e especialistas de plantão no mundo, prontos a voar para um local de catástrofe? Essas seriam as tropas de elite que eu gostaria de ver. Mas elas não existem, pelo menos não na proporção das necessidades do mundo. Mesmo as doações dos governos de países ricos são pequenas. Os EUA doaram dez milhões de dólares. Isso é menos do que custa um míssil sofisticado e civis pelas redes sociais doaram isso em pouco tempo. A realidade é óbvia, matar e destruir reúnem mais especialistas e dinheiro do que socorrer e reconstruir.

Na mesma semana, leio dezenas de manifestações de apoio à execução do brasileiro acusado de tráfico na Indonésia. Já tinha lido as anteriores, por ocasião do primeiro executado. Foram odes ao ódio e à morte. Posso entender que se odeie as drogas, o tráfico e toda a violência e tragédia que eles geram. Mas não posso aceitar a pena de morte e a execução dos brasileiros assim como a dos outros condenados. Se tenho a vida como um bem precioso, ela precisa ser preservada e ninguém pode tirá-la. Quem a tira deve ser punido sim, e com rigor, mas não com a morte. Mesmo o assassino mais cruel e vil não pode, a meu ver, ser morto. Se o matarmos, estamos negando a ele o bem absoluto que devemos proteger e, a meu ver, estamos cometendo o mesmo crime que ele cometeu. Não, não sou ingênuo. Não acredito na liberdade ou reabilitação de Suzane von Richthofen por exemplo. Ela deve ser mantida longe dos demais. Mas não defendo sua morte porque isso me tornaria “igual” a ela, capaz de matar alguém indefeso, como ela fez. Sim, indefeso, porque é assim que um condenado está ao ser executado.

Antes que você diga que: “se fosse comigo ou com minha família”, eu pensaria diferente, deixe-me dizer que já fui assaltado dentro de minha casa, com minha família, e fiquei sob a mira de armas, temendo por mim e pelos meus. Já fui roubado e furtado, já fui ameaçado de morte três vezes, duas delas bem sérias. Conheço, portanto, a violência, o medo, a insegurança e a raiva, mas não creio que meu ódio seja uma boa lei universal.

Nesta semana assisti a comemorações pela vida e pela morte. As primeiras foram mais escassas do que as segundas. Porém, como diz a sabedoria judaica do Talmude: “Quem salva uma vida, salva o mundo todo”. Mesmo menores, as comemorações pela vida do jovem nepalês superam as da morte do brasileiro.


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Aniversário – 51 – 15…

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Quando eu tinha quinze anos, ouvi esta música pela primeira vez.

Agora que o número inverteu, ouço de novo.

E, quer saber?

Continuo acreditando em cada palavra…

Sueño Con Serpientes

Hay hombres que luchan un día
Y son buenos.
Hay otros que luchan un año
Y son mejores.
Hay quienes luchan muchos años
Y son muy buenos.
Pero hay los que luchan toda la vida:
Esos son los imprescindibles.
Bertolt brecht

Sueño con serpientes, con serpientes de mar,
Con cierto mar, ay, de serpientes sueño yo
Largas, transparentes, y en sus barrigas llevan
Lo que puedan arrebatarle al amor
Oh, la mato y aparece una mayor
Oh, con mucho más infierno en digestión.

No quepo en su boca, me trata de tragar
Pero se atora con un trébol de mi sien.
Creo que está loca; le doy de masticar
Una paloma y la enveneno de mi bien.

Ésta al fin me engulle, y mientras por su esófago
Paseo, voy pensando en qué vendrá.
Pero se destruye cuando llego a su estómago
Y planteo con un verso una verdad.
Sonho Com Serpentes

Há homens que lutam um dia
E sao bons.
Há outros que lutam um ano
E sao melhores
Há aqueles que lutam muitos anos
E são muito bons.
Porém há os que lutam toda a vida
Esses são os imprescindíveis
Bertolt brecht

Eu sonho com serpentes, com as serpentes do mar
Com certo mar, oh, de serpentes sonho eu
Grandes, transparentes e em suas barrigas carregam
O que pode acabar com o amor

Ah, eu a mato mas aparece uma maior
Oh, com mais voracidade em digerir

Não caibo em sua boca, logo ela se encarrega de me engolir.
Mas se engasga com meu trevo da sorte
Eu acho que ela está louca: lhe dou a mastigar
Uma pomba da paz e a enveneno com o que há de bom em mim.

Essa enfim me engole, e entro por seu esôfago,
Vou passando, vou pensando no que acontecerá
Mas ela se destrói quando chego ao seu estômago
E planto com um verso uma verdade


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A Investigação de Lula. Por Luis Fernando Amstalden

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Acompanho agora, pela TV, as notícias da investigação e interrogatório do ex presidente Lula. Ao contrário do que muitos de meus amigos acham, eu estou contente com isso. Me considero uma pessoa de posições à esquerda e não um petista. Além disso, aprendi há muito tempo atrás a não acreditar em líderes, mas em estruturas.

Líderes são pessoas, e portanto, suscetíveis à todas as falhas humanas, inclusive a corrupção e a vaidade.

Estruturas sociais, como cidadania, democracia, justiça eficiente, participação popular e controle social são, ao meu ver, os verdadeiros pilares de uma sociedade equilibrada, não líderes, não pessoas individuais.

Esse raciocínio, no entanto, se aplica a todos.

Não acreditar que Lula é intocável ou perfeito, significa não acreditar que alguma pessoa, algum líder, o seja. Penso que ele tem débitos sim, e precisa responder por eles. Mas, será que isso vai se aplicar para os demais? Será que outros velhos políticos serão, finalmente, levados a interrogatório ou mesmo a prisão?

