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Verdades inconvenientes, atitudes necessárias. Por Luis Fernando Amstalden

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Funciona assim (e já faz muito tempo). Para chegar ao poder, são necessários votos. Para isso é preciso que milhões de pessoas votem em você. Mas, como esses milhões de pessoas são alheios à política e aos seus mecanismos, eles vão votar de acordo com uma imagem que você construir de si próprio, de suas propostas e do que seria, em tese, a solução para o bem comum.

Como se trata de construir imagens, são necessários profissionais (publicitários, marqueteiros, analistas e até sociólogos). São necessárias também inserções na mídia, gente falando bem de você nos grandes jornais e revistas e, agora, na internet. Esses profissionais e mídias custam dinheiro e você precisa deles. Logo precisa arrumar o dinheiro. Quem tem este capital são as grandes corporações e empresas, inclusive as de mídia. Então, você recorre a eles, por doações. Como existe um limite para tais doações, inclusive para que sua imagem não fique amarrada a tais grupos, recorre-se ás doações secretas, o caixa dois.

E, como tudo é uma troca, lá na frente, depois de eleito, você vai ser cobrado por isso. Vai ter que, no poder, devolver o dinheiro em obras que os grupos doadores farão (e superfaturarão), em leis do interesse deles e até no fornecimento de produtos para políticas pública, tais como medicamentos, por exemplo.

Nas próximas eleições, e antes até, uma vez que é necessário manter viva a imagem do seu “bom governo”, você precisará de mais dinheiro para a propaganda e afins. Recorrerá às mesmas fontes que, claro, estarão mais do que dispostas a “doar” às claras ou no caixa dois. Estão, na verdade “investindo”. E com isso, o poder público se torna privatizado. Propriedade de quem pode pagar, o que, claro, não é a esmagadora maioria do povo, inclusive os de classe média ou média alta.

Existe também outra “rede comercial política”. A “rede varejista” pela qual, além da propaganda,  se elegem os senadores, deputados federais e estaduais e vereadores. Trata-se de distribuir pequenas quantias para a população ou facilitar o acesso privilegiado ao que deveria ser público, como intermediar uma internação, a cessão de um remédio pelo SUS ou até a transferência de um servidor público de um lugar para outro, mais confortável a este. É o “mercado eleitoral” dos pobres, cujo valor é relativamente pequeno e rende votos varejistas, que podem, no entanto, pelo sistema de voto por legenda, ajudar muito. Mas, para fazer estas “trocas” o político precisa estar eleito. Para ser eleito precisa de dinheiro e assim, voltamos ao ciclo vicioso das doações ou, e me permitem o termo, do “comércio por atacado”.

É por isso que, mesmo que não se tenha todas as provas, não duvido que todos os partidos e políticos eleitos receberam, recebem, comercializam suas ações em troca de dinheiro dos grandes grupos. Sim, você leu certo. Todos. Incluindo aí o PT e os demais partidos de esquerda.

E penso que, como o homem é um ser que tenta dar algum sentido para suas ações, os partidos de esquerda e muitos de seus membros, acabam justificando essa atitude, para si e para os seus próximos, como uma estratégia. Quase uma “expropriação” do grande capital para “no momento certo”, se atingir o socialismo. Os de direita, por sua vez, justificam isso para si e para os seus próximos com a ideia de que estão “favorecendo” o crescimento econômico, a geração de empregos. Se fazem leis e favores que levam ao crescimento de uma grande empresa, como a JBS, por exemplo, ou a Oldebrecht, estas vão estimular o mercado, gerar o crescimento, ativar a economia. Enfim, salvo os cínicos e psicopatas que vão embolsar as verbas, sempre haverá uma justificativa pessoal e ideológica para quem recebe propina. Mas ao público, todos negarão que receberam ou que assim se justificam.

Mas no final, dá tudo na mesma. No final o público se torna privado. O dinheiro, o direito e o interesse coletivos se tornam restritos a quem tem o capital. E, diante dessa apropriação, aqueles que só têm o seu voto, acabam se sentindo apáticos, impotentes. Da apatia e da impotência, nascem a indiferença pelo coletivo, o louvor à ação individual e egoísta (ainda que seja criminosa, por que não? Se tudo é um jogo de troca, porque não trocar, por exemplo, drogas por dinheiro?) e nasce também a raiva, o ódio. Raiva e ódio, por sua vez, além de realimentar o individualismo, trazem o anseio pela força, seja a individual, buscando violentamente o seu “lugar na selva”, seja por uma ditadura. Estou cansado de ver isso expresso nas redes sociais, inclusive com elogios àquele monstro do Pinochet. É a frustração que ajudou a criar o nazismo e outras ditaduras e genocídios.

É por isso, por um raciocínio um tanto complexo e cheio de nuances, eu sei, que optei por apoiar eleições diretas agora. Não ignoro que muitos o farão também, mas na esperança de reeleger Lula ou eleger Marina, Ciro, Bolsonaro.. Outros a combaterão por ódio a Lula ou para manter o status do que consideram reformas.

Mas eu o faço por outro motivo. Faço porque penso que, neste momento de descrença,  apatia e ódio, uma eleição direta poderia trazer um debate de uma franqueza ímpar. Com muita gente devendo, teriam que se esforçar muito para se reeleger ou eleger. Ao mesmo tempo, se der certo, penso que seria uma forma de diminuir a apatia, a impotência do cidadão comum diante da estrutura viciada e privatizada da política. Algo como a busca da real cidadania. Do sentir-se um cidadão de verdade, fonte e destino de todo tipo de poder.

É por isso que eu luto. Não por Lula ou outro qualquer, mas pela construção de um empoderamento popular. Pela construção de uma cidadania real e pela retomada do poder público pela população, rompendo com sua privatização.

Você pode argumentar que isso não quebra o ciclo, que os mesmos partidos vão concorrer, os partidos viciados. Pode ser. Mas sabe o que penso? Que se milhões de pessoas saírem às ruas, contestando em geral essa estrutura podre, talvez as coisas sejam diferentes. Talvez os partidos e candidatos tenham que rever sua forma de chegar ao poder, ouvindo você, e não quem lhes paga. Talvez, se formos milhões, eles tenham que se renovar, expurgar, fazer o “mea culpa”, porque nós sabemos que eles têm culpa.

Pense um pouco nisso. Suplante por um momento o seu ódio a A ou L, e reflita sobre quem você é de fato, na estrutura política. E, talvez, você saia às ruas também, mesmo que ao lado de alguém que quer, no poder,  um candidato que você odeia. Afinal, ele, assim como você, agora não é nada. Talvez seja hora de tentar ser.

Eu vou.

Luis Fernando Amstalden

PS: para quem não leu meu artigo anterior, eu vou mais longe do que todos. Proponho que o STF assuma o poder agora, transitoriamente, e convoque ELEIÇÕES GERAIS, para o Congresso também, não só para presidente. Não está na constituição, como dizem meus amigos “legalistas”, mas a reforma trabalhista também não está e a constituição já foi alterada dezenove vezes, todas dentro do parlamento. Talvez seja necessário que ela seja alterada de fora, das ruas…


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Por que Temer ainda não caiu? Por Luis Fernando Amstalden

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SP – ALCKMIN/TEMER – POLÍTICA – O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB)(e), recebe o vice-presidente da República, Michel Temer(PMDB), no Palácio dos Bandeirantes, na zona sul da capital paulista, nesta quinta-feira (06). 06/01/2011 – Foto: NELSON ANTOINE/FOTO ARENA/AE

Quando Dilma Rousseff sofreu o Impeachment, em um curto espaço de tempo, os motivos alegados foram as “pedaladas fiscais”, artifício usado antes por Lula e FHC, sem falar nos governos dos Estados. Embora sua impopularidade, talvez inclusive para quem me lê agora, o fato é que ela não havia sido indiciada em nenhum crime de corrupção ou caixa dois na época. Michel Temer, ao contrário, foi flagrado em escuta, seu intermediário filmado recebendo propina e ainda incorre no crime de obstrução à justiça. Nem Fernando Collor, odiado, tinha tantas evidências contra ele na época do Fora Collor. Temer tem, e ainda está lá.

O impeachment de Dilma foi articulado pelo PMDB, PSDB e outros partidos aliados, com a ajuda de grandes grupos econômicos a quem interessam reformas, principalmente a trabalhista que vai diminuir seus custos de mão de obra (e a renda e os direitos dos trabalhadores). Claro, a propaganda é a de que tal reforma, em particular, traria mais empregos. Eu duvido um. Duvido porque a nossa atividade econômica está parada na produção agropecuária. Esta, por sua vez, substitui mão de obra em grande velocidade. A indústria faz o mesmo e, ainda que haja algum aumento de emprego, eu duvido que isso se traduza em grande recuperação econômica, porque com baixos salários temos baixo consumo. Mas, voltemos ao ponto.

PMDB, PSDB, outros partidos e empresários “surfaram” nas notícias de corrupção na Petrobrás. Usaram a indignação popular para criar o clima para o impeachment, com uma ajudinha de movimentos como o MBL e da FIESP, que pagou os patos na Av. Paulista. A indignação popular foi catalisada com o discurso de ética e retidão dos que assumiram o governo. Deu tudo certo até há pouco. Dilma caiu, Temer assumiu e o PSDB junto. As reformas começaram a ser analisadas e votadas. Mas… mas Temer agora foi flagrado. E pior, junto com ele, Aécio Neves, em gravações piores do que todas apresentadas contra Dilma e Lula.

Se as instituições como MBL e FIESP, bem como o PSDB e outros realmente quiserem o fim da corrupção e a ética na política, Temer já deveria ter caído. Aécio deveria ter sido expulso e preso, bem como Temer. Mas não, nada aconteceu. Alckmin recebeu Temer em São Paulo, os ministros do PSDB acabaram de dizer ao presidente que o partido não sairá do governo. Pior, a comissão de ética que deverá ser analisar casos como o de Aécio, conta com indiciados nas investigações, como Romero Jucá. Tudo é mais escandaloso, ofensivo e um verdadeiro escarro no rosto da população do que antes. Mas o fato é que quem articulou a saída de Dilma tem um sério problema. Quem assume agora?

É por isso que Temer não caiu. Se Aécio ainda fosse o queridinho de metade dos eleitores, Temer estaria fora e Aécio seria provavelmente o candidato. Mas não é. E o PSDB não se entende internamente sobre quem será o candidato e não se entende com o PMDB, muito menos com os demais partidos. A oposição é fraca e muito dela pensa na reeleição de Lula, o que apavora muitos. Marina não tem força e a bancada oposicionista não tem ninguém, nem simbólico a apresentar em uma eleição indireta.

Os empresários temem que o novo escolhido pelo Congresso seja incapaz de retomar as reformas. O PSDB teme perder espaço no governo que ajudou a criar. O PMDB teme tudo, inclusive a prisão de muitos de seus quadros. E então, tudo fica parado. E ficará até que os caciques políticos e econômicos decidam por um nome. Um nome de consenso deles, que possa ser apresentado à população e devidamente incensado pela mídia como  a melhor opção.

E nós? Bem, nós assistimos. Não existimos.

Mas, o que mais me incomoda é que todo o processo de criação do governo Temer, se deu pelo discurso da moralidade. E agora, fica claro que a moralidade é relativa. Depende de quem está sendo investigado, e não porque está sendo investigado ou julgado. A moralidade depende de quem está disputando o poder e não do fato de ser um valor e uma necessidade em si. Sendo direto e informal, a moralidade e a ética que se danem, o que importa, a eles é o poder.

Da mesma maneira em que acusei antes o PT de ser responsável pela crise que levou a queda de Dilma, já que eles nunca deveriam ter feito as alianças que fizeram e, com certeza, devem ter se beneficiado de esquemas de corrupção, de caixa dois, agora eu acuso o PSDB de manter a crise. Acuso de ser farisaico, hipócrita e comprometido só com seu próprio poder, não com o país e, muito menos, como o povo. Eles estão escarrando, repito, no povo.

Em todos nós…

https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2017/06/04/ministros-do-psdb-dizem-a-temer-que-o-partido-permanece-na-base.htm


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Reflexões de Aniversário (e um vídeo). Por Luis Fernando Amstalden

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Aniversário…

Com o tempo, isso fica complicado e, se você passou de uma certa idade, com certeza me entende.

Mas é sempre época de renovar sonhos. Afinal, talvez, esses, os nossos sonhos, sejam a coisa mais importante da vida, uma vez que nos movem, para um lado ou para o outro…

Se o ser humano não houvesse sonhado em voar, voaríamos hoje?

Claro, há os que sonham com a destruição. E chegam a ela.

E há os que sonham só para si. Isso é uma ilusão.

Não podemos existir sozinhos. Precisamos uns dos outros e, no fundo, só somos o que somos porque vivemos em grupo.

Você sobreviveria só no deserto ou em meio a uma mata virgem? Por quanto tempo e em que condições?

Mas, o fato é que é muito fácil esquecer-se disso, de nossa necessidade do outro. E, agora, em época de extremo individualismo, quando aparentemente podemos trocar dinheiro por aquilo que precisamos, fica mais do que fácil, fica “normal” esquecer-se de nossa interdependência.

Como eu disse, isso é uma ilusão.

Só existimos juntos. Só construímos juntos.

Eu pensei nisso ao ver o vídeo deste post.

Não é um vídeo do tipo que talvez ligássemos diretamente ao que digo. Não é um vídeo de pessoas tirando outras da pobreza ou salvando vidas. É menos do que isso, mas belo mesmo assim.

Mil pessoas, diferentes em idade, etnia, aparência, gênero. Mil músicos, cantores, bateristas, baixistas e guitarristas tocando juntos.

A maioria é amador, claro.

Mas o resultado é belo.

Talvez você não goste de Rock ou do David Bowie. Talvez não goste desta música em especial. Eu gosto. Mas, de qualquer modo, há grande beleza aqui, independentemente do nosso gosto em particular. A beleza de o que podemos fazer juntos e da imensa alegria de fazê-lo. Preste a atenção no vídeo. Na alegria dos músicos e na energia que eles criam.

Sim, podemos fazer o mesmo com muitas outras coisas, outros estilos de música, de arte e, mais importante, podemos fazer coisas juntos que mudem o mundo. Juntos temos a energia, a alegria e a força para fazer isso, para mudar a face da terra. Sós não podemos fazer nada, ou quase nada.

A você que me cumprimentou pelo meu aniversário ou só leu o que acabo de postar, eu agradeço e retribuo com o desejo de que você encontre a capacidade de estar e construir a vida, a alegria e o mundo, junto com os demais…

Luis Fernando Amstalden

A Universidade é pública? Em defesa do Prof. Dr. Marcos Sorrentino. Por Luis Fernando Amstalden

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O sociólogo Max Weber, entende por partidos, não somente as agremiações que concorrem às eleições, mas também a outros grupos de interesses que disputam poder e espaço na sociedade. Na prática isso significa que temos inúmeros partidos em uma sociedade, porque temos inúmeros grupos de interesse na sociedade, disputando espaços e influência para fazer valer seus interesses e ideias. Um grupo religioso, por exemplo, que se contraponha ao aborto e um grupo feminista que o defende, são também “partidos” atuantes, se aliando ou não aos partidos políticos estritamente entendidos.

Estas divergências de opinião e busca de interesses são positivas. A sociedade é diversa, múltipla e ninguém tem, sozinho, a resposta para todos os nossos problemas. Historicamente, todas as vezes em que um grupo ou instituição (partidos, no sentido weberiano) ditou sozinho regras de comportamento, tivemos opressão, horror, atraso e erro.  Assim, só evoluímos a partir da oposição de posições, da divisão dos espaços e do poder. Isso requer debate e, se quisermos ser de fato civilizados, um debate racional, respeitoso e não o confronto histérico em que um lado não ouve o outro. Se for esse segundo caso, o resultado é a estupidez que leva à violência.

Infelizmente, parece que vivemos, pelo menos no Brasil, um momento de intensa histeria. Vejo pessoas literalmente berrando contra outras, contra outros grupos e interesses, sem ao menos saberem direito o que o “outro” quer, por que e sem mesmo saberem o  que estão defendendo, por que estão berrado. Uma histeria acirrada pelo uso  de redes sociais, whatsapp e outros meios de comunicação.