Ou você realmente acredita que a velha classe política brasileira, que está no poder há tantos anos, é lisa, pura e imaculada?

Lula está sendo ouvido por ter um patrimônio oculto. E dizem, com razão muitos, que não se pode acumular tanto com os rendimentos de presidente da república.

Concordo plenamente.

Mas em minha cidade mesmo, existem muitos políticos que acumularam patrimônio com parcos vencimentos. Existem políticos com grande número de imóveis em nome de terceiros, existem famílias inteiras que mudaram de vida com os rendimentos de um dos membros que  integra os quadros do poder. Será que investigações de patrimônio oculto chegarão a eles? Será que chegarão aos trens de São Paulo, ao Maranhão dos Sarney e a cada canto dessa frágil democracia?

Se você é realmente um cidadão incomodado com a corrupção e está contente, como eu estou agora, espero que sua luta não pare por aqui.

E que você não se deixe enganar e nem cesse de lutar.

Que não se deixe levar apenas pelo espetáculo que a mídia cria, mas continue a buscar a lisura e honestidade, inclusive aqui, na nossa cidade…

Luis Fernando Amstalden é sociólogo. lula2


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Estupidez e cinismo Por Luis Fernando Amstalden

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lula ministro2

Dias atrás eu escrevi que se Lula aceitasse um cargo de ministro, seria uma manipulação para atrapalhar a justiça. Na postagem eu dizia que acreditava que Lula não merecia o pedido de prisão preventiva feito pelos promotores de São Paulo, que já ficaram conhecidos como os “três patetas” pelas redes sociais.

E agora, a meu ver, a manipulação se consolidou. Lula aceitou um cargo de ministro.

Pior, aceitou por menino de recados, sem assinar.

O PT deve temer que Sérgio Moro peça sua prisão, já que a juíza paulista encarregada de julgar o pedido de prisão feito pelos promotores, se esquivou e remeteu o mesmo para Moro.

O temor, então, é que Moro pedisse a prisão desta vez, daí a manobra.

Pois bem…

A questão, no entanto, me parece mais simples.

Ainda que Lula esteja sendo investigado com mais rigor do que outros, coisa da qual não duvido, está claro que ele deve.

Se não devesse, não precisaria de foro privilegiado.

Dilma nega, claro. Os membros do partido negam, claro, assim como militantes.

Mas é lógico que se trata de uma manobra de quem deve.

Se Lula não estivesse em débito ou mesmo se suas dívidas fossem pequenas, teria sido muito melhor não aceitar o cargo, submeter-se à justiça e provar sua inocência.

Isso teria feito dele um líder forte que enfrenta a perseguição de frente, como acreditamos, no passado, que ele enfrentou a ditadura.

Aliás, mesmo devendo, penso que ele não deveria ter aceito. Deveria ter enfrentado como cidadão.

Mas, por uma manobra estúpida e cínica, Dilma o convidou e ele aceitou.

Cínica porque se pretende que acreditemos que ele vem para ajudar a debelar a crise, como Dilma disse à tarde. Meu Deus, é muita cara de pau dizer isso em público, principalmente depois das manifestações de domingo.

Estúpida porque, a menos que eu esteja muito enganado, o efeito tenderá a ser o contrário. Os aliados com medo das reações populares vão debandar. Mais delações serão aceitas e Dilma assinou um atestado de fraqueza.

Agora, nesse momento, acontecem manifestações em Brasília, São Paulo e outras capitais. Ouço panelas batendo na minha cidade, assim como buzinas. São poucas. Mas são mais espontâneas do que as de domingo passado. E creio que elas venham a crescer.

Não sei o que se passa na cabeça de Dilma, Lula e do PT, mas eles jogaram gasolina na fogueira.

Se, como querem muitos ignorantes e autoritários tivermos um golpe de Estado ou um golpe militar nos próximos dias, eu acusarei o PT de ser um dos grandes responsáveis por isso.

Luis Fernando Amstalden

 


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Cinquenta Tons da Realidade Ou Notas sobre o Impeachment. Por Luis Fernando Amstalden

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lula e maluf

Seria bom que a política fosse “binária”, ou seja, os mocinhos de um lado e os bandidos de outro. Mas não é, assim, como de resto, a vida também não. Na política e na vida não existem categorias puras, porque somos humanos, cheios de qualidades, falhas, altruísmo, egoísmo e as demais contradições do ser humano.

Agora, no entanto, na semana da votação do processo de Impeachment, nas ruas, nas redes sociais, na mídia, o que vejo é uma idealização de discursos. De um lado o bem e do outro o mal e, claro, cada lado se acha o “bem” e que o outro é o “mal”. Este é um dos momentos perigosos da História que tende a criar os piores radicalismos.

De minha parte, o que vejo, é uma realidade com tons muito mais complexos. E o primeiro diz respeito ao próprio Impeachment. Dilma e o PT o merecem? Minha resposta é sim e não…

Não porque “pedaladas fiscais” não são motivo. Se o fossem, teríamos que ter impedido FHC antes e muitos outros hoje, de prefeitos a governadores. O processo desta semana se baseia em um motivo primário frágil, mas também em uma mídia forte e um empenho incomum de alguns membros do Poder Judiciário, além de, claro, um imenso oportunismo do Legislativo, com deputados aproveitando para negociarem vantagens imensas, tanto os que são contra o governo quanto os que são a favor. Logo, a meu ver, o que temos é mais uma manobra política do que um processo legal. Mais um oportunismo do que um fato.

Por outro lado, penso que sim, o PT e Dilma, além de Lula, “merecem” o que está acontecendo. Merecem porque eu não duvido das irregularidades. Não duvido da existência do mensalão, da corrupção na Petrobrás, das ligações muito próximas com empreiteiras, que a meu ver são revertidas em doações para campanha.

Mas, é ainda um pouco mais profundo o motivo pelo qual, a meu ver, “merecem”. Ocorre que ninguém com o mínimo conhecimento ignora o clientelismo e o coronelismo da política brasileira. Os votos conquistados no “toma lá, dá cá”, as relações espúrias entre grandes grupos econômicos e políticos e a ignorância e a necessidade do povo que vota por uma conta de luz paga. O PT, pelo menos como eu o via nos anos oitenta, deveria ter sido a antítese disso tudo Deveria representar a construção de uma democracia real, fundada na cidadania e na lisura política. Não o fez.

No início, na primeira eleição de Lula, bem, naquela época talvez fosse necessário mais “pragmatismo político”, se me permitem o termo, para enfrentar uma estrutura viciada. Mas o PT teve dezesseis anos no governo. Dezesseis anos que poderiam ter sido usados para construir uma base parlamentar própria e sólida a fim de não ter que pagar mensalão. A fim de não ter que recorrer a alianças com Maluf, Calheiros, Temer, Collor.

Não o fez e abandonou o trabalho de base, nos municípios e nas comunidades pobres.  Deveria tê-lo mantido, principalmente na época em que a economia brasileira esteve bem. Foi incompetência? Falta de vontade? Acomodamento? Não sei. Mas em minha avaliação, condições reais de fazer uma mudança no cenário politico eles tiveram. Tiveram condições de aumentar a organização democrática popular, tiveram a oportunidade de ensinar a cidadania. Tiveram tudo isso nas mãos. E não o fizeram. Eu próprio, e muitos outros que conheço, cansamos de falar nas periferias e ajudar a organização de comunidades mais pobres. Mas o governo do PT se burocratizou.

Agora Maluf vota pela abertura do Impeachment, ele que apertou a mão de Lula nas eleições de São Paulo para eleger Haddad. Agora Temer já prepara seu discurso, ele que esteve com Dilma. E muitos outros correm para fora do governo como ratazanas que são. E o PT colhe o que plantou.

Muitos amigos meus vão às ruas. Escolhem defender o partido e Dilma porque creem, não sem razão, que um governo de Temer será um retrocesso. Eles escolhem o “menos ruim” na expectativa de que o partido se reformule. Mas o PT não fez o que deveria ter feito antes. A autocrítica e o expurgo de corruptos. Estava e está amarrado demais para isso. Logo, eu não vou defender o PT. Reconheço alguns ganhos no governo deles, como o aumento real do salário mínimo e das universidades federais, mas não vou defender o governo dado todo o restante.

Tampouco vou ás ruas pelo Impeachment. Continuo sendo de esquerda. Continuo abominando os neofascistas que saem da toca e o cinismo do PSDB, que também deve e não será avaliado com o rigor que o PT foi. Mas o PT não inventou a esquerda. E até onde eu percebo, nem a defendeu com a ênfase que eu esperava. Eu penso que as contradições que criam as ideias de esquerda continuarão e se tornarão ainda mais fortes. Por isso, penso que uma nova esquerda vai surgir, e precisa surgir. Não sei ainda como e não a visualizo em nenhum partido atual. Mas a visualizo no anseio e na percepção de muitos. Eu vou ajudar a busca-la defendendo ainda a cidadania e a democracia plenas que é a essência do pensamento de esquerda. Defendendo a justiça social e a distribuição de renda.

E o PT, bem, o PT que se renove, que se torne parte disso.

 Ou desapareça.

Luis Fernando Amstalden


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Um Desafio Público. Por Luis Fernando Amstalden

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raquel muniz

Nesta semana, neste blog e em redes sociais, fui chamado alternadamente de fascista e judeu comunista (uau, o antissemitismo no Brasil…  e eu nem sou judeu…). O clima está tão tenso e irritado, tão passional, que eu me sinto na Europa na década de 30, ou se é fascista ou stalinista…

Há momentos em que penso em simplesmente ficar quieto. Porém, eu me propus há muitos anos, a um tipo de papel político. Não o de candidato ou de assumir um cargo eletivo, mas o de professor. O de alguém que tenta suscitar a reflexão, o debate o que, a meu ver, são as condições para a cidadania e para a democracia. Isso foi decidido em minha vida quando li um livro de um sociólogo genial, mas isso é outra história.

O fato é que até este Blog é fruto do papel político que escolhi e, sendo assim, não posso, sob pena de esvaziar um dos sentidos que atribuí à minha vida, simplesmente ficar quieto. E por isso, retomo as questões que tem levado tanta gente a me criticar.

Em primeiro lugar, devo dizer que em minha opinião, já não havia um governo do PT há tempos. Quem assistiu à votação e acompanhou a fala dos deputados, deve ter percebido a estupidez que nos governa. O tipo de aberração intelectual e política que está no Congresso. Alguém viu aquela deputada perua cujo marido foi preso dois dias depois? Bom, é por aí… São eles que estão no poder. E com este congresso, Dilma não governa. Teve e tem que fazer tantas concessões que perdeu o poder, com ou sem impeachment. Tantas concessões, que Katia Abreu é ministra da agricultura. Alguém acha que ela é de esquerda ou está preocupada com o meio ambiente? Para quem diz que eu defendo o retrocesso ou sou conivente com ele, pergunto qual é o avanço atual? A meu ver, já retrocedemos faz tempo.