Um triste exemplo ocorreu no primeiro semestre deste ano na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, em minha cidade, unidade da Universidade de São Paulo. Um evento organizado pela OCA (Laboratório de educação e política ambiental), pelo Núcleo de Apoio à Cultura e Extensão em Educação e Conservação Ambiental (NACE PTECA/ESALQ) e por outros movimentos sociais, inclusive o MST, teve um barraco montado no gramado central da Escola. O objetivo dessa montagem era o de mostrar como é um acampamento de sem terras e, lá, um deles falar com os visitantes sobre suas vida, sua busca e suas necessidades. Um evento educativo, penso eu, que proporciona a interação, o debate e o conhecimento de posições diversas. Mas, através de um grupo de whatsapp, correu a notícia de que a ESALQ havia sido ‘invadida” pelo MST. A polícia foi acionada e só lá é que os fatos ficaram claros. Não era uma invasão. Era uma mostra cultural.

Só esse fato já é absurdo e mereceria um artigo próprio. Mas não parou por aí. Recentemente o Prof. Marcos Sorrentino, coordenador da OCA, pesquisador da agricultura familiar, reforma agrária e meio ambiente, foi chamado para uma oitiva e contra ele foi aberta uma sindicância. O motivo da mesma seria o fato de que, no evento, a logomarca da ESALQ foi utilizada sem autorização. Além disso, foi argumentado que o evento não havia sido autorizado por nenhum colegiado. Marcos Sorrentino argumenta que em trinta anos à frente das mesmas organizações e atividades, nunca precisou pedir autorização para uso da logomarca, até porque seu grupo é ligado à Escola. Também nunca precisou pedir autorização a um órgão colegiado para promover eventos do tipo. O autor ou autores da denúncia que levou à sindicância, permanecem anônimos.

Muito bem, eu desconheço os trâmites burocráticos necessários para se promover um evento na ESALQ ou para usar seu símbolo. Também admito que tais trâmites, se existem, devem ser seguidos. Logo não questiono a obrigação dos sindicantes de averiguar, como está ocorrendo.

Mas, alguns fatos chamam minha atenção. O primeiro é o do uso da logo. Já vi, pessoalmente, outros eventos e exposições na ESALQ. Muitos destes feitos em ´parceria com grandes empresas, produtoras de agrotóxicos, sementes e transgênicos, além de máquinas agrícolas. E nestas, via sempre a logo citada. Bem, será que todos estes eventos tiveram autorização formal para se colocar junto ao símbolo da Escola? Os trâmites burocráticos foram seguidos nestes casos também ou só são exigidos agora porque se trata do MST? O mesmo vale para a questão da realização autorizada por um colegiado? Todos estes eventos que representam os setores ricos e hegemônicos tiveram a aprovação? Ou será que, por serem exatamente ricos e hegemônicos eles não necessitam disso?

O segundo fato que chama minha atenção está no contexto da denúncia que precedeu a sindicância. Antes, como eu já disse, circulou em um grupo de aplicativo que a ESALQ estava sendo “ocupada” pelo MST. Oras, pelo menos para mim, isso tem “cheiro” de algo “orquestrado”, algo que faz parte de estratégias ilegítimas e imorais de grupos cheios de intolerância e incapacidade de dialogar. Mesmo que haja uma questão burocrática a ser resolvida, ela foi manchada pelo evento anterior e também por um posterior, que cito mais adiante.

O terceiro ponto a me espantar e, porque não dizer, me angustiar, é o de que a universidade em geral e as universidades públicas especialmente, devem ser centros de conhecimento e investigação. Para isso, é necessário que elas acolham a diversidade, a contradição das posições e anseios e ajude a promover o diálogo e a reflexão democrática em busca da razão e do bem comum. Quando se percebe que é muito mais comum ver o espaço cedido à grandes grupos econômicos e a logo usada junto a dos últimos, do que ver os grupos minoritários ou mais pobres representados, tem-se a sensação de que aquilo que deveria ser um local de debate e democracia, tornou-se parcial, privatizado para quem detém o capital. E o mais grave nesta questão, é que a ESALQ, assim como a USP e as demais Universidades Estaduais, são mantidas com o dinheiro público, inclusive e talvez principalmente, posto que são a maioria, com dinheiro dos mais pobres. Cada caixa de fósforos, botijão de gás ou quilo de feijão comprado por um pobre, inclusive um sem terra, tem o ICMS (imposto sobre circulação de mercadorias) cobrado e parte deste imposto sustenta as universidades estaduais de São Paulo. Ora, não é justo e de direito que, então, a posição e os anseios destes que sustentam a estrutura na qual a maioria não estudará, tenha suas posições expostas e debatidas lá dentro? Ou será que eles devem pagar para representar somente posições que são de outros “partidos”, outros grupos de interesses? Se for assim, temos uma situação de escancarada dominação.

Você pode argumentar que não concorda com as propostas e os métodos do MST, daí a restrição a eles. Bem, eu entendo. E para ser franco, mesmo eu discordo de algumas de suas estratégias. Mas eu tampouco concordo com as propostas e métodos de muitas grandes empresas e proprietários rurais que têm franco acesso às universidades. Não concordo com a maneira como os produtores de agrotóxicos colocam seus produtos no mercado, dando a sensação de que são seguros e de que seu uso é a única forma de produzir. Não concordo com a violência perpetrada por muitos latifundiários contra trabalhadores rurais. Não concordo, inclusive, com a tentativa destes mesmos latifundiários, representados e defendidos pelo atual Ministro da Agricultura, Sr. Blairo e pela poderosa bancada ruralista, em mudar a legislação que caracteriza trabalho escravo no Brasil. Tal mudança beneficiaria principalmente estes mesmos ruralistas que exploram trabalhadores, que são “sem terras”, diga-se de passagem, mesmo que não militem no MST. Não concordo com a escandalosa troca de perdão de dívidas e de multas ambientais pelo voto contra processos a Temer, o que foi feito recentemente com ruralistas encabeçando o processo. E apesar de tudo isso, eu ACEITO a presença de todos estes cidadãos na ESALQ e na demais universidades públicas, desde que outros grupos tenham o mesmo direito.

Mas, a universidade é de fato pública?

Se for deve acolher e promover o diálogo e o debate entre todas essas posições divergentes. Deve buscar, com racionalidade e espírito democrático, a investigação séria dos interesses distintos. Caso contrário ela não é pública, mas um instrumento de dominação de um grupo, um “partido” no sentido weberiano, sobre outros.

Por último, um fato ainda mais grave ocorreu na esteira dos acontecimentos. Pedro Stédile, membro da coordenação nacional do  MST, se dispôs a vir para a ESALQ, em um evento de apoio ao Prof. Marcos Sorrentino. É um direito que ele tem, assim como Blairo Maggi o tem. Mas um ex policial gravou um vídeo conclamando as pessoas a irem ao evento, que ocorre na próxima terça feira, dia 28 as 18 horas, para “dar porrada no pessoal do MST”. Este vídeo, que assisti em diversas mídias, é por si só um crime, uma apologia à violência e um apelo ao autoritarismo, à ditadura. É também uma clara evidência de que, o que está em jogo, não é o uso da logomarca da Escola ou das autorizações, mas sim quem pode usar a logo e quem pode organizar eventos lá.

Espero que esse intolerante seja punido nas formas da lei. Mas espero mais. Espero que todo esse contexto seja levado em consideração pelo grupo de sindicância que analisa as acusações conra o Prof. Marcos Sorrentino. E ainda, que a ESALQ, bem como o poder público, tome providências efetivas para evitar agressões e confrontos no evento do dia 28.

Caso contrário, ficará claro para mim que a Escola não é mais pública, mas tem donos. E esses donos não são o povo que a sustenta.

Todo meu apoio ao Prof. Marcos Sorrentino. E estarei presente no evento do dia 28. E julgo haver muito mais em jogo do que as propostas doeste grupo.

Prof. Dr. Luis Fernando Amstalden. Sociólogo.

PS: Tentei anexar aqui o vídeo do tal militar. Mas ele foi apagado das mídias a que eu tinha acesso. Ele já deve ter sido notificado de que cometeu um crime e quer evitar provas.

Se você gosta de pão e mora no Estado de São Paulo, você deveria saber sobre o professor Marcos Sorrentino. Por Mariana Crepaldi de Paula

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Esta é mais uma tribuna de apoio ao professor Marcos Sorrentino. Mas quero fazer dela uma homenagem a esta pessoa surpreendente e extraordinária, ao seu trabalho e  aos seus alunos. Acaba que também vou falar da minha trajetória pessoal, que diabo, ela cruzou tantas vezes o trabalho desse cara que não dá pra desembaraçar esse rolo.

Por uma coincidência iluminada, calhou de eu estar em Piracicaba em Abril  de 2017 e de participar de uma das atividades da Jornada Universitária pela Reforma Agrária, exatamente no dia seguinte à oficina de lona do Gramadão. Já havia acompanhado em tempo real as acusações histéricas de uma associação de ex alunos pelo facebook, naquele tom já clássico de “même-da-nossa-bandeira-jamais-será-vermelha”: “O MST ESTÁ INVADINDO A GLORIOSA!!!” Isto é uma citação. Haja vergonha alheia, haja paciência.

Sobre isso já se disse muito. Só acrescento que a oficina em questão não prejudicou em nada o gramado, como alguns desinformados alardearam à época. Ao contrário, criou ainda mais significado a uma área já plena de histórias e recordações, e isso não é pouca coisa.

O início da atividade foi uma homenagem a Paulo Kageyama, falecido há um ano, e Paulo Freire, seguido de uma mesa redonda. Após a emoção das homenagens,  Lembro de estar sentada ao lado do Marcos e de termos trocado umas impressões sobre as denúncias, eu entre jocosa e enfurecida, ele concordando com as tribunas que já profetizavam que essa onda de denúncias histéricas podia ter desdobramentos bizarros.

Aquela foi uma noite emocionante pra mim. É raro ter a oportunidade de rever o Marcos, e estar com ele numa homenagem “aos Paulos” foi um privilégio. Kageyama e Marcos foram meus orientadores quando passei meus 9 meses de residência no Acre, cujo relatório foi determinante no aceite da minha proposta de mestrado, na Université de Pau et des Pays de l`Adour, e tiveram uma enorme influência na minha formação. Seguramente foram responsáveis por um crescimento profissional que eu nunca teria alcançado sem os desafios que me propuseram.

Aliás, foi depois de formada que tive a dimensão do trabalho que Marcos Sorrentino realizava. Tanto que minha dissertação de mestrado e minha tese de doutorado analisaram trabalhos que foram direta ou indiretamente orientados por ele. Modéstia à parte  ambas foram muito elogiadas.

Um dos principais elogios à tese veio das pessoas da banca que trabalham diretamente com aménagement (algo entre gestão e manejo). Eles ficaram maravilhados com a dimensão de possibilidades de mudança e sustentabilidade dos trabalhos do Marcos, com a coragem e competência em trabalhar assuntos complexos sem reduzir as complexidades, ao contrário, sublimando-as e fazendo delas o ponto de partida humano de onde se ergueria um  futuro possível.

Foram inúmeras conquistas destas pesquisas em termos de governabilidade, empoderamento da população mais vulnerável, melhorias socioambientais em locais chave para produção de água, até o conselho tutelar  (em alguns casos todos os conselhos municipais) de cidades pequenas se beneficiou delas. Mas acho que o que mais impressiona as pessoas em São Paulo passa pelo estômago.

Papo reto: se você já comeu uma pizza ou pão assados em forno à lenha em São Paulo, você deve essa pizza, ou esse pão, ao Marcos.

Simples assim. Até a década de 90 os estabelecimentos que usavam forno a lenha em SP eram obrigados a pagar uma taxa ao estado para reflorestar áreas que seriam destinadas à produção de madeira para venda. CLARO que o estado não fazia nada disso, e os padeiros já estavam tendo que comprar a madeira cada vez mais de longe.

Marcos fortaleceu o conceito de reposição florestal e ajudou a criar duas ONGs que, junto com uma renca de padeiros e pizzaiolos de SP, entraram na justiça pra essa taxa poder ser paga diretamente às associações. Venceram. Hoje se você prestar atenção, em quase todas as pizzarias de SP você vai ver um selinho “nós reflorestamos” e o nome da associação. E São Paulo voltou a ter madeira pra queimar nos fornos.

Marcos tem esse tipo de garra, de capacidade de mobilização, de visão de um futuro possível, e a coragem de empreender ações que potencializam a realização de suas visões. É um professor ímpar, empenhadíssimo em seu trabalho, que realiza o tipo de prática dessa polêmica há mais de 30 anos na ESALQ. E isso nunca deu o menor tipo de problema. Muito pelo contrário. A instituição está muito satisfeita em estar associada aos seus projetos e dividir assim os louros do seu trabalho.

Enfim,  durante a semana foi feita uma denúncia (corajosamente anônima) e Marcos está sob sindicância justamente POR USAR A LOGOMARCA DA ESALQ DURANTE UM EVENTO SEM AUTORIZAÇÃO.

Quer dizer então que quando é pra levar o nome da Gloriosa ESALQ em projetos celebrados internacionalmente tá limpo, mas pra uma semaninha de trabalho com os mais oprimidos precisa de mais documentos que o carimbador maluco consegue inventar? E não vou nem falar nos dois pesos e duas medidas que são os eventos das multinacionais dentro da escola, TRUCO que cada uma destas  atividades questionáveis (sim, eu considero que fazer pesquisa pra empresas privadas com dinheiro público é pra lá de questionável) passe por uma reuniãozinha de departamento sequer. Na década de 90 tinha engenheiro de empresa ligada ao IPEF com o logo da ESALQ no cartão gente!!

Mas na real, até aí ainda estava dentro de uma realidade esperada de um governo golpista, num estado governado desde sempre  pelo PSDB, dentro de uma universidade sucateada há mais de 20 anos pelo dito governo. O atual governador tentou vender sumariamente 30% da área da ESALQ, mas o problema são atividades docentes, claro.

Aí esses dias, um perfeito calhorda, desconhecido da academia, ex militar, convoca uma legião de bandidos (não há outro nome pra isso) pra vir se contrapor a uma manifestação pública de apoio ao Marcos, num discurso repleto de mentiras mal inventadas que só enganam quem quer ser enganado, regado  a incríveis slogans vazios do naipe “força e honra”, insultos, ameaças de violência, organização de grupos armados e por aí vai.

Uma pessoa que chama sem terra de “vagabundo baderneiro” nunca pegou numa enxada pra plantar uma roça na beira de uma rodovia. O MST é o maior produtor de arroz orgânico da América Latina, são recebidos pelo Papa pois fazem parte do conselho do Vaticano, responsáveis, desde 2014, por boa parte da erradicação da fme, segundo a FAO. Quem nega essa realidade nunca se interessou sobre o que é agricultura familiar e camponesa, sobre erradicação da miséria e faria muito bem em participar da atividade pra ver se aprende um pouco, em vez de ameaçar professor.

Esta tribo não faz a menor IDEIA do que seja uma atividade acadêmica, nunca demonstrou interesse pela ESALQ que fosse além do jardim fofo, cartão postal da cidade. Onde estava essa gente quando o atual governador tentava rifar o horto de Itatinga? Ou quando os cortes de gastos, que impedem até realização de bancas presenciais, foram aprovados?

A ESALQ não é um cartão postal. A ESALQ faz parte de uma baita de uma Universidade, fundada, entre outros, por Lévi-Strauss.  O dia em que sargentinhos vierem dizer o que tem que acontecer numa U-NI-VER-SI-DA-DE, rapaz, bora fechar e transformar em jardim mesmo.  Mas aí pode dar adeus a coisas muito interessantes como…
-A dignidade e melhoria de vida de inúmeras pessoas afetadas pelos projetos em que ele se envolveu. Dá muita gente.
-Qualidade da água.
-Pizza.
-Pão.

Acredito que não seja por acaso que uma homenagem ao Paulo Kageyama, que participou ativamente da luta clandestina contra a ditadura, seja  censurada e alvo de tanto ódio, mas é ainda mais fonte de vergonha, ou orgulho, ou uma estranha mistura dos dois.

Não sei se essa carta vai ajudar o Marcos, provavelmente muito pouco. Talvez seja só mais uma demonstração de apoio e um testemunho de gratidão e de carinho. Faz parte de uma eterna preocupação em me posicionar coerentemente, coisa que anda curiosamente cada vez mais fácil de ser feita.

Mariana Crepaldi de Paula
Engenheira Florestal pela ESALQ-USP
Mestra e Doutora em Géographie et Aménagement pela Université de Pau et des Pays de l`Adour
Pos Doc na UFG-Regional Jataí.

Abaixo um link com o vídeo do próprio Marcos falando do ocorrido na Câmara de Vereadores de Piracicaba

http://www.camarapiracicaba.sp.gov.br/sorrentino-precisamos-dialogar-com-todos-os-setores-da-sociedade-37474

A pergunta de Natal. Por Luis Fernando Amstalden

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Por esses dias, uma menina me disse: “Eu vou ganhar presente, mas, sabe o que eu não entendo? Se o aniversário é de Jesus, porque nós é que ganhamos presentes?

Ela já está se tornando mocinha, mas ainda tem o coração de criança, o que é muito precioso. E eu fiquei tão surpreso com a pergunta, que não consegui dar uma boa resposta. Tento por aqui, agora.

Gigi, nós ganhamos presentes e não Jesus, porque somos egoístas. Porque vemos no cristianismo e na mensagem de Jesus, aquilo que queremos ver, e não necessariamente o que está nos Evangelhos. Assim, trocamos presentes, ficamos bravos secreta ou abertamente quando não os ganhamos ou ganhamos algo de que não gostamos, e nos esquecemos do sentido do Natal.

Nós tornamos o Natal uma festa de frustrações, na qual os pobres, que não podem comer coisas finas ou presentear seus filhos, sofrem mais intensamente do que no restante do ano. Nós tornamos o Natal uma festa de comer e beber, onde nos empanturramos e nos embebedamos desprezando até nosso bem estar depois. Nós tornamos o Natal uma festa desprovida de um significado mais intenso, mais profundo.

Nos esquecemos ou não queremos pensar que, Cristo, nasceu em um estábulo, pobre, rodeado de animais e pastores pobres. Nasceu longe de casa, em terra estranha e não foi aceito nas estalagens, tendo que nascer quase ao relento. Muitos não acreditam que isso tenha realmente acontecido. Mas, quer saber? A mim não importa. O que importa é a mensagem que está nessa forma como acreditamos que Ele nasceu. Pobre, dentre os pobres, frágil e sem lar. E, diz a história, assim ele viveu ainda, até o fim, pobre dentre os pobres, falando do amor, da paz, da solidariedade e da justiça. Mas nós, nós nos esquecemos disso, assim como nos esquecemos de tantas coisas, perdidos em nosso egoísmo e em um mundo que prega e vive o individualismo e o narcisismo, a vaidade.

Mas sabe? Não precisa ser assim. Há um outro Natal que podemos viver. Um Natal mais “rico”, no sentido da “riqueza” de Jesus.

Você pode sim, ganhar algum presente, comer bem e ficar feliz no Natal. Na verdade, Jesus não precisa de presentes. Mas, aqueles que ele defendeu, os pobres, os fracos, os doentes, os solitários, os idosos, esses precisam. E não necessariamente de um presente material, comprado. Eles precisam do seu amor, do seu carinho, da sua solidariedade.

Gigi, não há nada mais bonito do que ver, no olhar de alguém que ajudamos, o alívio de ter ajuda, o alívio de se sentir amparado. Eu vi esse olhar muitas vezes, mas muito menos do que deveria, confesso. E posso lhe garantir, isso é o que nos dá a maior alegria do mundo. Mesmo para aqueles que não são cristãos, mas acreditam no bem, no amor e na compaixão e na justiça, não há nada melhor do que um olhar de gratidão de quem ajudamos, mesmo o olhar de gratidão de um pequeno animal que salvamos.

Neste Natal, Gigi, ganhe o seu presente, como eu disse, e não precisa se preocupar em presentear Jesus. Mas, Gigi, faça algo que Ele faria, Dê algo que alguém necessita muito, mesmo que seja um abraço, um sorriso, uma palavra de alento, de consolo. Dê algo a quem tem fome e tome o partido da justiça, sempre. Neste Natal, Gigi, descubra o verdadeiro significado da festa, o nascimento do amor e da esperança contra toda a lógica egoísta dos mais poderosos.

E não se importe se parecer pouco o que você fizer. Na escuridão, até mesmo uma vela bem pequenina, gera uma grande luz.

Comemore o “nascimento” dessa luz, deixe-a nascer em seu coração e cultive-a por toda a sua vida. E você será, Gigi, muito mais feliz do que poderia imaginar.

Feliz Natal, de verdade, minha querida.

E Feliz Natal verdadeiro a todos que lerem esse texto.

Luis Fernando Amstalden

Dedicado à Giovana Ferraz Perpétuo Libardi, que me fez a pergunta crucial.

A culpa é dos Patos. Por Luis Fernando Amstalden

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Imagem da Internet

Eu soube pelas redes sociais. Uma avalanche de posts mostrava fotos do desfile da escola de samba “Paraíso da Tuiuti”. O tema geral: “A escravidão acabou mesmo?”. Vi e gostei. Até brinquei pelo Facebook dizendo eu não ligava para carnaval (o que é fato), mas era “Tuiuti desde pequenino”. A reação veio um pouco mais lenta do que a divulgação, mas veio e continua até agora. Centenas de comentários, posts e artigos criticando a escola passaram a ser compartilhados. A primeira que eu vi dizia: : “A Tuiuti, a escola lacradora em 2018, é aquela que em 2017 atropelou várias pessoas na Sapucaí, matou uma repórter e não teve uma única punição por isso? Atá”.

Não entendi. O que tem a ver o acidente com o enredo da Escola? Por um acaso devido ao acidente, ela não pode escolher seu enredo? Não pode criticar a mudança na CLT, cujos efeitos muitos trabalhadores só começam a perceber agora? Não pode falar em racismo ou criticar Temer? Ora, a Escola deve responder pelas suas responsabilidades, mas negar o enredo crítico por isso é o mesmo que negar as recentes críticas da Rede Globo aos privilégios do Judiciário porque ela tem pendências judiciais e trabalhistas, ou ainda porque ela é de direita.

Depois os comentários subiram de tom. Críticas agressivas ao carnavalesco, que seria do PSOL e futuro candidato. Críticas ao fato da Escola não pagar direitos trabalhistas aos seus funcionários, acusações de hipocrisia nesses itens. Bem, eu não sei se o carnavalesco é do PSOL e muito menos se a Escola deixa de registrar seus empregados. Mas, se o carnavalesco for e for mesmo pretendente a uma carreira política, em que isso diminui o mérito do enredo? A mudança da CLT agradou a população? Aumentou significativamente o número de  empregos? Nos tirou da crise?

O mesmo se aplica aos outros questionamentos do enredo. O  racismo e a servidão modernos desapareceram? Temer é querido? Por acaso ele não está sendo acusado de um crime mais explícito do que aquele que levou ao impeachment de Dilma?  E, pior, não está sendo protegido da acusação por deputados que vendem sua proteção por emendas e leis, uma das quais até tentou descaracterizar o que se considera trabalho escravo a pedido de ruralistas? Por acaso tudo isso, independentemente da filiação do carnavalesco e de suas possíveis pretensões políticas, não é percebido pelas pessoas, que aplaudiram a Escola? Então porque as críticas? Por que essa tentativa de calar o que foi “dito” se descaracterizando quem “disse”? Por que os posts não discutiam, então, o que se criticava, como a figura de Temer, a CLT, o racismo? Por que só se preocupavam em falar da pretensa “hipocrisia” da Tuiuti?

Não sei se a Tuiuti deixa de registrar seus empregados. Se deixa está errada, mas aposto que as outras também não registram. Então porque só ela foi criticada e nem a Beija Flor, que falou da corrupção e fez claras alusões ao crime como desigualdade social, não recebeu as mesmas “vaias digitais”?

Penso que a culpa é dos patos…

A Tuiuti ousou, em uma ala e em alguns carros, representar os      “Patos da Paulista”, as alegorias pagas pela FIESP durante os grandes protestos pelo impeachment e contra a corrupção. Ousou mostrar nos carros, que muita gente foi manipulada naquelas manifestações. E foi isso que incomodou tantos.

Eles acusam a Escola de ser hipócrita.

Mas para mim, hipócritas são a FIESP, os partidos que promoveram o impeachment, os grandes veículos da mídia, os movimentos como o MBL e o “Vem para a Rua”. E são hipócritas NÃO porque eu acredite que o PT estava certo no seu governo. Já escrevi sobre isso muitas vezes.

Mas são hipócritas porque se marcharam contra a corrupção, agora se calam diante de outros corruptos. Porque seu candidato Aécio Neves foi pego em gravações que são provas de corrupção mais evidentes do que aquelas que levaram Lula à condenação, mas as panelas silenciaram e os movimentos se calaram.

São hipócritas porque alguns líderes dos movimentos se “acertaram” agora, como “assessores” de partidos do atual governo, alguns, aliás, são tão moleques que não serviriam para assessorar um carrinho de picolés, mas estão lá. São hipócritas porque o PSDB e outros partidos que “lutaram” pela honestidade, ao perderem seu “futuro presidente”, Aécio, não ousaram serem coerentes e terem brio, deixando o governo Temer. Alegam que fazem isso em nome da estabilidade econômica. Mentira. Não há estabilidade, há interesse em se manter nos cargos. E ainda por cima nem ao menos se manifestam contra o fato de que o Ministério do Trabalho está vago a mais de um mês, porque a filhinha cujo papai lhe “comprou” o cargo, está sendo processada e investigada por diversos motivos. E mesmo assim, os “guardiães da moralidade”, seja a FIESP, seja o MBL, seja o PSDB ou os que marcharam, não dizem nada.

A Tuiuti não é hipócrita. Ainda mais se for mesmo ligada ao PSOL, afinal o partido foi contra as reformas e ao impeachment e isso é seu direito de posição. Se a escola aceitou o enredo e se colocou também contra esses fatos, também foi coerente e corajosa, mais corajosa do que a Beija Flor que pisou em Sérgio Cabral, que já está preso. Foi boa sim, a agulhada da Beija Flor, mas a Tuiuti foi melhor ao mostrar Temer como ele é.

Hipócritas, para finalizar, são os que reclamam de que o dinheiro público foi usado para criticar os “patos”.

E são porque o dinheiro público está sendo usado para coisa muito pior do que isso. Está sendo usado para pagar bilhões em emendas aos parlamentares, em troca de proteção a bandidos, quebrando a tão incensada contenção de gastos públicos. E os que amam os patos da FIESP, não dizem nada…

Tenham vergonha na cara, vocês que criticam a Tuiuti e “combatem a corrupção e o mal uso do dinheiro público” e voltem às ruas então.

Ou assumam que nunca foram contra a corrupção, só contra os corruptos de quem não gostavam.

Prof. Dr. Luis Fernando Amstalden

Carta aberta à desembargadora Marília Castro Neves sobre Marielle Franco. Por Luis Fernando Amstalden

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Sra. Desembargadora Marília Castro Neves

Quando alguém é aprovado em um concurso e assume a magistratura, como a Sra., deveria bem saber, está assumindo uma posição de muita responsabilidade e também muito delicada.

Pelas mãos de tal pessoa a sociedade tenta fazer cumprir leis. Não necessariamente fazer justiça, uma vez que tal conceito é muito subjetivo e, infelizmente, não universal, não destinado a todos, principalmente no Brasil,  mas pelo menos fazer cumprir leis.

E para tanto, como a Sra. Deveria saber, são necessárias várias características, das quais cito algumas, dentre muitas outras.

A primeira característica é a discrição. Penso que um magistrado não deve se pronunciar sobre casos que julga, mas TAMPOUCO sobre casos que não são de sua alçada. E não deve nunca se pronunciar em público sobre crimes que julga ou não, posto que seu cargo pode levar pessoas a tomar seus pronunciamentos como a sentença final ou a “verdade”. Claro que um magistrado tem direito de ter uma vida privada e opiniões próprias, mas, tirando a esfera familiar e dos amigos mais íntimos, tem que ter muito cuidado com o que diz. E mais ainda em redes sociais. Seria melhor  abster-se delas ou de comentários relativos a casos que a o Poder Judiciário terá que tratar.

A segunda característica é a da prudência. Um magistrado tem que ser extremamente prudente, como já aponto acima. E isso NÃO somente no exercício das suas funções, mas TAMBÉM na sua vida pública, o que inclui as redes sociais. Quem é imprudente em comentários ou análises preliminares de fatos recém ocorridos, passa a imagem de ser TAMBÉM imprudente na sua atividade profissional, a de julgar.

A terceira e última característica que cito aqui é a da imparcialidade. Espera-se, pelo menos em tese, que magistrados sejam imparciais. Que antes de emitir uma sentença ESTUDEM o resultado das investigações e ANALISEM a veracidade e procedência dos fatos. Se não for assim, se um magistrado não for imparcial, não existe aplicação possível da lei, muito menos de justiça, que como já disse, é algo infelizmente bem parco no Brasil. O mesmo comportamento, formando uma tríade com os demais, se aplica a comentários públicos. Um magistrado não deve se pronunciar sobre casos criminais que NÃO CONHECE em público.

Ora, ao comentar em uma rede social o assassinato da vereadora Marielle Franco, a Sra contrariou TODAS as características que cito, contrariou o mínimo que se espera de um magistrado.

Comentou um caso grave de assassinato  em uma rede social pública, ou pelo menos em uma comunidade desta rede que tem muitas pessoas, portanto não pode ser considerada privada. Afirmou que a vereadora assassinada teria ligações com o tráfico, tornando suas palavras, de alguém que detêm poder e responsabilidade, uma “verdade” caluniosa e difamatória reproduzida exaustivamente por internautas preconceituosos ou pouco esclarecidos, que viram nas palavras de uma desembargadora uma explicação definitiva. Nesse momento a Sra. demonstrou um comportamento indiscreto e imprudente, indigno do cargo e da responsabilidade que detém.

E, pior ainda, sem conhecer o caso e sem conhecer a vereadora Marielle Franco, como admitiu, foi absolutamente parcial na sua fala. Foi parcial porque emitiu uma opinião que reproduz a “equação” simplista e perigosa que associa  e atribui aos pobres, negros e favelados uma ligação automática com o crime e a organização criminosa. Foi parcial porque se afirmou que a atividade de militância de Marielle era a responsável pela sua morte, culpando a vítima pelo próprio assassinato. Foi parcial porque afirmou que o caso era “mimimi” da esquerda, sendo que a Sra. não é magistrada de correntes ideológicas, mas de toda a população e das leis, não de uma corrente política ou partidária. Foi parcial porque afirmou que Marielle era “cadáver comum” sendo que NÃO EXISTEM CADÁVERES COMUNS entre vítimas da violência, sejam elas cidadãos honestos, policiais ou até criminosos assassinados. A imparcialidade da lei deve garantir o direito a vida de TODOS, logo nenhum cadáver vítima de morte violenta deve  ser “comum”, mas sim objeto de sua atenção e sentença igualitária.

Ao ter feito tal comentário indiscreto, imprudente e parcial, a Sra. reforçou o preconceito de milhões que acreditam piamente no estereótipo perverso que atrela negros, pobres, favelados, gays e agora esquerdistas ao crime e à organização criminosa. Milhares de pessoas reproduziram suas palavras e vão reproduzir ainda por muito tempo, a despeito de qualquer racionalidade. E isso é extremamente perigoso, aumenta a violência, a injustiça e criminaliza os mais pobres e fracos na sociedade. Historicamente tal preconceito gerou genocídios e, temo eu, falas como a sua alimentam essa possibilidade histórica.

Sra. desembargadora Marília Castro Neves, a Sra. faz parte de um grupo que está, hoje, sendo questionado por seus benefícios que para muitos, inclusive para mim, são privilégios dignos da antiga “nomemklatura soviética”. E tanto os seus benefícios quanto os seus rendimentos são pagos por milhões de cidadãos, inclusive esse que lhe escreve, através de nossos impostos. A Sra. ofendeu milhões de seus pagadores, ofendeu o cargo de magistrada e até mesmo os seus colegas, que agora terão mais um motivo para serem criticados em seus vencimentos.

A Sra. será representada pelo partido da Vereadora Marielle Franco, mas eu não creio que seja responsabilizada em proporção ao dano que penso ter causado, até porque, a maior punição que a Sra. pode ter é ser aposentada com salário integral, que não é o caso, claro, mas que, mesmo que fosse, seria não uma punição, mas outro privilégio.

Assim, descrente de sua responsabilização legal, faço um apelo ético, já que não lhe conheço e lhe dou o benefício da dúvida, como a Sra. não deu à Marielle. Peço que retrate-se publicamente para com a família da vereadora, seus eleitores e os milhões de brasileiros que leram seu comentário infeliz, e que daqui por diante, a Sra. pelo menos tente ser em seus comentários públicos, aquilo que se espera de sua atitude profissional: discreta, prudente e imparcial. Caso contrário, a Sra. reforçará ainda mais preconceitos genocidas e a descrença no Poder Judiciário, já tão desmoralizado.