Em segundo lugar, devo dizer que não defendo incondicionalmente partido, político ou líder nenhum. Não acredito neles porque a tendência é que sempre girem em torno de seus interesses próprios, seja um partido ou uma pessoa. Só existe uma forma, em minha opinião, dos líderes e partidos serem “bons” Essa forma é o controle social. Ou seja, uma população capaz de participar da política coletivamente, seja capaz de cobrar e pressionar seus políticos e partidos, seja nas ruas, seja pela internet ou juridicamente. Essa é a única maneira. A única democracia. Quem acredita que um líder ou partido, seja de esquerda ou direita, religiosos ou ateu, machista ou feminista, vai por si só combater nossas causas, está enganado. Eles só o farão se pressionados a isso. Cabe a nós pressioná-los.

Em terceiro, penso que o PT errou sim. Tem responsabilidade sim nos escândalos recentes. O pedido de impeachment foi ilegítimo. Já argumentei que “pedaladas fiscais” não são, a meu ver, motivo. Mas, se eu acredito que eles erraram em outras coisas, não posso sair para as ruas defendendo o PT. Lamento, mas não posso. Ao contrário, o que eu posso fazer e quero, é aproveitar o momento para levantar outra discussão. A de que se há tanta indignação com a corrupção, então devemos avançar. Devemos aproveitar esse momento de mobilização e pedir mais. Pedir a cabeça dos demais partidos, dos demais políticos. Isso inclui todos eles, inclusive o PSDB que notadamente também tem pendências sérias mas não é tão pressionado pela mídia e não conta com tanto empenho do judiciário. Também é o momento de cobrarmos outras instituições. Se a FIESP apoia aqueles que lutam contra a corrupção, então que apoie TODOS eles, inclusive cobrando seus próprios filiados para que se expliquem. Afinal, não há corrupção unilateral. Se a grande mídia foi implacável com os escândalos do PT, então devemos cobrá-la para que o seja com todos os demais. E o mesmo vale para o judiciário. O Judiciário deve ser imparcial, inclusive na hora de divulgar grampos telefônicos porque o “povo tem direito de saber quem os governa”. Neste sentido tenho que concordar com Moro. Temos este direito, mas em relação a TODOS.

Em quarto lugar, se então há tanta gente, seja de direita ou esquerda, disposta a “limpar o Brasil”, acredito que antes de nos digladiarmos, o que de resto é muito útil aos políticos atuais, devemos nos unir neste ponto em comum. Somos contra a corrupção, queremos o fim dela e queremos a justiça e a democracia. Logo temos mais a nos unir do que a separar. É por isso que lanço um convite que é ao mesmo tempo um desafio. Se você está de fato defendendo a honestidade e a democracia, então vamos nos encontrar amanhã, as 16:30 horas, no Largo do Pescador em Piracicaba e conversar sobre isso. Sobre como podemos de fato ajudar a criar o controle social, a única forma de tornar a democracia real. Claro, se você defende Bolsonaro, então deve ter em consideração que ele não é um democrata e assim talvez a sua convicção não seja a mesma que a de quem estou esperando encontrar…

Por último, permitam-me um pequeno desabafo. Não sou candidato a nada, não sou filiado a nenhum partido e não estou tentando me aproveitar do momento para uma campanha. Tento pensar com minha própria cabeça e ser fiel aos meus próprios princípios, e não me abstenho de correr riscos quando necessário. Já paguei um alto preço profissional por ser coerente e agir como tal, já fui ameaçado de morte duas vezes por lutar contra um assassino de mulheres abastado e já me interpus entre a polícia e provocadores que tentavam (e depois conseguiram) deslegitimar a grande manifestação de 2013 em Piracicaba. Você tem todo o direito de não concordar comigo, mas não o tem de julgar minhas atitudes e pensamentos apenas por aquilo que você acredita que eu deveria fazer. Por favor, reflita um pouco nisso antes de me chamar de fascista ou stalinista ou de me acusar de ter “marchado de mão dada com fascista”, “ficado em cima do muro” ou ainda de “ter cruzado os meus braços”. Da próxima vez que eu ouvir isso, vou realmente me aborrecer e querer saber o que VOCÊ fez ou faz…

PS: a foto acima é da deputada Raquel Muniz, que votou pelo impeachment em nome da honestidade e cujo marido, prefeito de Montes Claros, MG, foi preso dois dias depois por prejudicar o hospital público da cidade para beneficiar o hospital privado da família…


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Obrigado, Manato. Por Iuri Pitombo

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pitombo

O principal sentimento que tive no decorrer da fatídica votação na Câmara dos Deputados pela admissão do processo de impeachment de Dilma Roussef foi impotência. Impotência de ver a hipocrisia engravatada e travestida de bandeira nacional. Impotência pelo distanciamento representativo daqueles que se dizem nossos representantes. Impotência pela inanição política do brasileiro, de termos permitido que chegasse a esse ponto.

            Como um remédio para esse sentimento resolvi que iria, pela primeira vez, fazer a minha lição de casa como cidadão. Comecei anotando o nome de alguns deputados, especialmente aqueles deputados que esbravejavam contra a corrupção (quem esbraveja a favor dela?), como sendo os arautos da moralidade e ética no país. Me restringi ao total de quinze nomes, poderiam ser muitos mais, porém, seria uma lição bem focada e incisiva.

            Comecei a pesquisar nome por nome e pela minha “surpresa” descobri que de quinze desses nomes, quinze estão com pendências judiciais ligadas aos mais diversos crimes políticos. Que coisa não? Escrevi então uma mensagem privada no facebook a todos esses quinze deputados indagando-os sobre como era lutar contra a corrupção sendo eles próprios os corruptos. Será que é uma luta interna muito grande?