Prof. Dr. Luis Fernando Amstalden

Cidadão que ajuda a custear seus vencimentos.

PS: não a chamo de “meritíssima” por dois motivos. O primeiro é o de que, ate onde eu sei, não existe lei que me obrigue a isso. E o segundo é porque o meu conceito de “mérito” de onde vem a palavra “meritíssima” – cheia de mérito – é um tanto mais exigente do que o vulgo utilizado nos tribunais.


Dias de insana realidade. Por Luis Fernando Amstalden

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Alguns amigos e amigas estão me cobrando um texto ou uma análise do que está acontecendo hoje e por estes dias.

Mas tudo é tão insano que tenho dificuldade em escrever.

Eu não tenho dúvidas de que a corrupção no governo do PT foi grande e, Lula, de uma forma ou de outra, esteve envolvido ou ciente.

Mas as provas são mais frágeis do que aquelas contra Aécio e Temer, e estes dois nem podem ser julgados.

Por outro lado, se o STF julgar que Lula não deve ser preso, Eduardo Cunha e outros usarão o precedente para pedir liberdade. Aliás, isso ajudará Temer e Aécio a nunca serem presos, assim como muitos outros.

Os que celebram o “fim da corrupção” com a provável prisão de Lula, não percebem que o jogo é outro. Embora a sua liberação possa beneficiar políticos já presos ou em vias de o serem, como eu disse, é óbvio que o interesse dos políticos e do STF não é o da justiça ou fim de corrupção e privilégios, mas os interesses de grupos e estratos sociais a que pertencem. Se o STF de fato fosse um guardião da constituição, retiraria o auxílio moradia de juízes que ultrapassa o teto constitucional e custa mais de um bilhão de reais aos cofres públicos, mas não o fez e não fará.

Se os juízes quisessem a justiça e a ética, abririam mão desse auxílio e de outros privilégios, mas não vão, e alguns fazem greve de fome em nome da “justiça e da ética”.

Ao mesmo tempo, generais da reserva e da ativa, falam o que não deveriam. Falem em Golpe, em quebra da ordem constitucional e são defendidos por Temer que alega “liberdade de expressão”. Defesa insana, defesa da liberdade de pregar o fim da liberdade. Temer não se importa de fato com a democracia, mas com os seus interesses e os dos seus amigos e vai fazer o que for preciso para que ele e sua quadrilha permaneçam soltos, ricos e no poder.

Ao mesmo tempo, centenas de milhões de brasileiros pobres estão alheios a tudo isso, como sempre estiveram alheios em relação as lutas de poder da “Casa Grande”. Nâo os culpo, eles nunca tiveram a real cidadania e estão ocupados demais tentando viver para se inteirarem do que sempre lhes foi distante, a não ser em épocas de eleições quando se pode trocar um voto por alguns tijolos.

Enquanto esses milhões estão alheios, milhares de pessoas de classe média ou alta pedem golpe militar PROTEGIDOS pela PM, a mesma que bate em manifestantes de esquerda. E a “esquerda”, como tenho dito à exaustão, não se reciclou, não se reviu e abandonou a organização da cidadania dos pobres, deixando as periferias entregues ao crime organizado, aos pastores que prometem a riqueza imediata e aos políticos de carreira, velhos no poder. A esquerda e Lula optaram por eleger o executivo e negociar com o legislativo clientelista e coronelista, digo isso há muitos anos, desde do segundo mandato de Lula. Agora eles colhem os frutos amargos do cultivo de relações dom as velhas ratazanas do poder.

E para coroar, Sérgio Moro defende o privilégio do auxílio moradia na mídia, que ele tanto preza, desmerece alguns delatores por serem bandidos (e que acusaram os que são próximos do magistrado) mas aceita o de outros delatores, também bandidos, que delatam quem ele prefere que delatem. Aliás, eu me pergunto, qual a diferença entre o privilégio de ter o aluguel de um “triplex” pago por empreiteiras e o aluguel pago pelos contribuintes em forma de auxílio moradia. Para mim, se Lula de fato recebeu esse “privilégio”, Moro recebe também. E nós pagamos a ambos.

Nestes dias, o Brasil se revela como sempre foi. Um país de insana realidade, no qual a luta não é pela democracia, pela oportunidade a todos ou pelo próprio desenvolvimento, mas pela manutenção do poder de quem o tem, às custas de qualquer coerência ou ética.

O PERDÃO DO SOBREVIVENTE. Por Luis Fernando Amstalden

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Thomas Vernetianer em sua palestra em Piracicaba. Foto Luis Fernando Amstalden

Jayme Rosenthal, meu falecido amigo, conseguiu instituir em Piracicaba o Dia da Lembrança, destinado a relembrar o   Holocausto e o massacre de judeus e outras vítimas do nazismo. Jayme se foi, infelizmente, mas seus filhos, Daniel e Marcelo Rosenthal, deram sequência à organização das solenidades.

Desde o início, fui convidado para as os eventos. E, graças ao meu amigo, pude, depois, conhecer e conversar pessoalmente com dois dos sobreviventes que vieram falar nos eventos. Isso é um privilégio muito grande, não só porque é raro ter uma oportunidade destas no interior como pelo fato de que, com o passar do tempo, eles se vão.  São “bibliotecas” que se perdem, porque mesmo que suas memórias tenham sido registradas em livros e depoimentos, nunca podemos apreender toda a miríade de sentimentos e emoções advindas do horror por que passaram.  Assim, conversar com eles frente a frente nos faz compreender mais.

Foi isso o que aconteceu quando conheci Arieh Yaari e Thomas Venetianer. Com o primeiro, me encontrei somente uma vez. Ele nos deixou não muito depois disso. Com o segundo que era ainda criança ao ser aprisionado com sua família, eu pude me encontrar duas vezes e ouví-lo em palestra e em conversa informal.

O segundo encontro foi em 2017, no mês de abril, data do evento. Eu o ouvi de novo em palestra. Ouvi de novo a sua narrativa de como seu pai tentou livrar a família da perseguição, mudando de cidades e até conseguindo, com um padre que era seu amigo, um certificado falso de batismo. De como, apesar dessas tentativas, acabou sendo preso com seus pais. De como um comandante nazista, fraturou a clavícula do seu pai, quando este tentava se aproximar do filho assustado no campo de triagem. E daí, como ficou com sua mãe no campo de Theresienstadt, onde aproximadamente trinta e três mil judeus morreram, sendo muitos outros enviados para Auschwitz, onde a  maioria foi assassinada. Dos 140 mil prisioneiros que passaram por Theresienstadt, somente 19 mil sobreviveram. O pai foi  deportado para um campo na Alemanha.

Ouvi seu relato sobre a caxumba que contraiu e dos esforços de sua mãe, que trabalhava na enfermaria, para conseguir remédios e salvar a vida do filho. De como foi o dia em que os soviéticos libertaram o campo e o relato comovente do soldado que saltou da traseira de um tanque de guerra que entrava no campo, e correu até o pequeno Thomas e o abraçou, chorando. Da comida que os soldados deram aos prisioneiros, com grande generosidade, até porque o Exército Vermelho não era famoso por suas provisões fartas. Mas do efeito perverso que tal solidariedade causou. Muitos prisioneiros subnutridos demais, adoeceram ao consumir gordura e proteína rudes dos soldados e vieram a falecer, em número maior até do que a média, nos dias posteriores.

Thomas conta que somente depois que os médicos do Exército Vermelho chegaram, é que a alimentação foi adequada ao estado de saúde dos prisioneiros, readaptando-os devagar para não causar choques digestivos que a saúde combalida não aguentaria.

Ouvi ainda a história de como ele e sua mãe conseguiram reencontrar o seu pai, reunindo de novo a família. E depois, de como seu pai, com a ajuda de uma funcionária do consulado brasileiro, obteve um visto para emigrarem ao Brasil. E, finalmente, de sua primeira impressão de nosso país: centenas de balões (era mês de junho) brilhando na noite, enquanto subiam a Serra do Mar em direção a São Paulo.

Em todos esses relatos, que ouvidos duas vezes, na segunda com mais detalhes, fiquei impressionado com a calma didática que Thomas contava sua história. A garganta dos espectadores apertava pela emoção, mas a voz dele nunca tremia ou se alterava.

Em uma sessão de perguntas, na segunda palestra, indaguei sobre a então recente (e controversa) visita de Jair Bolsonaro à Hebraica do Rio de Janeiro. Ele foi direto. xondenou a visita e afirmou que ela não deveria ter acontecido. Justificou sua posição dizendo que um homem que faz afirmações de intolerância e contra os direitos humanos, não deveria ser recebido entre os judeus. Disse ainda que a liberdade de expressão tem limites e não se pode aceitar que alguém tenha a o direito de disseminar ideias e ideologias de ódio e violência, ideias que atentam contra a liberdade de expressão e os fundamentos da democracia.

Nesse momento de perguntas livres, alguém se levantou e indagou a Thomas se ele sentia ódio ou ressentimento dos alemães. Ele  negou e contou a seguinte passagem de sua vida.

Já adulto e casado, Thomas foi trabalhar na Suíça e viveu lá alguns anos com sua esposa.  Esta, por sua vez, fez amizade com uma alemã e os dois casais, um judeu e outro cristão começaram a se frequentar socialmente. O alemão, marido da amiga da esposa de Thomas, não escondeu que seu pai e avô haviam sido nazistas e participado da guerra. Thomas tampouco escondeu que fora  prisioneiro dos nazistas em um campo. Mesmo assim,  mantiveram o relacionamento social.

Em um feriado prolongado, o amigo alemão convidou o casal para uma viagem à Munique, sua cidade natal Eles tinham uma casa lá e convidaram Thomas e sua esposa para ali passarem o feriado. Convite aceito, a viagem aconteceu.

Em um dos dias em que estiveram lá, o alemão convidou Thomas para um passeio, só os dois. Mas não disse para onde iam, disse apenas que era para um lugar que ele queria mostrar. Thomas esperando ver algum ponto de interesse turístico ou algo assim, estranhou o não convite à sua esposa.

Depois de dirigir por algum tempo, o alemão parou em frente a um lugar e eles desceram. Era o local do antigo campo de concentração de Dachau, por onde passaram 160 mil prisioneiros dos quais , dos quais 27 mil morreram alí mesmo.

E lá, em frente a um memorial às vítimas, , o alemão fez algo surpreendente.

Ajoelhou-se no chão e pediu perdão a Thomas. Pediu perdão pelo que os nazistas fizeram. Pediu perdão pelo povo alemão e pelos seu pai e avô.

Foi então, ao contar esse fato, que a voz de Thomas se embargou e ele irrompeu em lágrimas. Um choro breve, mas intenso, que paralisou a todos nós que assistíamos. Não eram as lembranças do sofrimento que o levavam às lágrimas, mas a lembrança do pedido de perdão.

Penso que Thomas já havia perdoado bem antes. Não guardava rancor ou ódio, caso contrário, como teria convivido com o filho de nazistas? Mas, talvez naquele momento em que recebeu o pedido, seu perdão tenha, finalmente, se externado e liberado definitivamente Thomas do peso do ódio, do ressentimento.

Chovia naquela tarde, quando voltei a pé para minha casa. Eu estava tão absorto pelo que vi, que ignorei poças d´água, encharcando meus pés. Eu pensava se seria capaz de um perdão tão grande. Eu, que tenho dificuldades em perdoar até ofensas verbais. Acho que estou muito abaixo de tal nobreza.

Lembrei-me de um trecho do épico milenar indiano, o Ramayana. O trecho, do qual reproduzo uma parte aqui,  diz:

“Oh! Homem, sou o demônio guerreiro Indrajit, difícil de se ver. Luto invisivelmente escondido da tua vista por encantamento. Ataco por trás dos ventos selvagens do mau pensamento; apago muitas luzes desguardadas. (…) Podes esconder-te, à noite, do sol, mas nunca do te próprio coração (…). Todos os mundos observam tuas ações e, portanto, o perdão é Dharma. (…) Dilata o coração. Renuncia à cólera. Acredita-me teus poucos dias nesta terra estão contados, fazes agora mesmo uma escolha rápida e não penses em outra.”

Dharma… Dharma quer dizer “verdade”, “caminho”. E o Dharma, segundo o Ramayana, está no perdão.

Thomas Venetianer encontrou a verdade, o caminho.

Que todos nós possamos fazer o mesmo.

Prof. Dr. Luis Fernando Amstalden

Texto dedicado a Jayme Rosenthal, Arieh Yaari, Thomas Venetianer e a milhões de vítimas que sofreram o Holocausto e ainda sofrem a violência e a injustiça hoje.

Os milagres pelas nossas mãos. Por Luis Fernando Amstalden

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Frei Francisco Erasmo Sigrist, que faleceu a vinte anos atrás, abdicou dos confortos para se dedicar aos pobres, na maior coerência possível com o Evangelho, com os ensinamentos de S. Francisco, seu mestre.
Ele construiu noventa e oito casas, mas morreu em um barraco. Deixou de comer várias vezes, para dar sua comida às crianças que nada tinham.
A meu ver, essas atitudes são os milagres que, muitas vezes, esperamos de forma sobrenatural. A meu ver, Deus age por nossas mãos. Age quando nós, ao contrário de toda lógica do mundo, onde impera a lei do mais forte, do mais rico, do mais poderoso, ajudamos aqueles que precisam que sofrem. Age quando nós permitimos que Ele aja através de nossas mãos.
Foi sobre isso que falei na missa em homenagem ao frei Sigrist no Jardim Glória, no último sábado, dia 26 de maio de 2018. Alguns não concordaram e fui criticado. No entanto, penso que o frei concordaria com o que eu disse.
Posto aqui o vídeo de minha fala.
A filmagem foi de improviso, com um celular. Feita por meus irmãos Ana e Júlio.
Assim não ficou tão boa, em particular o som.
Mas compartilho assim mesmo.
Abraços.

O que perdemos de fato? Por Luis Fernando Amstalden

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É, perdemos a copa de 2018…
Mas o que perdemos de fato?
Claro alguns perderem dinheiro, seja em apostas seja em investimentos em propaganda ou venda de bebidas que agora não vão ser tão rentáveis. Mas, e o restante de nós?
Eu penso que o que de fato perdemos, foi a potência que nunca tivemos. Desde muito, desde o início, fomos uma promessa, um território grande, com recursos naturais abundantes, com população variada que poderia ter se desenvolvido, poderia ter alcançado um estado de bem estar coletivo, mas nunca conseguimos.
Desde o início, fomos e somos um país de poucos donos. Ontem de senhores de escravos, hoje quase isso. Um país em que a grande maioria não tem renda decente, não tem segurança, seja física seja social, não tem acesso a medicina básica, muito menos avançada. Um país em que a maioria do povo não tem poder. Em que a maioria é impotente.
E agora, com um governo fantoche, cuja maior preocupação é não ser preso, talvez esteja tudo pior. Os abutres do poder, velhos políticos ou novos ricos, assalariados dos interesses das grandes corporações ou donos de grandes propriedades, demonstram ainda mais nossa impotência. Leis trabalhistas afrouxadas à espera de mais empregos que não virão, posto que máquinas são mais lucrativas. Perdão de bilhões em dívidas de empresas para com a previdência social e ao mesmo tempo a proposta de mudanças na aposentadoria. Dívidas de bilhões por crimes ambientais perdoadas e, de quebra, uma “modernização” (termo cínico) nas leis que regulam o uso de agrotóxicos, pode liberar produtos cancerígenos a mais. Políticos presos de acordo com o perigo que podem representar para os poderosos e não de acordo com a lei, até porque se fosse por ela, outros, muitos outros estariam presos. Tudo isso e muito mais ressalta a nossa impotência.
Sempre foi assim. Nunca tivemos o poder, nunca tivemos a cidadania. Essa só aos grandes proprietários. E o futebol, há, o futebol, sempre nos eu essa outra “potência”. A sensação de que em alguma coisa somos bons, em alguma coisa somos unidos. De que de alguma coisa podemos nos orgulhar. Sim, somos pentacampeões. E, sim, os jogadores, na maioria, vem as classes pobres e subiram na vida.
São os “ex pobres” vindos de bairros populares e as vezes até de favelas. Eles conquistaram o respeito, a segurança e a fama que queremos, mas não temos. Eles cuja biografia foi largamente cultivada pelas redes de TV e mídia em geral, são, ao contrário, o exemplo do que se mostra, o exemplo da exclusão social, porque demonstram que para os pobres a melhor e talvez uma das pouquíssimas formas de ascensão, é ser “bom de bola”.
Mas mesmo eles são a minoria da minoria. Milhões de crianças e jovens jogam futebol, com bolas de verdade ou de meia, em chão batido ou pequenos campos, e muito poucos ascendem.
No fundo eles demonstram a impotência do povo, mas são “construídos” de forma contrária.
E agora eles perderam. Nós, na verdade, perdemos.
Perdemos a pequena ilusão eufórica de sermos bons em algo, de vermos nossa fraqueza real transformada em força midiática.
Agora, talvez, muitos em busca dessa “potência” perdida se voltem para a dura realidade e, em busca de algo a que se agarrar, votem em um candidato fascista, que como todos os fascistas, prometem o poder pela força, pela violência.
Mas, se isso ocorrer, será uma solução falsa, como sempre é o fascismo. O poder continuará nas mãos de poucos e aqueles que já o tem, se apressarão em fazer alianças com o candidato fascista, que além de tudo é notoriamente burro, e vão tornalo um marionete, como o governo atual.
E nós teremos perdido outra vez. Teremos perdido algo muito mais importante: a chance de termos um poder real, que de fato faça diferença em nossas vidas.
Somos pentacampeões de futebol, mas nunca ganhamos a taça da democracia e da cidadania reais.
E vamos continuar sem ganha-las até o dia em que percebermos que o poder que queremos e precisamos está na união, na nossa união.
Porque o “time” dos que agora tem esse poder, é bem mais unido do que percebemos.

O novo somos nós. Por Luis Fernando Amstalden

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Nunca deixei de votar e nem votei em branco. Isso porque o “não voto” é, na minha opinião, negar a mim mesmo o mínimo de direito e responsabilidade que tenho como cidadão.
E dizer que não vai votar porque não quer ter responsabilidade sobre o que advir da eleições, significa exatamente o contrário, significa ser responsável pela eleição daquele que, talvez, seja o candidato que tenha as piores propostas e que se elegerá por um carisma pessoal ou uma imagem feita pela mídia. Assim você assume a responsabilidade de, com seu voto nulo ou abstenção, deixar o país nas mãos do pior, do mais mentiroso ou construído.
Mas, assim como todos eu estou cansado da nossa política viciada e corrupta. Estou cansado dos mesmos no poder e das suas falcatruas que são assassinas, porque indiretamente causam mortes por um ou outro motivo. Logo, coo todos, eu quero algo novo…

E quem é o “novo”? Infelizmente, em termos de candidatos à presidência, não há novos.. Todos, com exceção talvez de Guilherme Boulos, estão ligados a grupos que já estão ou estiveram no poder ou estão, eles próprios no poder legislativo ou executivo há bastante tempo. Um partido ou um candidato pode intitular-se “novo”, mas eu não acho que nenhum realmente o seja.
Sendo assim, penso que não me resta opção a não ser escolher, dentre o que temos no cenário, alguém que tenha duas características fundamentais.
A primeira é que represente o mínimo do que eu espero em temos de governo e que tenha realmente condições de fazer o que se propõe. E por condições eu penso, inclusive, nas condições técnicas e não mirabolantes.
Em segundo lugar, alguém que tenha condições de evitar um mal maior, um retrocesso ao autoritarismo e à estupidez arrogante e totalitária de uma ditadura. Sim, eu admito, minha escolha nesse momento perigoso, será também motivada pela preocupação com a própria democracia, que para muitos, cansados das velhas politicagens, não funciona mais.
Entendo a frustração dos que pensam assim, posto que eu mesmo sinto-me cansado e frustrado. Mas ao contrário destes, eu digo que o que nos faz mal não é a democracia, mas a falta dela. Eu digo que nunca tivemos, na História do Brasil, democracia plena, nunca tivemos uma população realmente organizada pelos seus interesses e, pior ainda , penso que a maioria do nosso povo sequer entendeu direito ainda o conceito de democracia. E o que eu quero é que entendamos e a pratiquemos de verdade. O que eu defendo é que a corrupção, a canalhice e a falta de pudor e ética na política, só vão ser minimizadas com MAIS democracia, com uma democracia REAL, AMPLA E IRRESTRITA, não com ditaduras.
Logo, não posso aceitar um candidato que já acenou com a dissolução das instituições democráticas e faz apologia ao autoritarismo. Evitar que tal candidato se torne presidente, é uma necessidade vital, e isso me força a escolher alguém que, além de representar meus interesses como cidadão, como citei acima, tenha condições de ir para um segundo turno e vencer fascistas disfarçados.
No entanto, há uma instância que realmente pode ser renovada e deve. Falo do Congresso. Nele, dentre uma gama maior de candidatos, podemos escolher novos, que estiveram fora da política ou se estiveram dentro, que tenham um histórico de honestidade e serviço. Podemos evitar velhas ratazanas no Congresso, votando maciçamente em novos.
Estamos restritos por uma estrutura política de legenda, é fato, e isso precisa mudar. E para que mude, temos que tentar eleger novos congressistas, porque os velhos não querem a mudança.
Mas, sejam eleitos ou não aqueles que eu escolherei, o trabalho da construção da verdadeira democracia não acaba aí. Ao contrário, ele apenas começa. Após as eleições, eu pretendo organizar-me com aqueles que votaram e/ou pensam parecido comigo, e COBRAR, seja pela internet, seja nas ruas, seja por outras atitudes, que os eleitos HONREM o que prometeram, não repetindo estruturas viciadas e assassinas. Essa cobrança, essa organização DEPOIS das eleições, é que é o verdadeiramente novo, e isso, isso não está nas mãos e político algum, mas nas NOSSAS, na minha e nas suas. Escolha, faça campanha, vote e depois COBRE.
Para encerrar, digo que, diante do cenário atual e dentro das condições que expus acima, voto em Ciro Gomes para presidente e Tábata Amaral para deputada federal. De resto, escolherei ainda, mas serão do mesmo partido, não porque eu esteja filiado a este ou pense que é isento de vícios, mas por saber que, se não queremos “mensalões” e “toma lá, dá cá”, precisamos de um congresso afinado com o Poder Executivo.
Sei que vou receber críticas e questionamentos de todos os lados, mas sempre fui mais fiel ao que penso e analiso do que a pressões socias.
PS: chamar alguns políticos de “ratazanas” não deixa de ser uma injustiça para com esses animais. Ratazanas só procuram sobreviver, não se candidatam a nada e não mentem. São o que são. Perdoem-me ratazanas (animais), danem-se ratazanas políticas.

presPorém, somente o voto em um ou outro não basta. Ao votar escolhemos, é claro, em cima de propostas que podem não ser cumpridas.

Bolsonaro provavelmente vai vencer Mas você vai? Por Luis Fernando Amstalden

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DF – SENADO/BOLSONARO – POLÍTICA – O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) é visto no plenário do Senado, em Brasília (DF), nesta terça-feira. 11/02/2014 – Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO CONTEÚDO


Muito bem…
É quase certo que Bolsonaro ganhará as eleições.
Eu terei perdido. Na verdade, perdi no primeiro turno, já que meu voto foi para Ciro Gomes.
Agora voto em Haddad de má vontade.
Sim, de má vontade porque responsabilizo o PT também pela eleição de um fascista.
Mesmo assim, como não voto nulo e como me recuso a votar em quem defende a ditadura, a tortura e não tem noção do que fala em economia e sociedade, para não dizer meio ambiente, votarei em Haddad e vou perder…
Mas, você que vai votar em Bolsonaro TAMBÉM vai perder…
É.. vai.
Ele não vai ser capaz de recuperar a economia. Não em um país que perde indústrias e exporta matérias primas, como no tempo do Império.
Ele não vai corrigir o monopólio de cinco bancos e os juros não vão baixar.
Se ele privatizar a Petrobrás, bem, os combustíveis seguirão os preços internacionais, como no tempo de Pedro Parente, no meio do ano, que acabou na greve dos caminhoneiros.
Ele precisará de dinheiro, e quer cortar impostos. Então privatizará e nós perderemos jazidas e lençóis de petróleo, mas o dinheiro acabará sem novas industrias ou atividades econômicas novas.
Em um mundo globalizado e com uma imensa concentração de renda, é necessário repensar a economia e a forma consumista como vivemos. E ele não o fará.
Ah, ok, Haddad talvez não fizesse. Não fizeram antes, mas eu já disse que meu voto a ele é CONTRA Bolsonaro, logo…
Você espera mais segurança?
Eu não, eu espero piora nos conflitos de rua, na criminalidade e na arbitrariedade.
Não haverá diminuição da criminalidade sem empregos e renda. E ele não trará isso.
Mais violência nas ruas por parte de policiais vai aumentar a reação do crime organizado, que, por sua vez, só pode perder sua força quando para os jovens for mais viável trabalhar do que traficar.
E os abusos policiais que ocorrerão, vão aumentar a revolta dos eu os sofrerem, gerando mais violência.
E isso tudo para não falar os s trogloditas que, sentindo-se empodeirados pelas afirmações de Bolsonaro, ficarão mais violentos nas ruas.
Sobre meio ambiente a tendência são as piores possíveis, dadas as declarações dele e de seus futuros ministros. Podemos esperar no mínimo descaso e, na pior das hipóteses, desmatamento e poluição raltíssimos. Lá se vai a riqueza ambiental e o clima.
Fim da corrupção?
Bem, o filho de Bolsonaro já disse o que pensa do poder judiciário, assim como um coronel de pijamas que ameaçou em vídeo os ministros do STE.
E foi o poder judiciários que prendeu grandes corruptos agora.
O que vai ocorrer se o mesmo for enfraquecido?
Aliás, Bolsonaro já faz aceno ao “centrão”, o núcleo de corruptos ainda em pé. E também se apoia em pastores políticos corruptos. E então a corrupção vai acabar?
É.. eu posso estar errado…
Mas, sabe?
Faz trina e seis anos que estudo a sociedade. Não leio fake News e nem tiro minhas informações do Facebook ou do Whats up.
Leio livros e artigos e economia, política, situação internacional, meio ambiente e sociologia.
E “pior” acertei todos meus prognósticos de sociedade, política e economia desde a crise de 2008.
Então, penso que tenho mais chance de estar certo do que pessoas que nunca estudaram nada disso, não leem um livro seque e tiram suas ideias de redes sociais e mensagens e vídeos no celular.
Vou torcer para estar errado…
Vou mesmo Porque se eu estiver certo, sofrerei também as consequências.
Assim como você, que votará em Bolsonaro achando que ganhou, mas na verdade vai perder…
Ah, bem, claro….
Resta a hipótese de você querer uma ditadura e querer a “eliminação” dos “vermelhos”.
Nesse caso talvez vc. venha a “ganhar”.
Porém, eu diria que, uma vez que a esmagadora maioria dos que querem isso desconhecem até mesmo o significado de política de esquerda e direita, e o significado de democracia e ditadura, então ainda há também a grande chance de perderem..

Os vencedores, os perdedores e o Natal. Por Luis Fernando Amstalden

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Há um traço cultural muito forte no capitalismo, e, em particular, no centro desse sistema, os EUA. Trata-se do conceito de que a sociedade é dividida entre vencedores e perdedores. Perdedor, “loser” é um termo muito ofensivo nos Estados Unidos, ao contrário de “winner”m vencedor.
E, claro, ser um vencedor na cultura americana e capitalista, o que torna o conceito cada vez mais globalizado, significa ter dinheiro, sucesso profissional, poder e consumo farto. Um perdedor, ao contrário não tem nada disso. Os vencedores, crê-se, são aqueles que detém características positivas, tais como inteligência, vontade de trabalhar, imaginação de empreendedor, coragem e operosidade. Os perdedores seriam perdedores exatamente por não terem nada disso.
Essa ideia é antiga, remonta, no mínimo, ao pensamento calvinista e sua interpretação do cristianismo e do capitalismo, como nos explica o sociólogo Max Weber.
Em minha análise, no entanto, a questão não é tão simples assim. Ser um “vencedor” não depende apenas de méritos próprios, mas também da sociedade em que você vive, do estrato social em que foi criado e, ainda, muitas vezes do acaso, da aleatoriedade. Alguém que nasce em um grupo social extremamente pobre material e culturalmente, terá muita dificuldade de se tornar um “vencedor”. E, da mesma forma, alguém que nasce ou desenvolva uma deficiência, uma doença, terá também muitas dificuldades para tingir o mesmo status, muito mais do que aqueles que nascem sãos e em ambientes econômicos e culturais favoráveis.
É claro que há aqueles que conseguem, e eles merecem aplausos. Mas se você analisar direito, verá que são a minoria absoluta, ao passo que aqueles que se tornaram “vencedores” vindos de condições favoráveis, são a grande maioria e, muitos ainda, sem tanto mérito.
E penso que há, ainda, dois problemas em relação a esse pensamento que constrói a ideia de vencedores e perdedores em razão de um mérito absolutamente individual. O primeiro problema é que, ao pensarmos que os pobres, os fracos e os doentes o são por falta de mérito, tornamo-los culpados de sua própria situação. E desta forma, esquecemos tanto individualmente quanto coletivamente, da compaixão, do amor pelos que sofrem. Chegamos ao ponto de “criminalizar” a pobreza, por exemplo. E isso já ocorreu e ocorre tanto em forma de preconceito quanto em forma de leis. No passado, alguém podia ser preso no Brasil por vadiagem (ainda que fosse um desempregado). E no século XIX, na Inglaterra, haviam leis que proibiam as paróquias de atenderem aos pobres, sob o pretexto de que, desta forma, eles não trabalhariam. Bem, essas leis nunca resolveram o problema da pobreza, só o pioraram.
O segundo ponto complicado no raciocínio de vencedores e perdedores, é o de que, corremos o risco de nos esquecermos que, de uma forma ou de outra, todos nós seremos ou já somos, perdedores. Você pode ter poder, dinheiro, status, mas, qual é a segurança de que isso não vai se dissolver em uma crise? Um dia, e não me tomem por pessimista, a crise virá. Seja financeira, seja nas suas relações profissionais, seja na saúde. Nesse mundo tudo é mutável, já diziam os antigos sábios. E mesmo que você. mantenha seu dinheiro e poder, as custas inclusive de ignorar o sofrimento dos que tem menos, (afinal eles seriam “culpados” por terem pouco), um dia você experimentará a doença, a velhice e finalmente a morte. Cedo ou tarde, nos experimentaremos essas situações, e, mesmo que você seja a pessoa mais rica do mundo, será, então, também um “perdedor”.
Mas você deve estar perguntando o que tem tudo isso a ver com o Natal. O que toda essa reflexão tem a ver com a festa que se aproxima.
Tem a ver com o fato de que Cristo (pelo menos o Cristo sobre quem eu aprendi nos Evangelhos e em quem eu creio) nasceu pobre, entre os pobres e com eles viveu, para eles se dedicou-se, a eles curou e a eles principalmente ensinou.
Cristo, torno a dizer, o Cristo que eu “conheço”, ensinou que a verdadeira vitória é o amor, a compaixão, a solidariedade.
Esse amor que, por mais rico que você seja, não vai poder comprar. E que um dia, quando você esteja doente e velho, rodeado de cuidadores e médicos, vai lhe faltar mais do que um remédio contra dor.
Nós, na verdade, não nos dividimos entre vencedores e perdedores. Nós precisamos uns dos outros, em todos os sentidos, e principalmente do amor uns dos outros. Isso é o que nos torna a todos vencedores. Sem isso, somos todos perdedores.
Contra toda a lógica da lei do mais forte embutida na cultura que torna o fraco um “perdedor”, quase um criminoso, Cristo e o cristianismo apresentam um caminho alternativo, um caminho que reconhece a verdade: precisamos uns dos outros e sempre precisaremos.
Não é justo que eu queira impor a minha visão do cristianismo a você.
E para falar a verdade, não o quero fazer.
Mas posso desejar e desejo, que nesta Natal, você perceba que o amor verdadeiro é a verdadeira vitória.
E que você precisa deste amor, assim como eu e todas as criaturas.
Feliz Natal e Paz na Terra às pessoas de boa vontade.
Luis Fernando Amstalden.