            Como era de se esperar, quatorze desses quinze deputados questionados me responderam com silêncio, e como se diz na sabedoria popular: quem cala, consente. No entanto, obtive resposta  de um deputado e prefereria ter ficado sem ela, somente o silêncio já me bastaria.

            O Deputado? Digníssimo Carlos Manato (SD-ES), que teve sua campanha eleitoral abastecida com dinheiro de duas empreiteiras investigadas na Operação Lava-jato, a UTC e Andrade Gutierrez. A minha pergunta para ele foi basicamente a mesma que fiz para os outros deputados: como ser contra a corrupção recebendo dinheiro de corruptos?

            A resposta dele: “Sua mãe vai bem?”

            Como poderia interpretar uma resposta tão democrática e esclarecedora assim? Como? Seria a minha mãe uma das investigadas pela Lava-jato? Estaria ele tentando ofender a minha família?  Estaria ele realmente preocupado com o bem-estar social de minha querida mãe? Não.

            Essa resposta, para mim, somente confirmou aquilo que já desconfiávamos. Que independente de você ser um “coxinha”, independente de você ser um “mortadela” ou independente de você ser “isento”, eles não estão nem um pouco preocupados com o que pensamos ou deixamos de pensar sobre eles, o compromisso deles é com o dinheiro e com o poder, é pra esses dois que a classe política deve satisfação, pra mais ninguém. Consequência do nosso distanciamento e desinteresse pela política. Frases como “Não gosto de política.”, “Precisa discutir política agora?”, “Político é tudo igual.”, “Política é uma bosta.” são a força motriz desse distanciamento e que acabam facilitando casos de corrupção na política. Imagine se nós, os brasileiros, fizéssemos a lição de casa e fôssemos atrás de nossos representantes cobrando respostas sobre as suas atitudes, diminuindo essa distância cada vez mais, a internet está aí para isso. Imagine se mudássemos o nosso “jeitinho brasileiro”. Imagine se a ética que valesse para os outros, fosse a mesma que valesse para você.  Imagine como poderia ser diferente a resposta que o Deputado Manato poderia ter me dado. Imagine.

            E falando nisso, deputado, minha mãe vai muito bem sim, obrigado.

Iuri Pitombo é formado em Rádio e TV, músico e técnico de som.

PS: Eu, Amstalden, vou escrever ao Deputado Manato protestando por esse ocorrido. Se você quiser, esta é uma boa oportunidade de exercer a cidadania direta. Depois publico o que mandar.  Escreva também e faça sua crítica. Escreva com educação  e firmeza. E vamos pressionar para que respostas destas, indignas de um deputado, ocorram novamente. O email dele é

dep.carlosmanato@camara.leg.br

E você pode visualizar o perfil dele no link:

http://www.camara.leg.br/internet/deputado/Dep_Detalhe.asp?id=5830639


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Anotações sobre a Crise. Por Luis Fernando Amstalden

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temer

Poucas vezes escrevi tão sem expectativa de ser lido e principalmente entendido. As pessoas continuam fechadas em opiniões monolíticas, sem ouvir e sem ponderar. E não vejo isso mudando a curto prazo. Mesmo assim escrevo, e publico, por coerência própria, para manter meu raciocínio e minhas ideias registradas.

 

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Ontem,  na TV Cultura, assisti às  repetitivas propagandas do PSDB. Aécio Neves falando em um novo tempo e em reconciliação. Em virar a página e começar de novo. O que ele quer dizer? Que a Lava Jato acabou? Que não há mais nada a ser investigado? Que a corrupção no Brasil foi superada? Ele próprio, assim como Temer e muitos outros do atual governo, estão citados na Lava Jato e em outras investigações. Mas para ele, assim como para o PSDB, agora precisa acabar… Em nome de uma “governabilidade” e do “fim da crise”, os casos de corrupção vão ser esquecidos. “Vamos nos unir…” Unir na amnésia, na seletividade da indignação. Vamos “virar a página”. Mas a próxima página promete mais do mesmo. Mais corrupção, mais impunidade, mais preservação dos velhos privilégios políticos e manutenção do poder aos velhos senhores feudais. Sarney Filho já é ministro e por aí vai. O clã Sarney que está no poder desde a ditadura, continua lá.

 

—//—

Ah sim… claro. Agora a crise econômica acaba. Acaba? É assim tão simples? Temer vai, por decreto, reverter o desemprego? Vai aumentar o interesse pelos produtos brasileiros no mundo por medida provisória? Vai enxugar a máquina pública? Nem esta última medida. Com tantos novos aliados a serem contemplados, a redução de cargos será só aparente. E todos aqueles geniais deputados, muitos dos quais também investigados por corrupção e outros crimes, vão exigir suas fatias no poder e a liberação de emendas orçamentárias generosas. A redução, se ocorrer, será na Educação ( que ninguém valoriza, nem os estudantes) e em outros serviços públicos que, de quebra, serão depois privatizados ou “flexibilizados” ao mercado. Bem oportuno.