O pior criminoso…

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É o criminoso fardado. É aquele que se esconde por detrás de uma farda e trai a sociedade que o colocou em uma posição em que ele pode portar uma arma, usar de violência e em que deveria, em tese, defender essa mesma sociedade.
O bandido fardado tem menos honra do que um bandido assumido, que não se esconde por detrás da lei, não se vale dos meandros da burocracia e da corrupção institucionalizada para praticar seus crimes.
O bandido fardado é um verme que corrói a própria sociedade que deveria defender. É um câncer maligno que ataca as células sadias do corpo do qual faz parte. É a categoria de criminosos mais repulsiva que existe.
Mata, extorque, rouba, trafica, recebe suborno para “arredondar” delitos maiores ou menores de outros.
É um traidor que esfaqueia seu povo pelas costas e, sempre esteve organizado, seja pelas próprias relações de compadrio dentro das forças policiais, seja pela organização semiparalela que vem desde os esquadrões da morte até as modernas milícias.
E nós estamos, cada vez mais, entre essas duas forças. De um lado o crime organizado em facções e do outro os milicianos.
Queiroz, o amigo do peito e de longa data de Jair Bolsonaro, que mereceu inclusive um “empréstimo” do atual presidente, indicou a mãe e a esposa de milicianos para o gabinete de Flávio Bolsonaro.
Queiroz não sabia do envolvimento de suas indicações e amigos com as milícias? Bobagem, tenho experiência suficiente com policiais para saber que dentro da polícia sabe-se de quase tudo nos bastidores. E o mesmo vale para a política. Queiroz provavelmente sabia sim.
E Flávio Bolsonaro não sabia? Duvido muito, a meu ver, sabia sim e provavelmente cultivava relações mais estreitas com milicianos do que é tolerável para qualquer cidadão “de bem”. Aliás, no passado, já elogiou as milícias afirmando que ele próprio pagaria vinte ou quarenta reais para se ver seguro. Esqueceu-se de dizer se também pagaria por ligações clandestinas de internet, tv a cabo, água e eletricidade, além, claro, por terras e apartamentos “grilados” e mesmo por drogas.
Defendeu milícias, contratou gente ligada à elas e não sabia… Convence tanto quanto Lula à época do mensalão afirmando a mesma ignorância.
E Jair Bolsonaro, sabia? Eu aposto que sim. Ele é amigo de Queiroz há décadas e tem amplo trânsito entre policiais do RJ. Conhecendo as informações que sempre circulam entre policiais, a única forma de não saber seria sendo muito ingênuo, surdo ou burro. Bem, esse último item eu não vou comentar, mas Jair Bolsonaro não me parece ingênuo e nem surdo…
De qualquer modo, quem tem quase trinta anos de mandato pelo RJ e um discurso de matar, cercar, metralhar, parece-me que tem também muita informação e afinidade com tais grupos de vermes milicianos. Aliás, utilizar forças policiais de forma ilegal para torturar, perseguir e matar, são práticas antigas, inclusive na ditadura militar que Jair Bolsonaro defende. Na época, a Operação
Bandeirantes deu carta branca a policiais para fazerem isso e fizeram vistas grossas para suas extorsões e até tráfico de drogas pelos aliados das polícias. Afinal, “os fins justificavam os meios” para os militares e talvez ainda justifiquem para Jair Bolsonaro e filhos.
Milhões de brasileiros votaram nessa família. Votaram porque não queriam um governo de ladrões.
Posso entender esse desejo de um governo honesto. O que não posso entender é que o mesmo zelo não seja demonstrado, agora, em relação aos fatos dos últimos dias, inclusive em relação as histórias vazias dos depósitos nas contas de Flávio e ao não comparecimento de Queiroz e Bolsonaros para esclarecimentos
Alguns desses eleitores talvez tenham vergonha de seu voto. Outros eleitores, talvez fanáticos, preferem não acreditar nos fatos, mas acreditaram nas fake News, inclusive naquelas que atribuíam a Jean Willys a defesa da pedofilia, feita por alguém sem crédito intelectual e moral quanto Alexandre Frota (aliás já condenado em primeira instância por espalhar tais notícias falsa).
Porém o grupo que menos entendo, é o dos que se dizem cristãos e se calaram mesmo antes, quando Bolsonaro defendia a tortura. Não são cristãos os que agem assim. São adoradores de um outro deus, talvez Baal, que recebia sacrifícios humanos.
Na verdade, não entendo nenhum deles, porque não há escolhas entre o mal e o menos mal. Ou somos retos em tudo ou assumimos que nosso desejo de correção é relativo e nossa atitude é hipócrita.
Luis Fernando Amstalden

Sou judeu e brasileiro. E brado ao mundo: Bolsonaro e Netanyahu não me representam! Por Jean Goldenbaum

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Publicado originalmente em “Diário do Engenho”. 29/12/2018
http://diariodoengenho.com.br/sou-judeu-e-brasileiro-e-brado-ao-mundo-bolsonaro-e-netanyahu-nao-me-representam-im-jewish-and-brazilian-and-i-shout-to-the-world-bolsonaro-and-netanyahu-do-not-represent-me/
Esclarecimentos e pensamentos sobre religiões, Israel, Brasil e o neofascismo que assola o mundo no século XXI.
por Jean Goldenbaum
(*TEXT IN ENGLISH IS BELOW)
Por onde começar? Últimos dias do ano de 2018, tragédia anunciada, catástrofe prevista no Brasil. Está acontecendo. Um presidente ultra-direitista eleito, escolhido por dezenas de milhões, abertamente e sem desculpas. O circo poderia ser ainda mais horrendo do que imaginávamos? Para alguns, provou-se que sim. Para festejar a vitória do ódio e o prenúncio da opressão e da repressão, nada melhor do que a presença de outro ás da dominação, do abuso, da violência. Sob os olhos do mundo – e a vergonha alheia de muitos -, ontem (28/12) no Rio de Janeiro o novo presidente do Brasil e o primeiro ministro de Israel, que veio para a posse do primeiro, se abraçaram e festejaram entre olhares o prazer que possuem em oprimir, em subjugar, em destruir.
Sou judeu e brasileiro desde que nasci. Etnia, cidadania, identidade e identificação. Me sinto parte destes povos e destas culturas. Sou artista e pesquisador, trabalho em uma instituição judaica. E ainda que eu celebre em minha Música diversas culturas – pois amo o pluralismo -, a judaica e a brasileira possuem compreensivamente espaços especiais em minha criação. Admiro-as e as vivo. Por isto, como venho fazendo ao longo dos anos, hoje mais uma vez não tomarei postura apática ou passiva diante deste que é um dos piores momentos para os brasileiros de bem e para os judeus de bem. E quando digo ‘de bem’, trato de algo muito simples: refiro-me às pessoas que optam por respeitar o próximo independentemente de etnia, cor de pele, orientação sexual, religião, condição social e por aí adiante. Falo das pessoas que constroem ao invés de destruir, que ajudam ao invés de oprimir, que celebram todas as partes da vida ao invés de procurar decepar as partes que lhes desagradam. Falo daqueles que desprendem-se de seu egoísmo e colocam-se a favor da humanidade e do convívio tanto com o semelhante quanto com o diferente.
Serei direto e objetivo: ao meu ver, Bolsonaro é a pior coisa que já ocorreu ao Brasil e Netanyahu a pior que já ocorreu a Israel. Líderes terríveis passaram, sem dúvida, mas estes superam todos. Enquanto o primeiro é a incorporação apical da Extrema Direita, com direito a todas as suas características, o segundo é o líder que mais afastou o Oriente Médio da possibilidade da paz e que mais envergonhou os judeus com seus assentamentos na Cisjordânia e suas ações e leis plenamente racistas contra os palestinos, além de suas denúncias por corrupção.
Mas vamos ao presente ponto em si. Acredito que posso contribuir para com o conhecimento do leitor trazendo-lhe algumas realidades que possivelmente não sejam ainda de seu conhecimento. Por que Netanyahu considerou tão importante viajar ao Brasil (pela primeira vez!) e firmar sua proximidade e parceria com Bolsonaro? O que une os monstros? Além da sociopatia (ou psicopatia?) que os leva ao desejo incontrolável de dominação, podemos elencar pontos práticos. A resposta, apesar de à primeira vista parecer complexa, é, quando se entende, bastante simples: Bolsonaro, como ultra-direitista símbolo da contemporaneidade, segue à risca os parâmetros do Neofascismo do século XXI. Um destes parâmetros é a paradoxal “defesa” do Estado de Israel por parte dos ultra-direitistas. É paradoxal pois quem conhece o mínimo da história do mundo sabe que a extrema-direita sempre odiou e odiará os judeus, culminando em Hitler. Por que então os ultra-direitistas trazem hoje em seu discurso a “amizade” com os judeus? Por diversos motivos. Vamos a eles.
No país em que vivo, a Alemanha, o partido neonazista (AfD) foca seus ódio naqueles que considera seus principais inimigos no momento, os muçulmanos. Isso se dá pois a imigração de muçulmanos na Europa foi imensa nos últimos anos e deste modo a velha fórmula nazista ‘Eles destruirão nosso país e roubarão o nosso lugar!’ pôde ser novamente acionada (para mais informações sobre esta imigração, sugiro este meu artigo de 2016). Unindo isto ao fato de que, graças ao Holocausto, a opinião pública não aceitaria hoje absolutamente nenhum tipo de ataque aberto aos judeus na Alemanha, o AfD adota esta postura: pró-Israel e contra muçulmanos. Logicamente, o fato de Israel ser hoje conduzido por líderes de direita, também colabora perfeitamente com esta equação.
Nos EUA, o alucinado e megalomaníaco Trump adota a mesma postura com relação aos muçulmanos (não esquecendo, é claro, de destilar seu ódio também aos latinos, que da mesma forma constituem grande parte da população estrangeira e imigrante). Em seu caso particular, além do fator do lobbing evangélico (que veremos mais à frente), a islamofobia também se dá pelo fato de ser essencial que a Casa Branca agrade e mantenha ótimas relações com os doadores judeus norte-americanos conservadores, que fazem frente à maioria da comunidade judaica norte-americana, que é democrata.
Já no Brasil o caminho é outro, mas o resultado é o mesmo. Bolsonaro apega-se a questões que coloca como “valores familiares” (que fundamentalmente não passam de homofobia), que agradam e atrai grande parte da população evangélica do país. Sabemos que foi em grande parte graças ao seu ódio à comunidade LGBT, que ele angariou os votos da maioria absoluta dos evangélicos, algo que foi essencial para sua eleição. Embora haja no Brasil uma porcentagem pequena de muçulmanos e não haja porquê os ultra-direitistas atacá-los (ao menos por enquanto), o que conta neste caso é o fato de que é interessante à comunidade evangélica um presidente que vilanize os muçulmanos que vivem na região de Israel (incluindo Gaza e Cisjordânia). Isto se dá por motivos antes de mais nada religiosos: muitos evangélicos creem que Jesus voltará quando todos os judeus estiverem em Israel – e “aceitarem” Jesus como o messias -, ou seja, sem muçulmanos atrapalhando o caminho. Esta doutrina teológica e escatológica cristã chama-se Dispensacionalismo e permeia grande parte da comunidade evangélica brasileira e mundial. Assim, a receita foi perfeita para Bolsonaro: ele agrada seu fã/ídolo Trump, se alinha a outros movimentos ultra-direitistas europeus (diga-se de passagem, o AfD foi o único grande partido alemão a parabenizá-lo por sua vitória) e recebe apoio majoritário da comunidade evangélica brasileira.
Netanyahu, por sua vez não parece ter nada contra a comunidade LGBT e pouco se importa com a imigração muçulmana na Europa e nos EUA. Mas seu interesse é combater os muçulmanos in loco, em Israel. Assim, vem ele construindo ao longo dos anos uma política extremamente racista contra os palestinos, e destruindo todas as possibilidades de atingir-se um acordo de paz. A principal obsessão de Netanyahu em seu período de liderança tem sido a construção de assentamentos na Cisjordânia, ou seja, invasão e ocupação das terras palestinas.
A partir daqui tudo se entrelaça em perfeito sentido: Trump decide mover a embaixada norte-americana a Jerusalém, enviando um sinal muito claro aos palestinos de que ele e Netanyahu fazem o que querem e estão em integral comando. Por sua vez o presidente brasileiro, o irmãozinho, imediatamente promete copiar o Big Brother e mover a embaixada brasileira também. Une-se a tudo isto o fato de que grande parte do investimento para a construção de assentamentos israelenses em terras palestinas vem de doações de evangélicos. E assim está desenhado o romance entre ultra-direitistas e parte dos judeus.
Enquanto judeu, representante deste povo, é essencial para mim deixar claro ao caro leitor que Netanyahu não é sinônimo de judeu e nem é sinônimo de Israel. Muito pelo contrário. Israel está dividida em dois, entre seus apoiadores e a oposição, assim como também está dividido o Brasil e assim como também está dividida a comunidade judaica brasileira. O povo judeu, como qualquer povo do mundo, é formado por pessoas boas e más, conscientes e inconscientes, justas e injustas. Hoje o mundo vive um período sombrio, onde parece que os maus de fato possuem mais força do que os bons. Os atuais líderes mundiais são evidência disto e todas as negatividades que eles inspiram e legitimizam refletem na realidade de hoje. Há pouco mais de 20 anos estávamos prestes a ver a paz entre judeus e palestinos ser concretizada por Yitzhak Rabin e Yasser Arafat, até o primeiro ser brutalmente assassinado por um israelense de extrema-direita. Hoje estamos mais longe do que nunca de qualquer acordo. Há dez anos os EUA elegiam o primeiro presidente negro, e hoje faz-se necessária a existência de um movimento que “lembre” as pessoas de que vidas negras importam (‘Black Lives Matter’). O Brasil era visto no mundo como um país livre e aberto, um símbolo do pluralismo e de lindo amálgama de etnias e culturas. Hoje temos um dos mais horrendos líderes do mundo em termos de Liberdade, Tolerância e Direitos Humanos.
Mas nós não deixaremos de lutar. E não perderemos as esperanças. Trump deixará um legado terrível, mas Bernie Sanders (judeu, inclusive) está maravilhosamente revolucionando o pensamento político do mundo de um modo que a humanidade ainda não percebe, mas perceberá em algum momento. Em Israel os dias de Netanyahu chegarão ao final possivelmente em breve (ele possui diversas acusações de corrupção e há pouco convocou prematuras eleições nacionais, uma vez que não consegue governar por não ter apoio necessário do parlamento). Quanto ao Brasil confesso que é difícil hoje ser esperançoso, pois parece que o pior ainda está por vir (os prelúdios já foram terríveis – não esqueceremos de Marielle; Moa do Katendê; Reinaldo Pataxó; Celestino e Silva, líderes do MST e outros assassinados, executados). Mas permaneceremos na luta.
Antes de encerrar, penso que caiba uma breve lista de considerações finais e recados diretos:
1. Um recado dos judeus conscientes e do Bem aos ultra-direitistas: nós não aceitamos sua “amizade”, por duas razões: primeiro porque sabemos que o fascismo sempre caminha ao lado do antissemitismo. O ultra-direitista odeia o judeu da mesma forma que odeia o muçulmano, ainda que nos dias de hoje escancare o ódio a um e disfarce o ódio a outro conforme sua conveniência momentânea. E segunda razão: mesmo que vocês quisessem de fato ser nossos amigos, não aceitaríamos, pois o judeu que vive a essência do judaísmo se coloca como resistência a qualquer tipo de opressão, seja contra ele ou contra outros. (Inclusive, palmas à comunidade judaica alemã que publicou em 2018 uma carta aberta se posicionando inteiramente contra o AfD.)
2. Aos judeus brasileiros que abraçaram o fascismo: sempre houve em nossa comunidade pessoas como vocês. Vocês passarão. Ficarão na História os bons. Hannah Arendt, Walter Benjamin, Stefan Zweig, Erich Fromm, Albert Einstein, René Cassin, Bernie Sanders e muitos outros carregam consigo e em frente a Alma judaica da Democracia, do Respeito ao Próximo, dos Direitos Humanos. Os judeus amigos de Hitler (que de fato existiram) ou acabaram nas câmaras de gás, ou simplesmente terminaram suas vidas culpados e envergonhados.
3. Aos judeus brasileiros que acham que os evangélicos dispensacionalistas querem o bem dos judeus: milênios de árduo caminho não foram o suficiente para vocês aprenderem? Se continuar assim Israel será tomada por igrejas evangélicas muito antes das mesquitas que vocês tanto temem. Jeremy Ben-Ami, presidente da norte-americana J-Street, uma das principais instituições liberais pró-Israel e pró-Paz no Oriente Médio, alertou que os judeus devem “desconfiar em buscar ajuda daqueles que estão brincando com nossas vidas a fim de promover seus propósitos religiosos e ideológicos”.
4. A todos que vêem a bandeira de Israel ao lado do presidente do Brasil: compreendam por favor que em grande parte isto é ação dos evangélicos. Muitos inclusive se autointitulam judeus – vide o carnaval do “faraônico bispo” que “reconstruiu” o “templo de Salomão” em São Paulo e se veste de bíblico Aarão…
5. Muitas vezes apareceu neste texto o termo ‘evangélicos’. Deixo registrada aqui a mesma premissa que escrevi acima: em todos os povos ou grupos há pessoas boas e más. Tenho amigos evangélicos que são pessoas maravilhosas e nunca defenderiam um político que prega o ódio. Espero muito que estes evangélicos cresçam e tornem-se maioria em seu meio.
Por fim, ao concluir, só me cabe reiterar que meu intuito maior neste texto é deixar registrado de forma clara e indúbia que estes líderes não somente não me representam enquanto judeu e brasileiro, mas bem mais do que isto, são opostos a tudo o que sempre valorizei e cultivei em minha judaicidade e minha brasilidade. Escrevo em pessoa singular, porque só posso falar por mim mesmo. Mas sei que esta primeira pessoa é plural. Há dezenas de milhões de brasileiros e milhões de judeus navegando este mesmo barco. E estamos unidos. Somos a Resistência, somos a voz do Amor contra o Ódio e não deixaremos de nos manifestar enquanto houver um único índio, quilombola, LGBT, pobre, refugiado ou palestino sendo oprimido. Aos do nosso lado, envio aquele abraço brasileiro e o judaico eterno Shalom.
Dr. Jean Goldenbaum é compositor e musicólogo, professor do Centro Europeu de Música Judaica da Universidade de Música, Teatro e Mídia de Hannover, Alemanha. Ativista social, faz parte do grupo ‘Resistência Democrática Judaica’ e é um dos membros fundadores do ‘Observatório Judaico de Direitos Humanos’. http://www.jeangoldenbaum.com
***
I’m Jewish and Brazilian. And I shout to the world: Bolsonaro and Netanyahu do not represent me!
Clarifications and thoughts on religions, Israel, Brazil and the neofascism that plagues the world in the 21st century.
by Jean Goldenbaum
Where to start? Lasts days of the year of 2018, tragedy announced, planned catastrophe in Brazil. It’s happening. An elected far-right president, chosen by tens of millions, openly and without apology. Could the circus be even more horrendous than we imagined? For some, it was proved that yes. In order to celebrate the victory of hatred and the harbinger of oppression and repression, there is nothing better than the presence of another ace of domination, abuse, and violence. Under the eyes of the world – and the shame of others -, yesterday (Dec. 28th) in Rio de Janeiro the new President of Brazil and the Prime Minister of Israel, who came to the presidential inauguration, hugged each other and gazed at each other’s pleasure at oppressing, subjugating, and destroying.
I have been a Jew and a Brazilian since I was born. Ethnicity, citizenship, identity and identification. I feel part of these people and these cultures. I am an artist and a researcher, I work in a Jewish institution. And although I celebrate in my Music diverse cultures – because I love pluralism -, the Jewish and Brazilian ones have comprehensively special spaces in my creation. I admire them and live them. Therefore, as I have been doing over the years, today I will not take an apathetic or passive attitude towards this, which is one of the worst moments for the good Brazilians and for the good Jews. And when I say ‘good’, I mean something very simple: I mean people who choose to respect their neighbor regardless of ethnicity, skin color, sexual orientation, religion, social status and so on. I speak of people who build rather than destroy, who help rather than oppress, who celebrate all parts of life rather than seek to cut off the parts they dislike. I speak of those who free themselves from their selfishness and put themselves in favor of humanity and the conviviality with both the same and the different.
I will be direct and objective: in my opinion, Bolsonaro is the worst thing that has ever happened to Brazil and Netanyahu the worst that has ever happened to Israel. Horrible leaders have undoubtedly passed, but these surpass all. While the first is the utmost incorporation of Neofascism, entitled to all its characteristics, the second is the leader who further distanced the Middle East from the possibility of peace and who most shamed the Jews with his settlements in the West Bank and his fully racist laws and actions against the Palestinians, in addition to his accusations of corruption.
But let us go to the present point in itself. I believe I can contribute to the reader’s knowledge by bringing you some realities that may not yet be of your knowledge. Why did Netanyahu consider it so important to travel to Brazil (for the first time!) And establish his closeness and partnership with Bolsonaro? What unites the monsters? Besides sociopathy (or psychopathy?) that leads to the uncontrollable desire for domination, we can list practical points. The answer, although at first glance complex, is quite simple: Bolsonaro, as a far-right symbol of contemporaneity, follows the parameters of 21st-century Neofascism to the letter. One of these parameters is the paradoxical “defense” of the State of Israel by the far-right people. It is paradoxical because anyone who knows the minimum of world history knows that the far-right has always hated and will hate the Jews, culminating in Hitler. Why then do the far-right people bring “friendship” with the Jews into their speech? For various reasons. Let’s go to them.
In the country where I live, Germany, the neo-Nazi party (AfD) focuses its hatred on those it regards as its main enemies at the moment, the Muslims. This is because the immigration of Muslims in Europe has been immense in recent years and thus the old Nazi formula ‘They will destroy our country and steal our place!’ could be triggered again (for more information on this immigration, I suggest this 2016 article of mine). Combining this with the fact that, thanks to the Holocaust, public opinion today would not accept absolutely any type of open attack against Jews in Germany, AfD adopts this position: pro-Israel and against Muslims. Of course, the fact that Israel is now led by right-wing leaders also works perfectly with this equation.
In the United States, the lunatic and megalomaniacal Trump adopts the same stance toward Muslims (not forgetting, of course, to distill his hatred also at Latinos, who likewise constitute a large part of the foreign and immigrant population). In its particular case, besides the factor of evangelical lobbying (which we will see later in this article), Islamophobia also occurs because it is essential that the White House pleases and maintains good relations with the conservative American Jewish donors, who oppose the majority of the American Jewish community, which is Democrat.
In Brazil the path is different, but the result is the same. Bolsonaro clings to questions that he puts as “family values” (which are fundamentally homophobic), which appeal to and attract much of the country’s evangelical population. We know that it was largely thanks to his hatred of the LGBT community that he garnered the votes of the absolute majority of evangelicals, something that was essential to his election. Although there is a small percentage of Muslims in Brazil and there is no reason why the far-right people attack them (at least for now), what counts in this case is the fact that it is interesting to the evangelical community a president who vilifies the Muslims who live in the region of Israel (including Gaza and the West Bank). This is because of religious reasons: many evangelicals believe that Jesus will return when all the Jews are in Israel – and “accept” Jesus as the messiah – that is, without Muslims hindering the way. This Christian theological and eschatological doctrine is called Dispensationalism and permeates much of the Brazilian and world evangelical community. Thus, the recipe was perfect for Bolsonaro: he pleases his fan/idol Trump, aligns himself with other European far-right movements (by the way, AfD was the only major German party to congratulate him on his victory) and receives majoritarian support of the Brazilian evangelical community.
Netanyahu, on the other hand, does not seem to have anything against the LGBT community and cares little for Muslim immigration in Europe and the US. But his interest is to fight Muslims in loco, in Israel. Thus, he has been building over the years an extremely racist policy against the Palestinians, and destroying all possibilities of reaching a peace agreement. Netanyahu’s main obsession in his leadership has been the establishment of settlements in the West Bank, that is, invasion and occupation of Palestinian lands.
From here everything intertwines in perfect sense: Trump decides to move the US embassy to Jerusalem, sending a very clear message to the Palestinians that he and Netanyahu do what they want and are in full command. In his turn, the Brazilian president, the little brother, immediately promises to copy Big Brother and move the Brazilian embassy as well. Added to all this is the fact that much of the investment for the construction of Israeli settlements on Palestinian lands comes from donations from evangelicals. And so the novel is drawn between far-right people and part of the Jews.
As a Jew, representative of this people, it is essential for me to make clear to the dear reader that Netanyahu is not synonymous with Jew and nor synonymous with Israel. Quite the opposite. Israel is divided in two, between his supporters and the opposition, just as Brazil is divided and just the Brazilian Jewish community is divided. The Jewish people, like any other people in the world, are made up of good and bad people, conscious and unconscious, just and unjust. Today the world lives in a dark period, where it seems that the bad ones do indeed have more strength than the good ones. The current world leaders are evidence of this and all the negativities they inspire and legitimize reflect in today’s reality. Just over 20 years ago we were about to see peace between Jews and Palestinians be realized by Yitzhak Rabin and Yasser Arafat, until the first being brutally murdered by a far-right Israeli. Today we are farther than ever from any agreement. Ten years ago the US elected the first black president, and today there is a need for a movement that “reminds” people that Black Lives Matter’. Brazil was seen in the world as a free and open country, a symbol of pluralism and a beautiful amalgam of ethnicities and cultures. Today we have one of the most horrendous leaders in the world in terms of Freedom, Tolerance and Human Rights.
But we will not stop fighting. And we will not lose hope. Trump will leave a terrible legacy, but Bernie Sanders (Jew, by the way) is marvelously revolutionizing the political thought of the world in a way that humanity still does not realize, but will realize at some moment. In Israel the days of Netanyahu will reach the end possibly soon (he has several counts of corruption and has just called early national elections, since he can not run the country without necessary support on the parliament). As for Brazil, I confess that it is difficult to be hopeful today because it seems that the worst is yet to come (the preludes have already been terrible – we will not forget Marielle, Moa do Katendê, Reinaldo Pataxó, Celestino e Silva, MST leaders and others murdered, executed). But we will remain in the fight.
Before closing, I think it fits here a short list of final considerations and direct messages:
1. A Message from conscious and good Jews to the far-right people: we do not accept your “friendship” for two reasons: firstly because we know that fascism always walks alongside anti-Semitism. The far-right hates the Jew in the same way that he hates the Muslim, even though in the present day he opens widely hatred to one and disguise hatred to the other according to his momentary convienience. And second reason: even if you really wanted to be our friends, we would not accept it, for the Jew who lives the essence of Judaism stands as a resistance to any kind of oppression, whether against him or against others. (In passing: kudos to the German Jewish community that published in 2018 an open letter positioning itself entirely against AfD.)
2. To the Brazilian Jews who embraced fascism: there have always been people like you in our community. You will pass. The good ones will be in History. Hannah Arendt, Walter Benjamin, Stefan Zweig, Erich Fromm, Albert Einstein, Rene Cassin, Bernie Sanders and many others carry the Jewish Soul of Democracy, Respect for the Next, and Human Rights. Hitler’s Jewish friends (who actually existed) either ended up in the gas chambers, or simply ended their lives guilty and ashamed.
3. To Brazilian Jews who think that dispensational evangelicals want the good for the Jews: did millennia of arduous path have not been enough for you to learn? If things continue like this, Israel will be seized by evangelical churches long before the mosques that you fear so much. Jeremy Ben-Ami, president of North American J-Street, one of the leading liberal pro-Israel and pro-Peace in the Middle East institutions, warned that Jews should “distrust seeking help from those who are playing with our lives in order to promote their religious and ideological purposes”.
4. To all who see the flag of Israel next to the president of Brazil: please understand that to a great extent this is the action of evangelicals. Many even call themselves Jews – see the carnival of the “pharaonic bishop” who “rebuilt” the “temple of Solomon” in Sao Paulo and dresses as biblical Aaron…
5. The term ‘evangelicals’ has often appeared in this text. I write here the same premise I wrote above: in all peoples or groups there are good and bad people. I have evangelical friends who are wonderful people and would never defend a politician who preaches hatred. I very much hope that these evangelicals will grow and become a majority in their midst.
Finally, in conclusion, I can only reiterate that my main purpose in this text is to clearly and indubitably record that these leaders not only do not represent me as a Jew and a Brazilian, but much more than that, they are opposed to everything that I have always valued and cultivated in my Judaism and my Brazilianness. I write in first person singular, for I can only speak for myself. But I know this first person is plural. There are tens of millions of Brazilians and millions of Jews sailing this same boat. And we are united. We are the Resistance, we are the voice of Love against Hate and we will not fail to manifest as long as there is a single Indian, quilombola (descendants of slaves), LGBT, poor, refugee or Palestinian being oppressed. To those on our side, I send that Brazilian hug and the eternal Jewish Shalom.
Dr. Jean Goldenbaum is a composer and musicologist, professor at the European Center for Jewish Music at the University of Music, Theater and Media in Hannover, Germany. Social activist, he is a member of the ‘Jewish Democratic Resistance’ group and is one of the founding members of the ‘Jewish Observatory of Human Rights’. http://www.jeangoldenbaum.com
Imagem/Image: ‘Laboratoire infernal’ – Lithograph by B. Williams, c. 1833

Pimentel, Bolsonaro e Brumadinho. Por Luis Fernando Amstalden

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Em 5/11/2015, a barragem de Fundão em MG rompeu-se causando a perda de 19 vidas humanas e um prejuízo ambiental difícil ou talvez impossível de se quantificar. Vale dizer que tal prejuízo ambiental reverte-se, também, em mais mortes ao longo dos anos, por vias indiretas.
Agora, outro rompimento, desta vez na barragem de Brumadinho, causou pelo menos 60 mortos e quase 292 desaparecidos (contagem atual do momento em que escrevo) e outra vez grandes prejuízos ambientais incalculáveis.
De quem é a responsabilidade? Em primeiro lugar é da Cia Vale do Rio Doce, é claro, uma vez que ela assumiu uma atividade econômica de riscos que deveria monitorar, prever e sobre os quais deve ser responsabilizada.
Mas em segundo, é de Fernando Pimentel, ex-governador de MG pelo PT. Sim, foi sob a gestão dele que ocorreu o rompimento de Fundão. Claro, devemos nos lembrar de que foi no primeiro ano de seu mandato, quando licenças ambientais já haviam sido concedidas. Mas, mesmo assim, era o gestor durante o período e deveria ter sido mais rígido na fiscalização.
Para sermos justos, temos que nos lembrar também de Dilma Roussef, que ocupava a previdência e cujo IBAMA estava sob sua responsabilidade durante o acidente de Fundão.
Já em relação a Brumadinho, a primeira responsabilidade é de Pimentel também. Ocorre que foi ainda durante a sua gestão que seu secretário de meio ambiente, Germano Vieira, rebaixou o potencial de risco da barragem que agora rompeu, facilitando a sua liberação do funcionamento. Oras, Pimentel deve ter sabido e aprovado, se não ter aprovado a medida. Logo, temos mais alguém a responsabilizar, o secretário Germano Vieira…
Mas, e Bolsonaro? Ele tem alguma responsabilidade sobre o evento?
Sejamos justos. Não tem.
Ele não estava no poder durante o rebaixamento da classificação de risco da barragem e o IBAMA e a segurança física e ambiental de milhões de brasileiros, ainda não era sua responsabilidade.
E aí vem o problema. Agora é!
E durante sua campanha, Bolsonaro fez duras críticas aos ambientalistas. Afirmou que ia acabar com a “indústria” de multas do IBAMA e de quebra, criticou as reservas ambientais. Teve apoio dos ruralistas que derrubam matas para plantar soja e criar bois, sem gerar empregos ou renda social equivalente ao prejuízo ambiental, foi apoiado por mineradoras, inclusive uma que foi punida por coagir funcionários a votarem em Bolsonaro. Quem puniu a FLAPA mineração e incorporação, aliás, foi o TRT, o Tribunal do Trabalho, que Bolsonaro quer extinguir…
Mas não para por aí.
Bolsonaro nomeou para o Ministério do Meio Ambiente, o ex-secretário do Meio Ambiente de São Paulo, Ricardo Salles, do então governo de Geraldo Alckmin, que responde inquéritos ambientais por liberar manejo inadequado de áreas de proteção ambiental.
Poderia ter parado aí, mas infelizmente não para. Ocorre que o único secretário do governo de Pimentel que foi MANTIDO no novo governo, de Romeu Zema, do Partido Novo.
Ou seja, está tudo bem interligado.
Pimentel fez opção por menos segurança e mais renda pra o Estado. Zema manteve o antigo secretário que executou essa opção e Bolsonaro, pelo menos em seu discurso até agora, que já lhe valeu inclusive ameaças de não colaboração econômica por parte do presidente da
França e pela premiê da Alemanha, também menospreza a segurança ambiental em uma escala que inclui e vai além das mineradoras.
Aliás, vale lembrar que a sua primeira declaração, para uma rádio de Brumadnho, por telefone, foi a de que o acidente “não era problema do Governo Federal, mas primeiro da empresa”.
No pano de fundo de tudo isso, das ações de Pimentel, das atitudes de Germano, dos discursos e falas de Bolsonaro e da nomeação de Salles, temos o mesmo pano de fundo: retirada do controle do Estado sobre atividades econômicas e ambientais e liberdade para as empresas atuarem e se “auto fiscalizarem”.
Essa é a prática neoliberal que esteve na atitude de Pimentel, que está nas propostas do NOVO e de Bolsonaro, travestidas com termos eufemísticos como “liberalização”, “flexibilização”, “desburocratização” e “competitividade internacional”.
É… vamos liberalizar e flexibilizar para competir com a China e com os EUA de Trump que já atua assim, liberando queima de carvão e desmontando agências de proteção ambiental.
Só que devemos nos lembrar que ninguém é bom fiscal de si mesmo. E empresas estão necessariamente mais preocupadas com o lucro do que com custos de segurança. Logo, não se pode prescindir de uma fiscalização rígida estatal. Mesmo assim, o discurso liberal é de retirar o Estado da economia.
É, isso será feito em nome do crescimento econômico e do “emprego” e da “renda”.
Mas essa “renda” e esse “emprego” não serão grandes. Máquinas fazem e farão mais e mais o trabalho e os empregos diminuem, assim como a renda. A crise não passará por essas medidas. Passará através da reflexão humilde e democrática, racional, de todos nós sobre um conceito ainda em construção, o do Desenvolvimento Sustentável, o que inclui, claro, buscar formas de criar empregos e renda JUNTO cm a preservação ambiental. Impossível? Não, acho que é difícil, mas não impossível. É necessário e ponto.
Ao escrever, posso antever as críticas ao artigo, tanto dos petistas quanto dos bolsonaristas.
Os primeiros dirão que estou alimentando o fascismo com minhas críticas à Pimentel. Os segundos que eu estou sendo “esquerdista e parcial” contra Bolsonaro.
Refuto e refutarei ambas.
Meu compromisso é com uma análise racional que busca a verdade.
E digo a você, que é petista, que tenha a coragem de escrever ao partido e fazer as críticas pertinentes à Pimentel. A você que votou no NOVO, que faça o mesmo e escreva tanto ao partido quanto a Zema.
E a você que é partidário de Bolsonaro, que escreva mails para o Planalto cobrando uma postura rígida em temos da tragédia ocorrida e de futuras devastações e desastres.
Faça isso. Acredite em VOCÊ como cidadão ou cidadã e não em partidos e políticos.
A democracia não acaba no momento do voto. Ela só começa lá. Deve ser exercida durante os governos, sejam eles os que você escolheu ou não. Afinal é o seu futuro e dos seus filhos e netos que está em jogo.
Pense um pouco sobre tudo isso e tome uma atitude.
A não ser que você esteja mais preocupado em defender um ou outro político do que com sua própria autonomia de pensamento e com sua vida…