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Quanto ao PT.. Bem, Dilma diz que vai resistir, que vai lutar. Mas os sites de notícias anunciam que o PT já a coloca de escanteio e se volta para Lula e para seu lançamento como candidato em 2018. Puro pragmatismo. Não importa, ou parece não importar, se o processo foi mesmo legítimo (legal foi, mas não legítimo, como já atestou Joaquim Barbosa), no entanto, a legitimidade não parece ser o mais importante, e sim o poder, Mesmo que para isso seja necessário, de novo, apertar as mãos de Collor e Maluf, que diga-se de passagem, votaram pelo impeachment. Mas tudo bem. Eles tem seu preço, assim como os Sarney, os Tiririca e aquela fauna no Congresso. Claro, Tiririca é mais barato, mas mais barata ainda parece ser a ideia de poder legítimo. O que importa é o poder…

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Se legitimidade parece ter se tornado “mercadoria” barata para o PT, há uma outra que é escassa. A auto crítica. Agora seria um bom momento para o PT, ainda que internamente, se revisitasse. Se reinventasse. Mas não me parece que vá por aí. Faz tempo, muito tempo que a arrogância é majoritária nos quadros do partido. Também faz tempo que a máxima política de Maquiavel, os fins justificam os meios, tomou conta do partido. Na minha humilde opinião, os meios se tornam os fins…. Mas… mas isso não importa a praticamente ninguém, afinal.

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Nas redes sociais, este espaço virtual onde todos se expressam, meus amigos se digladiam. Muitos me excluem, claro, tanto de um lado quanto de outro. E muitos reproduzem argumentos pré-fabricados de ambos os lados. O que a maioria parece não perceber é que, se de fato houve um movimento nas ruas contra a velha e incapacitante doença da corrupção no Brasil, então deveria se continuar. O que não percebem é que, malgrado as diferenças de opinião e tendência política, ninguém é beneficiado pela corrupção, a não ser os grandes corruptos. E combate-la significa de fato ajudar a criar um novos pais, que funcione e que possa crescer. Corrupção é câncer, seja da esquerda ou da direita. E só se acaba com esse câncer com o controle social, com a população controlando de fato os políticos, seja por vias legais, seja por manifestações físicas ou escritas.

No entanto perde-se um tempo enorme em ofensas mútuas aqui “em baixo”, enquanto “lá em cima” já se fala em virar a página. E temo que tal página seja virada de ambos os lados da contenda política. Mas não para nós, aqui “em baixo”…

 

http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/05/1770891-pmdb-deve-tentar-neutralizar-ou-reduzir-os-danos-da-lava-jato.shtml

http://atarde.uol.com.br/economia/noticias/1770437-governo-quer-permissao-para-rombo-fiscal-maior

http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/05/1770881-pt-busca-lula-e-dilma-deve-viver-exilio-interno.shtml


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Cuspindo para Cima. Por Luis Fernando Amstalden

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tiririca

Voto de protesto, ou voto de “zoeira” como se diz hoje, não é novidade. Em 1959, os eleitores de São Paulo “elegeram” o rinoceronte Cacareco, então morador do zoológico daquela cidade, para vereador com mais de 100 mil votos. Depois veio o macaco Tião, do zoo do Rio de Janeiro, em 1988, com 400 mil votos. Mas antes os animais fossem os únicos candidatos. Os partidos sabem que lançar candidatos “excêntricos” para não dizer esdrúxulos, é uma boa forma de capitalizar votos. Ocorre que pelas leis eleitorais atuais, votos em um partido ajudam a legenda toda. Se um partido ou coligação lança um candidato assim, os votos dele ajudarão a eleger outros membros que, caso contrário, não alcançariam um número suficiente para ocuparem cargos. O caso mais significativo foi e é o do palhaço Tiririca, que foi eleito em 2010 com mais de um milhão e trezentos mil votos. Nos vídeos de sua campanha, alegava em tom irônico que não sabia o que um deputado federal fazia e que cuidaria da família, principalmente a dele… (tenho certeza de que esta promessa de campanha foi cumprida à risca).

Conheci várias pessoas que votaram em Tiririca. Alegavam ser um protesto e que nada melhor do que eleger um palhaço para o circo que seria o Congresso. Outros ainda, principalmente mais jovens, alegavam que era “zoeira”, a bagunça sem sentido que parece ser uma das características de nossa sociedade atual. O que estes eleitores talvez não saibam (ou não levam em conta, no espírito da “zoação”, é que Tiririca levou com ele para o “circo”, mas três deputados que não conseguiriam votos suficientes se não fosse a palhaçada. E aí se configura a situação. Tiriricas são “puxadores de votos” que capitalizam a insatisfação popular ou a pura infantilidade e servem brilhantemente para os políticos e partidos que mantêm a estrutura clientelista, egoísta e corrupta de nossa política.

Na sociedade midiática de agora, na qual vale tudo para aparecer, independente de quão ridículo isso seja, os partidos “caçam” palhaços, excêntricos e as vezes alguns ingênuos desfavorecidos, para capitalizarem seus votos em prol de candidatos que realmente vão se eleger. Em Piracicaba, um dos “puxadores de voto” é o chamado torcedor símbolo do XV, Saponga, que concorrerá agora em 2016. Não conheço pessoalmente este cidadão e digo que pode até ser uma boa pessoa, mas não acredito que aqueles que o convidaram estejam pensando em outra coisa a não ser nos votos de protesto (ou de “zoeira”) que ele trará, ajudando a eleger ou reeleger os velhos políticos.

Saponga vai ser eleito? Não sei. A julgar pelo descontentamento geral com a política hoje, eu diria que tem chances. Mas quem realmente vai ser eleito são alguns vereadores que já estão no poder e que, valendo-se da legenda, contabilizarão os votos de Saponga. Você duvida? É fácil conferir. Basta analisar a coligação à que ele pertence e ver quem, da mesma coligação, já está na Câmara e se valerá do coeficiente eleitoral inflado por Saponga (e não é só ele, tem outros, vários outros).