A Vale está em todos nós Brumadinho e a insustentabilidade do mundo em que vivemos. Por Daniel de Mattos Höfling

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A tragédia de Brumadinho, assim como a de Mariana e tantas outras, foi um crime e não um desastre ambiental. Como parte considerável dos crimes, foi calculado. Este cálculo mina gradativamente o futuro da civilização humana. Consubstanciado no elevado número de mortos (84) e desaparecidos (276) Brumadinho transmite relativo ar de excepcionalidade, como um episódio macabro que marca determinado momento de nossas vidas. Entretanto, não o é. Pertence à normalidade cotidiana que, de tão presente, torna-se imperceptível.
O que move nossa sociedade é, antes de tudo, o cálculo monetário. O custo-benefício. Diariamente todos os seres humanos da terra se questionam: “Será que Vale o quanto custa? Será que Vale a pena gastar com isso? Quanto Vale isso? Vale investir nisso?” Todas essas perguntas, bem como suas respostas, são mensuradas por uma única variável: o dinheiro. Sobre esse atributo são tomadas a quase totalidade das decisões humanas numa sociedade capitalista. O dinheiro é o Valor máximo numa organização social fundamentada na sua suposta escassez. Reside aqui a quase totalidade dos nossos males.
Tanto no nível micro quanto macro, individual ou coletivo, privado ou público, avaliações relacionadas à saúde, à educação e ao meio ambiente são constantemente mensuradas pelo dinheiro. “Cortaremos gastos com saúde para atingirmos o equilíbrio fiscal”. “Invista no curso que mudará sua vida”. “Estude e se dê bem”. “Utilize o agrotóxico que duplicará sua produção e rentabilidade”. “Casou bem”. Todas essas frases colocam o dinheiro acima de qualquer coisa, tornando-o objetivo e base do relacionamento e da sociabilidade entre todos os indivíduos. Interagimos mediante o dinheiro. É o objetivo supremo das nossas ações. É a razão das nossas atitudes. É o Valor primeiro do nosso cotidiano. É o substrato da sociedade capitalista.
Os indivíduos nessa sociedade dormem e acordam pensando em como ganharão mais dinheiro. Bolam estratégias, falas, comportamentos e atitudes que os levem ao sucesso, ou seja, ganhar dinheiro. Apoiados na inocente ideia de meritocracia, realmente acreditam que o dinheiro é o prêmio justo e adequado àqueles mais esforçados. Realmente acreditam que o mundo é composto por perdedores e vencedores. Que uns têm pouco porque não merecem, outros têm muito porque mereceram. É assim que deve ser. Criamos nossos filhos para serem vencedores; investimos em colégios caros e cursos de inglês não na esperança de torná-los mais humanos e preocupados com o mundo ao seu redor mas sim porque terão mais ferramentas para se destacar no mercado de trabalho esmagando seus competidores e recebendo seu merecido prêmio em dinheiro. Forjamos amizades com o intuito de ampliar nossas redes de contato e facilitar nossos negócios. Praticamos relacionamentos interessados buscando incessantemente o dinheiro. O livro mais vendido no mundo desde os anos 1940 é: “Como fazer amigos e influenciar pessoas”, de Dale Cornegie. Nossa sociedade move-se por esses Valores. Acreditamos neles; a Vale também. Não é só um Valor da Vale; é nosso também.
Como o critério de mensuração é o monetário, todas as demais questões ficam em segundo plano. Ética, sustentabilidade e amor ao próximo são Valores ressaltados apenas quando melhoram a imagem e portanto conferem ganhos. Não são prioritários. O dinheiro é primaz; é o nosso principal Valor. O crime de Brumadinho está nisso assentado. A Vale calculou: “Gastarei menos na barragem. Caso o fiscal perceba, o suborno. Se estourar, pago a multa ou compro o juiz. O que economizarei na barragem compensa o gasto que terei num eventual rompimento. Vale a pena”. Infelizmente, foi “apenas” um cálculo monetário. Da mesma natureza que fazemos todos os dias, colocando o dinheiro no centro das nossas vidas e acima de tudo.
Tais cálculos monetários derivam da fixação pelo dinheiro e subsistem nas raízes dos principais problemas enfrentados pela humanidade, tornando sua civilização insustentável. Afinal o que é a desigualdade, a pobreza e o aquecimento global senão manifestações da primazia do dinheiro sobre qualquer outro Valor? Reclamamos diariamente da corrupção e da ganância mas não percebemos que tais “Valores” estão em nós impregnados. Enquanto o amor ao dinheiro for o que nos move todos os dias, não temos moral para criticar a Vale. Numa escala menor praticamos diariamente o modo Vale de agir. A Vale está em nós e isso torna o mundo impraticável.

Daniel de Mattos Höfling
Doutor em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp. Professor da Facamp
(texto de 29 de janeiro de 2019)

A pequena que provoca medo. Os ataques contra Tábata Amaral

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Deputada Tábata Amaral. Fonte Internet


Tomei conhecimento da trajetória de Tábata Amaral pela internet, bem antes das eleições, e gostei. Durante a campanha eleitoral tive a oportunidade de conhecê-la pessoalmente. E questioná-la sobre suas posições e intenções, tendo, inclusive, pedido para um amigo que adotasse propositadamente um discurso agressivo, para ver como ela se sairia. Saiu-se muito bem. Tão bem que decidi não somente votar nela, mas prestar-lhe meu apoio público.
Talvez você ache que pedir para um amigo ser agressivo com ela tenha sido deselegante e desnecessário. Mas eu pensei que, tendo em vista para onde ela iria, se eleita, o Congresso Nacional, seria melhor saber como ela se comportaria sob pressão e sob falas agressivas.
Como eu disse, ela saiu-se bem e eu, por minha vez, penso que estava certo naquele “teste”. Eu imaginei que ela incomodaria muita gente e seria alvo de muitos ataques, inclusive agressivos e deselegantes. Eu queria não só ver como ela reagiria, mas também, depois, conversar sobre esse tema com ela, o que fizemos.
Ambas as coisas, o incômodo e os ataques, ocorreram antes mesmo dela ser empossada. No dia 30 de janeiro, Tábata foi com um agente da Câmara dos Deputados ocupar um apartamento funcional que lhe havia sido designado. Um apartamento que lhe é garantido por lei e não é um privilégio, posto que Tábata é de origem humilde e não dispõe de fundos, no momento, para se manter em Brasília, uma cidade cara. Aliás, penso que objetivo dos apartamentos funcionais é exatamente esse, o de garantir aos congressistas pobres condições de residir em Brasília. É algo que visa garantir a democracia, caso contrário, só os ricos seriam congressistas. Existem abusos, claro, mas penso que não é o caso dela.
Ao chegar ao imóvel, Tábata e o funcionário da Câmara o encontraram ocupado pelo filho do deputado Hildo Rocha (MDB-MA). O deputado, por sua vez, ocupava outro imóvel funcional, numa clara irregularidade, onerando o erário público. Pior, deixou seu filho em um dos apartamentos, configurando um provável caso de privilégio escuso.
O deputado Hildo defendeu-se, alegando que o imóvel onde estava seu filho apresentava avarias e, por isso, solicitou outro, que teria sido concedido pela Câmara. Mas, se é o caso, por que o filho dele habitava um imóvel em más condições? Seu filho é pedreiro e fazia reparos? Se é, e fazia tal serviço, então foi algo louvável e altruísta, que poupou recursos públicos, mas se não é e não fazia, então estava lesando a todos nós contribuintes.
O deputado ainda reclamou que Tábata foi aos jornais por algo muito pequeno. Bem, ela não foi aos jornais, mas comentou a situação nas redes sociais. Os jornais foram a ela. Por outro lado, não é “algo pequeno”. É um dos muitos atos de apropriação do que é público pelo interesse privado que temos no Brasil e em Brasília. É a cultura do privilégio que se manifesta em todas as esferas da política nacional. Apartamento por apartamento, há um ex-presidente preso por um imóvel no qual nunca residiu. Se a lei é tão rigorosa com uns, deveria ser também com outros.
Mas, geralmente, entre os políticos tradicionais a lei não é tão rígida. Em circunstâncias “normais”, provavelmente isso seria “resolvido” na surdina, no compadrio. Outro deputado na mesma situação de Tábata talvez se calasse, fosse levado para outro imóvel e tudo ficaria “entre colegas”. Mas Tábata falou e rompeu o “corporativismo”. Tábata incomodou, como eu esperava que fizesse.
O outro ataque foi mais “interessante”. Três membros do MBL, Renan dos Santos, Arthur Del Vall (agora deputado estadual por SP, pelo partido DEM) e Kim Kataguiri (agora deputado federal pelo mesmo DEM), atacaram Tábata por reivindicar o apartamento, afirmando que isso seria um privilégio que ela deveria combater, já que ela elegeu-se com propostas de uma política mais ética. Kim Kataguiri, de fato, abriu mão de seu imóvel funcional e alugou uma casa com seus assessores, o que foi amplamente festejado por seus seguidores e eleitores, além da imprensa.
O que chama a atenção, porém, é o fato destes três não terem feito críticas a Hildo, que realmente estava mantendo uma política de privilégios. Também chama a atenção o fato de que Jair Bolsonaro, presidente que eles ajudaram a eleger, já se beneficiou de ajuda de custo para moradia tendo um apartamento em Brasília, mas nunca foi alvo de críticas por esse fato pelos três citados.
Por que tal parcialidade? O que eles sabem da situação econômica da deputada e da sua família para alegar que ela deveria custear sua moradia por conta própria? Será que é exatamente o fato de alguém precisar destes imóveis, por vir de uma família humilde, que os incomoda?
Mas, falemos de inovação e economia. Tábata e seus colegas do movimento “Acredito”, o senador recém-eleito por Sergipe, Alessandro Vieira e o deputado recém-eleito pelo Espírito Santo, Felipe Rigoni, decidiram fazer um gabinete compartilhado, criando uma estrutura enxuta. Melhor ainda, tal gabinete teve seus assessores escolhidos por concurso público, eliminando a velha prática de contratar-se apadrinhados, amigos e parentes. Com o gabinete compartilhado, o compadrio dá lugar à competência e, ainda mais, calcula-se que haverá uma economia de 20% nos custos de assessores. Para ter-se uma ideia de quanto isso significa, a verba destinada a tal propósito é de R$ 111.675,59 ao mês por deputado. Considerando-se somente os dois deputados, isso significa uma economia de R$ 580.713,00 anuais. Confesso que não pesquisei a verba dos senadores, mas certamente é maior e, portanto, a economia também é maior.
Os “Catões” do MBL estão economizando quanto com o fato de Kataguiri alugar um imóvel com seus assessores? Aliás, tais assessores foram contratados como? E quanto ao Sr. Arthur, “mamãe não falou” quanto ele está economizando. Uma coisa é certa, o custo de um apartamento funcional não deve exceder o valor economizado ao mês por cada um dos deputados do movimento “Acredito”.
Se Tábata está economizando tanto com seus colegas, por que os ataques?
Penso que é porque os “meninos prodígio” do MBL tem medo de Tábata…

Têm medo porque, até onde eu consegui pesquisar, não existem processos cíveis, trabalhistas e até criminais contra ela, o que não é o caso de alguns deles.
Têm medo porque Tábata e o movimento a que ela pertence, o “Acredito”, não se valeram de “fake news” para sua campanha, como foi o caso do MBL, que teve 196 grupos e comunidades banidos de uma rede social por difundirem mentiras, nas quais muita gente acreditou.
Têm medo porque a nova deputada não se fez fotografar ao lado de celebridades para depois colocar a foto nas redes sociais, dizendo que tais celebridades apoiavam suas causas – como fez Kataguiri com Ney Matogrosso em 2015. Medo porque ela buscou a racionalidade e a verdade na sua campanha e nas suas propostas, ao contrário deles que utilizaram qualquer discurso possível, independente da verdade, com o tom de zombaria próprio de alunos que cometem assédio contra outros.
Medo porque Tábata não fugiu à luta e, vinda da pobreza e da periferia, estudou, ganhou prêmios, bolsas de estudo, aprendeu com seus professores e chegou a uma das mais prestigiadas universidades do mundo, ao contrário de Kataguiri que, arrogantemente, declarou saber mais do que os seus professores ainda no primeiro ano de faculdade.
Finalmente e contraditoriamente, eles têm medo de Tábata porque ela tem MÉRITO, e cresceu por conta própria, sem patrocínio de partidos e empresas que “pagaram o pato ou os patos da paulista” e sabe-se lá mais o que. Contraditório esse medo, porque eles falam em meritocracia, mas não a reconhecem nem a respeitam quando a vêem. Aliás, corrijo-me, reconhecem e temem, porque sabem que eles não têm tal mérito e que um dia isso vai ficar claro e a imagem de cada um, construída a custas de histeria, irá por água abaixo.
Tábata é pequena em estatura, mas grande em capacidade e mérito. Ela vai crescer mais, ao contrário de políticos velhos e novos que permanecerão nanicos em ambas as coisas.
Ela é a “pequena que provoca medo” em quem não se prima pela ética que diz defender e não quer de fato uma sociedade justa.
E é por isso que ela teve o meu voto, meu apoio e tem minha defesa.
Prof. Dr. Luis Fernando Amstalden
PS: Kataguiri foi apontado pela revista Forbes como um das personalidades, com menos a 30 anos, mais influentes do Brasil. Para mim isso não significa nada. A revista em sim não representa meus valores e, no passado, outras pessoas foram muito influentes, tais como Hitler, Stálin, Mao, etc.

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