A maioria das pessoas que conheço está insatisfeito com a política. Querem mudanças, querem seriedade, querem participação. Mas muitos, infelizmente, vão votar nulo, branco ou em protesto, nos “Sapongas”. Se você realmente está insatisfeito, quer mudança, pare para pensar. Só existe uma maneira de conseguir que a política se transforme realmente em uma democracia. Escolha alguém cujas ideias você compartilhe, vote nele e depois cobre, cobre muito, fique por perto, mande mensagens, dialogue e se for necessário proteste. Votos brancos e nulos não fazem a menor diferença. Ao contrário dos boatos que voltam a circular oportunamente nessa época, uma eleição NÃO  é anulada se mais de 50% dos votos forem inválidos. Ao contrário, quando você vota nulo ou branco diminui a chance daqueles que talvez sejam melhores a aumenta a das velhas raposas políticas. Tampouco o voto de protesto nos Tiriricas e Sapongas muda alguma coisa. Votar assim (ou não votar) é cuspir para cima. Você pensa cuspir na velha estrutura, mas cospe na sua própria face. Não existem milagres ou coisas fáceis na política. Existe voto de acordo com suas convicções e cobrança, muita cobrança.

PS: Caso eu esteja enganado e o candidato Saponga tenha, realmente, uma proposta concreta para a vereança e um bom conhecimento do papel de um vereador, estou à disposição para conversar com ele e transcrever as minhas perguntas e as suas respostas. Nesse caso eu me penitenciarei pelo meu engano e ao mesmo tempo divulgarei suas concepções políticas.


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A FUMEP é Pública. Por Júlio Menezes

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E precisa ser gerenciada e aproveitada como pública

 

Estudei na Fundação Municipal de Ensino de Piracicaba entre os anos de 2002 a 2006 no curso de Ciência da Computação. Foi minha porta de entrada no curso superior. Depois fiz especialização e pós graduação, mas a FUMEP foi meu começo.

Na época, eu não sabia que a FUMEP era uma instituição pública.  Eu pagava mensalidade, com dificuldade, e achava que era uma escola particular.

Depois aprendi que não. A Fundação é pública, criada por decreto público, construída inicialmente com verba pública e em terreno público. Ela não tem fins lucrativos. O dinheiro das mensalidades que eu pagava, e que muitos pagam com sacrifício, deve ser usado totalmente para os alunos e para a educação. Aliás, no orçamento do município (dinheiro público) todo ano é previsto uma grande quantia para a Fundação (veja a LDO, o orçamento do município, de 2017, anexo 2 principalmente, no link http://www.financas.piracicaba.sp.gov.br/ldo+2017.aspx ).

Eu não posso me queixar, já que aprendi lá. Mas me pergunto, se é pública, se a verba está no orçamento da cidade, então como ela é gerenciada? Qual a divisão de verba? Quanto os alunos pagam realmente e quanto entra de dinheiro da cidade?

E mais: o que ela devolve para a cidade?

Devolve educação, é verdade. Mas eu acho que poderia devolver mais e melhor.

Por exemplo: se é uma Faculdade que tem cursos de Ciência da Computação, Administração de Empresas, Engenharia Civil, Engenharia Mecânica, Engenharia de Produção, Engenharia Ambiental, Mecatrônica, além do COTIP e outros, eu acho que os alunos destes cursos poderiam ser aproveitados em obras públicas, mediante convênio com a Prefeitura. Poderiam fazer parcerias com o poder público e com as empresas para desenvolver projetos de sustentabilidade ecológica e social. Isso seria bom para todo mundo. Para os alunos que ganhariam experiência e entrada no mercado, para a população da cidade e para a Escola em si, que com certeza teria mais procura e poderia desenvolver seu potencial de alunos, professores e funcionários.

A REDE procura criar a sustentabilidade. Para isso precisamos de serviços, estudos e novas tecnologias. Tudo isso pode ser encontrado em Piracicaba em várias faculdades. Mas a FUMEP é uma delas com a vantagem de ser do município.

Eu quero ser vereador para ver o que é correto funcionar. Quero ser vereador para ver as coisas melhorarem, crescerem. E a FUMEP pode crescer, melhorar e fazer a cidade crescer e melhorar.

Como vereador eu quero estar na FUMEP. Não quero fazer POR você, que é aluno, professor, funcionário, pai, parente de alunos ou cidadão. Quero fazer COM você.
Quero ouvir você e pensar junto com você. E na Câmara propor projetos, iniciativas e ajudar a fiscalizar o funcionamento da FUMEP, para que ela, você e todos nós possamos crescer.

Sei que você está cansado de promessas. Mas não é só uma promessa. É um acordo. Vote e, se eu for eleito, eu vou estar com você. Pode cobrar.

Júlio Meneses é analista de sistemas, mestre em ciência da computação e candidato a vereador em Piracicaba pela REDE. Número 18.000


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Diretas Já! Por Luis Fernando Amstalden

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Em meio à crise política atual, que se arrasta há anos, chegamos a um novo momento. Michel Temer é acusado de incentivar propinas a Eduardo Cunha para que esse não “abra o bico”. Aécio Neves, cujo partido que preside fez um bombástico programa eleitoral na semana passada, defendendo uma nova política ética, humilde e honesta, foi pego (gravado e rastreado) pedindo propina que foi paga. A Lava a Jato ainda não conseguiu, ou pelo menos não mostrou, provas de que Lula realmente recebeu o famoso triplex como propina, mas está tentando.

Agora, o quadro se complica. Pela Constituição, em caso de renúncia (o que ele diz que não irá fazer), cassação ou impeachment de Temer, quem assume o governo, por trinta dias, é o presidente do Congresso, Rodrigo Maia, que está com indiciado em inquérito, assim como seu pai, César Maia, aberto por recebimento de propina. Ainda segundo a Constituição, Rodrigo Maia terá trinta dias para convocar eleições indiretas, ou seja, feitas pelo Congresso. Esse mesmo Congresso, por sua vez, tem um grande número de deputados e senadores também sob investigação. Destes, 65%, segundo o jornal Folha de São Paulo, pertencem à base aliada de Temer. Pior, esse Congresso é, a meu ver, ilegítimo não só pelas suspeitas que recaem sobre ele mas também pela postura abertamente interesseira que demonstrou até agora, trocando votos por vantagens, por emendas parlamentares (liberação de verbas para seus currais eleitorais) ou cargos no governo para seus protegidos. E isso para não falar no franco parasitismo de outros lá, cheios de privilégios, com poucas propostas, negociando sempre sua eternidade no cargo.

Como podemos aceitar isso? Se você que lê esse artigo, pode, eu não posso. Eu não aceito. Não considero esse Congresso legítimo e digno da minha confiança, para não dizer do meu respeito. Assim como considero que nada de bom pode sair de uma eleição presidencial indireta com esse senadores e deputados. O mais provável é que se loteiem os cargos e vença um nome que tentará atenuar as punições aos políticos citados. Aécio Neves, agora há pouco, já falou em “frear a lava a jato” e legalizar o caixa dois de campanha (e olha que, segundo o Ministério Público, o dinheiro que ele recebeu da JBS foi parar em uma empresa de outro deputado). O que virá, penso eu, é outro presidente ilegítimo e leniente com a casta política, em detrimento de nós, “párias políticos”.

Diante de tudo isso, e na imperiosa necessidade de ser uma pessoa pensante, dotada de um senso ético que procuro cultivar, eu defendo uma eleição geral já. Geral mesmo, com a destituição de todos os deputados, senadores e, claro, de Temer. Vou além, de todos os governadores e deputados estaduais.

E defendo essas eleições não somente porque repudio o Congresso e políticos agora no poder, mas porque penso que, diante da comoção geral, haverá a possibilidade de termos “sangue novo” sendo eleito. Acredito que há possibilidade de velhas ratazanas perderem as eleições. Que uma campanha eleitoral assim, seria curta e cruel, uma verdadeira “carnificina” de imagens, nas quais os acusados teriam que se defender ás claras e os isentos poderão se colocar. Acima de tudo é nesse debate, nessa campanha acirrada, necessária à verdade e à democracia, que aposto.

Claro, um processo assim terá riscos, como já vi amigos dizendo nas redes sociais. Riscos (para muitos que o odeia ou se decepcionaram) de Lula ser reeleito, mas também risco de uma aberração ideológica como Jair Bolsonaro ganhar a eleição. Há o risco do populismo ganhar força e do autoritarismo também.

Mesmo assim, eu penso que esse risco é digno de ser corrido. A opção, como eu já disse, é a manutenção desse Congresso ou de um  presidente desacreditado.  Dessa estrutura viciada até que toda a poeira assente e sorrateiramente os mesmos ser reelejam no ano que vêm. A manutenção de uma política de imagens e privilégios.

Você pode argumentar que, mesmo que eu esteja certo, nada garante que os novos eleitos serão honestos. E terá razão, nada garante. Mas, também há a chance de uma verdadeira mudança no Brasil. Uma mudança em direção a uma política mais limpa, com mais observação, controle e empoderamento da população. Isso pode acontecer. Vai depender do nosso empenho em cobrar e protestar. E o clamor público por isso, já seria um claro recado aos políticos de que as coisas têm que mudar. Melhor ainda, serviria para que a população se sentisse (pela primeira vez, quem sabe) relevante, para que reconhecesse enfim, que o poder emana dela e não de castas privilegiadas.

As eleições gerais que defendo não estão na Constituição. Todos os partidos vão argumentar isso, assim como especialistas. Mas a lei deve existir para o bem comum e, por isso e para isso, pode ser mudada, ainda que em momentos de tensão e, talvez, exatamente nestes, onde ficam mais claros os cenários de afastamento dos políticos e do povo.

A partir de amanhã, uma vez que não consegui uma hoje, vou usar, até tudo isso se concluir, uma braçadeira preta, de luto, com a inscrição “Eleições Diretas Já!”.

Será, assim como este artigo, minha manifestação solitária. Talvez algumas pessoas que concordem façam o mesmo. Talvez milhares. O mais provável é que sejam poucas. Não importa. Eu usarei e defenderei essa ideia assim mesmo, porque acima de tudo, meu compromisso ético e minha capacidade de reflexão, começam comigo mesmo. Isso pede minha coerência pessoal, ainda que seja para usar uma braçadeira solitariamente.

Mesmo que nada mude e eu tenha defendido a ideia sozinho, mesmo que eu esteja errado e perceba no futuro, vou fazer isso agora.

Não será a primeira vez (e nem a última) em que defendi algo que não se concretiza. E não será a primeira vez (e em a última) em que me sentirei em paz comigo mesmo. Em paz, não por ser “dono” da verdade ou ética, uma vez que não o sou. Mas por buscar a verdade e a ética, mesmo que isso me leve a pensar e me manifestar sozinho.

Luis Fernando Amstalden

PS: Antes de ouvir as inevitáveis críticas de que estou defendendo este ou aquele, aviso que seja por um triplex, seja por centenas de milhões, quero que todos aqueles que cometeram desviam sejam punidos. Não acredito em “líderes supremos”, “pessoas perfeitas” ou “salvadores da pátria”. Acredito em escolhas, racionalidade, democracia, direitos humanos, justiça social e controle social da política.


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